Dentre as narrativas do Mestre Jesus, destacamos a do “Semeador”, sobre a qual dissertaremos, sempre expondo e convidando ao raciocínio.
A parábola nos diz que um semeador saiu a semear e parte da semente caiu à margem do caminho, servindo de alimento às aves do céu; outra caiu entre espinhos, vindo a fenecer antes da fertilização; outra parte caiu em terra pouco fértil, chegando à relativa frutificação. Finalmente, outra parte encontrou gleba suficientemente fértil, frutificando a contento.
Notamos aí acentuada diferença de fertilidade, de que nos advém a pergunta: Qual será, em verdade, o motivo desta disparidade? É de tal importância esta afirmativa do Mestre, que aos próprios discípulos causou estranheza, o que os levou a solicitar explicação, ouvindo de Jesus que: a semeadura é a palavra, as terras em que foram semeadas as sementes são as pessoas que as ouvem, umas fertilizando mais que outras, e que a diferença fertilitiva estaria em concordância ao maior ou menor interesse dedicado às sementes, guardando-as e pondo-as em prática. Como não está determinado que eram várias espécies de sementes, entende-se, desde logo, tratar-se de uma mesma espécie, sendo, portanto, também um mesmo fruto.
De imediato sentimos que a fertilização diz respeito tão somente à terra, dada a excelência da semente. Ressalta ainda que a fertilidade é um “estado antecedente” à semeadura, oriunda de outros fatores não determinados na exposição.
Ao encerrar sua missão na Terra, o Mestre, sabendo como o homem ainda é primário em concepção e, numa atitude que bem demonstra a sua inteligência, reduz todo o enfeixado das parábolas em dois conceitos básicos, os quais nada mais são do que o “efeito” resultado, ou o “fruto dos seus ensinamentos”: AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO, COMO A SI MESMO. Está aí, portanto, o fruto provindo da fertilidade das glebas, motivo e objetivo da vinda do Nazareno à Terra.
Podemos observar que todas as parábolas vinculam-se ao dia a dia do homem e sua linguagem prima pela simplicidade, o que nos permite procurar o oculto nessa mesma simplicidade sem, portanto, ser necessário “pensar alto”.
É elementar ao agricultor que a semente não influi no teor fertilitivo da terra, mas que a germinação e a boa frutificação dele dependem, o que nos diz que o mesmo deve já existir para bem produzir.
Sendo o amor o estágio final a ser alcançado dentro dos ciclos reencarnatórios, e observado o estado evolutivo da humanidade no que se refere ao aprimoramento das virtudes, podemos calcular quanto distante ainda se encontra da situação intelecto-razão (teor fertilitivo) que possibilitará frutificar a contento.
Ao trazermos tais narrativas ao terreno da evolução, e observando que esta se processa no orbe de maneira geral e associativa, teremos que a referência do Mestre não se atém à unidade mas ao todo e, assim sendo, a diferença de fertilidade questiona sobre estágios evolutivos antecedentes ao do amor.
Quando dizemos ciclos reencarnatórios, referimo-nos não só à Terra mas também a inúmeros planetas que, se ainda não atingiram a fase máxima – AMOR – já vivem pelo menos os antecedentes, quais sejam: a compreensão, a tolerância, a cooperação e certa dose de desapego das coisas transitórias, o que não lhes confere todavia, ainda intitular-se “evangélicos”, embora já mais próximos.
Sabemos agora que antecedendo o Amor, síntese evangélica, existem inúmeras condições dentro das quais as famílias humana permanecem em outros planetas longo tempo em caráter assimilativo transformante. Embora o espírito seja o que “é” esteja onde estiver, a “lei magnética de atração e repulsão”, também chamada de “lei de afinidade”, não permite a espíritos que não portem o magnetismo em igual teor ou, pelo menos, o suportável dentro da faixa de tolerância do referido estágio, a fixação dos mesmos em tais âmbitos: “Existem muitas moradas, na casa do meu Pai”. Se a lei é evoluir, e como a lei é a voz da justiça, temos na ordem e igualdade com que opera, a suplantação do “paternalismo deusístico”.
