01 – A Mulher e a Liberdade

Disse um grande pensador que “os homens fazem a lei, e as mulheres os costumes”. Na simplicidade desta frase, o esplendor de uma verdade, embora de ação velada no tempo.

Não podemos negar ao homem a curta visão deste fato, porque desde as sociedades tribais, a mulher foi considerada como sexo frágil e de mentalidade inferior. Devemos ponderar, todavia, que um e outro se situam na mesma faixa evolutiva no tempo e no espaço.

Para os não evolucionistas a mulher sempre foi e será mulher. Para os que aceitam a evolução e, mormente, os que a entendem pelas vias reencarnatórias, o espírito pode ser mulher numa encarnação e homem noutra. Isto traz outro conceito sobre a mulher quanto à inteligência e demais predicativos, cuja diferença se resume apenas no sexo.

Ao estabelecermos relação entre a sociedade de séculos atrás e a presente, encontramos, embora em número menor, o endosso à nossa afirmativa nos exemplos vividos pela mulher, quer quanto à inteligência, quer quanto a bravura.

Vemos, portanto, que o igualar-se não está na dependência exclusiva do homem, mas na ação inteligente e corajosa da própria mulher. Na época atual, a qualquer mulher que se disponha a igualar-se ao homem, não são negados meios e possibilidades que poderão levá-la até a culminância.

Uma ação inteligente só poderá ser pela cultura alimentada pela idéia de capacitar-se aos labores do outro sexo e pela coragem de assumir os encargos que lhe cumpre. Sendo o espírito da mulher igual ao do homem e estando no mesmo estágio evolutivo, desaparece a diferença quanto às possibilidades. Cabe à própria mulher assim entender e libertar-se do estigma de inferioridade que a força bruta do homem lhe impôs, o que só será possível quando libertar-se de si mesma.

Libertar-se de si mesma, entenda-se: do complexo, do estigma, da psicose auto-escravizante. Todo escravo odeia seu dono, e não tem sido outro o resultado da psicose alimentada pelo complexo.

A mulher não quer libertar-se no sentido lato do termo, mas vingar-se do homem, tentando superá-lo, o que dá margem às associações do gênero feminista, exteriorizando-se de forma irreverente à sociedade, ao homem e humilhante a si mesma, estabelecendo um clima separatista e antagônico, em que a inteligência não prepondera.

A mulher que deseja realmente libertar-se parte de um princípio racional seguindo a mesma rota do sexo oposto em labores cooperantes, construtivos, desde o mais humilde até o mais intelectualizado, ombreando-se sem idéia de superação. A atitude inteligente de não superar o homem demonstra bem que sabe o valor de ser mulher como mulher, de que não abdica, descendo do pedestal físico e moral que lhe é destinado na sociedade como esposa, como mãe e como educadora do homem por excelência.

A mulher deseja liberdade. Qual delas? A de “ter”? A de “estar”? Estas realmente podem ser conquistadas com motins de rua e pelas armas. Mas a verdadeira liberdade da mulher não é essa que ela busca iludida e de forma errada, mas a de “ser”. Esta liberdade não se conquista com futilidades exteriores, nem depende de aglomerações inconscientes e expositivas, mas elabora-se pela inteligência, cultura, coragem e moralização, na “constante” mulher. Esta liberdade é conquista pessoal, aflorada dos valores intro-componentes do espírito, encarnado e eventualmente no “sexo frágil”.

É fácil compreender que as duas liberdades primárias – ter e estar – se referem ao substantivo e a verdadeira, a de ser, se refere ao adjetivo mulher. Se esta primasse pelo adjetivo, as liberdades de “ter” e “estar” seriam consequências naturais no transitório social.

Ser pela inteligência, ser pelo sexo, ser pela ascendência moral que exerce sobre o homem, o que ninguém pode negar.

Ser pela inteligência é ombrear-se em cultura, em personalidade moral e em labores. Ser pela ascendência é entender-se companheira, amiga, noventa por cento mãe, e dez por cento esposa e mulher.

Ser pelo sexo, é prestar-se ao ato equilibrador endócrino e à seriedade da missão de continuidade da espécie.

A verdadeira missão de mãe coloca a mulher como único elo concreto entre o Criador e a Criatura. É expressão de Deus no fato.

Toda mulher que se liberta pelo processo de auto levantamento, e que, embora militante em misteres iguais aos do homem – mas pelo respeito à si mesma que a personalidade provinda de princípios formativos impõe – é  vista, considerada e respeitada por este prisma, criado e mantido por ela, sem se sentir recalcada, diminuída ou submissa É, em síntese, a mulher adjetivo, sem deixar de ser substantivo.

Se antes a mulher era submissa física e socialmente, e não lhe era facultado exteriorizar sua personalidade, embora tendo o íntimo livre, auto-adjetivo, na época atual, em que procura a liberdade de manifestação, envereda por trilha errada.

Errada porque vivendo a ansiedade de “ter” e “estar”, passa à imitação do homem em atitudes, hábitos, vícios e degenerescências múltiplas, deixando de ser inconscientemente escrava substantiva e socialmente, mas, perdendo a sua personalidade característica, o que a situa em adjetivo como escrava do homem.

Errada porque pretende partir dos efeitos em busca da causa, esquecendo-se de que só a causa surte efeitos, e esta é a liberdade básica: Ser. Perde razão e legitimidade para a época presente no dizer do grande pensador que “a mulher faz os costumes, porque o homem impõe os seus”.

A mulher na inconsciência da realidade submete-se física e moralmente ao homem pela pretensão de igualdade, através da qual é, por natureza e condição, antagônica e contraditante, que é o deixar de ser mulher para transformar-se em dúbio quanto à personalidade, mero instrumento do prazer descartável após o uso.

Não resta dúvida que a amnésia reencarnatória reduz o raciocínio ao hoje e que, tendo conhecimento “histórico” de pretéritos em que a mulher era considerada inferior, deixa-se enovelar pelo complexo advindo deste conhecimento e alimenta a ideia de libertação numa reencarnação, o que a leva a atitudes não aceitáveis e conducentes ao resultado, e o negativo aí está: na degenerescência dos costumes e da personalidade.

Seria de bom alvitre que a mulher volvesse a atenção para o tempo presente, se valesse das facilidades que lhe são permitidas e, no uso inteligente destas, buscasse a liberdade de Ser através de sua própria formação, sem que, todavia, se curvasse ao império subjetivo do homem, comungando com os seus vícios e distorções.

Liberdade em si não traduz degenerescência de costumes, devassidão, desregramento sexual e animalização.

Toda mulher inteligente é cônscia do papel que lhe cabe desempenhar na sociedade, busca cultivar-se, educar-se, mantendo sua dignidade e recato naturais, com visos ao melhor desempenho junto ao homem. Nesta sociedade não cabe o desejo bastardo e inconsciente de superação pela imitação de hábitos.

A mulher inteligente e corajosa – valemo-nos dos exemplos que pontificam na esteira da história – não se curva às imposições dos preconceitos e, por vezes, aos preceitos, mas tem em si a noção de valores, e torna-se verdadeiro expoente em vários setores de atividade. Esta é a mulher adjetivo, a mulher livre, enfim.

Não somos contrários à nudez natural, o que seria advogar o falso pudor, porém não concordamos com a exposição da plástica, como valor impudico, em substituição a outros, como a inteligência, a coragem e a moral.

Negamos vênia à intenção e não ao ato em si, porque entendemos que o “pecado” começa da barra da saia para cima, e não pelo que é visto. Não nos demove o arcaísmo em ocultar a beleza, a esbeltez física, quando vertidas de cuidados normais como sejam a educação física, o esporte e tudo mais, cooperantes para uma vida livre e sadia.

O que nos penaliza em relação à mulher, é a infantilidade de albergar o desejo de ser livre do homem, mas continuar mais escrava ainda dos ditames da atualização, mormente, ao que se refere ao vestuário e hábitos em geral, contrários à manutenção da saúde e até da liberdade de movimentos, confirmando assim, a intenção de expor o corpo apenas como único valor. Por este modo sabemos o que ela possui, mas não o que ela é.

Não propugnamos pelo retrocesso ao engodo virtuosístico, à escravidão física ou social, mas advogamos a libertação da mulher em seus termos reais que é a conjunção de ambos os valores, como soem ser: a “liberdade” e a “dignificação”. Isto porém, só se concretizará a partir da causa, em busca dos efeitos, em que a primordial é a conscientização de que tudo na sociedade lhe é facultado em igualdade, mas nunca o direito de deixar de ser mulher no sentido lato do termo, que se infirma na superioridade de condução do homem, desde menino, ao esposo e mesmo ao amigo.

A mulher terá as rédeas da sociedade em suas mãos, se capacitar-se do seu valor como fator fundamental dos costumes, pela natural ascendência que exerce através da bondade, do amor, do exemplo de moral, da inteligência, da agudez de percepção ou intuição natural, quando exercitados desde o lar até a sociedade. No lar importa conceder-lhe a autoridade sob todos os pontos condutivos educacionais sobre os filhos, para que o homem de amanhã possa entendê-la em igualdade de valores.

A liberdade, portanto, começa na educação do próprio filho e na prevalência de personalidade como senhora do lar e como raiz dos costumes.

Não somos apologistas do confinamento da mulher, antes, queremo-la ativa, ombreando-se ao homem no labor digno e construtivo, em plena igualdade e liberdade, sem que, porém, abrigue o desejo de transmutação, abdicando de si mesma como “constante” mulher.

A mulher deve condicionar “um preço mais alto” a si mesma, em termos de valores dos quais é a única portadora, e não simplesmente o de ser mulher. Deve antes e acima de cima de tudo, ter-se como “causa” e não “efeito” de uma sociedade.

Ao descer, porém, à imitação pura e simples dos hábitos masculinos, sem se cuidar como personalidade e pessoa, continua a confirmar virtualmente a fragilidade e inferioridade sob todos os pontos de vista.

É o fato.

Irmão Saulo

(recebido por via mediúnica)