A definição “estágios” não comporta rígida linha limítrofe, pois que estaria quebrada a fraternidade, mas compreende larga faixa de tolerância, que permite a interligação e convivência relativa entre estágios e mais estreitamente dentro dos mesmos.
A unidade portadora de gama evolutiva superior poderá encarnar no estágio imediatamente inferior, desde que lhe seja tolerável e tolerante, sempre em missão construtiva. Assim também o inferior, obedecendo aos mesmos fatores, poderá encarnar no imediatamente superior, em aprendizado.
Vemos que procede a diferença de frutificação em razão direta à evolução “já” existente (fertilidade), e esta é proporcionada pelo ambiente e não promovida em particular pela unidade, pois de onde nada existe nada se retira.
Não fazemos aqui referência aos espíritos que já ultrapassaram o ciclo reencarnatório e gozam de relativa liberdade para se introduzirem em todos os mundos em estado pré-evangélico com missões superiores: Jesus.
Podemos dizer que a meta “evangélica” não está circunscrita à Terra, mas destina-se a milhões e milhões de orbes que se interligam, os quais oscilam em evolução desde os primórdios da razão até a condição máxima de amor, ponto final do ciclo reencarnatório, o que permite, portanto, a fertilização relativa condizente, dita pelo Mestre.
Podemos perceber que a “suposta” explicação da parábola foi condicionada ao grau de entendimento do homem: “Terra à margem do caminho, que ainda faz da semente alimento às aves de um céu extra-terreno e é incapaz de entender o fazer sem objetivar, como o exemplo da terra que simplesmente fertiliza sem nada requerer em retributivo”.
Dissemos que a condição para a fertilidade é proporcionada pelo ambiente e, como este se modifica pela constante superação de si mesmo, quer no campo científico quer no campo moral, temos que, sem a colaboração irrestrita da unidade, torna-se impossível tal realização, e como a Terra-ambiente não oferece a mínima condição, dada a sua infância evolutiva, tem-se como justa e atualizada a palavra do Mestre: “não há um só justo, nem um bom na face da Terra”.
Importa saber que a condição fertilitiva máxima não arrazoa do “como” e do “porquê”, mas age e reage em “natural constitutivo”. Assim como todo labor humano desde o mais humilde ao altamente científico não prescinde de cooperador, a quem retribui em formas várias, inclusive no desabrochar da inteligência por exercitá-la, também no sentido moral-virtude inexiste outra maneira de consecução, e aqui a elasticidade de ação abrange ao infinito de planetas em condições evolutivas variáveis.
Não oferecendo a Terra, ainda, condições de tolerância advinda da compreensão do seu semelhante, mas primando em competição pela sobrevivência, onde o cooperativismo só existe pelo imperativo da necessidade, torna-se impossível pensar que possa um só espírito que seja ausentar-se em definitivo, levando a outros orbes o seu magnetismo íntimo, arraigado, porque sentir-se-ia totalmente desajustado, mesmo considerando-se uma larga faixa de tolerância.
Se considerarmos as almas nobres, os “santos”, como creditados a esta ausência, teremos reduzido a evolução a este mínimo virtuoso, sem apoio no científico básico o qual não é, sem motivo, que se desenvolve no sítio terreno, mas também como constitutivo fundamental da “certeza raciocinada da verdade”.
No sentido evolutivo existe uma inversão da interpretação do Evangelho em relação ao das religiões, visto que as mesmas o dão como “causa”, enquanto a evolução o determina como “efeito”, “frutificação”.
Por mais ignorante que seja, o semeador não desconhece o elementar cuidado de preparar a terra para que não haja desperdício da semente, o que vem sendo feito através dos tempos pelas reencarnações sucessivas de grandes levas de espíritos, conduzindo a humanidade ao seu desideratum, embora com suor e lágrimas daqueles que teimam em se sentir privilegiados por Deus, pretendendo ausentar-se do campo de luta de aprimoramento pela simples observância de preceitos ou substituindo o amor que se esquece, nivela e funde as criaturas pela caridade de CIMA PARA BAIXO.
O AMOR NÃO DÁ, DÁ-SE !
Irmão Lúcio
(recebido por via mediúnica)