Disse o Mestre Jesus que a justiça seria consolidada na Terra (Oriente e Ocidente) (Lucas: 13,29) quando o homem atingisse o grau de razão e consciência, ou seja, o da complementação como racional, desde que descortine um horizonte de vida superior, entendendo-se como simples viajor em trânsito na Terra.
Da simplicidade deste pensamento nasce um renovado “conceito de valores” porque envolve total inversão da sociedade. Podemos dizer que todo o galvanizante do pensamento e sensibilidade do homem como objetivo precípuo e essencial, passará a mero utilitário durante a estada no corpo, o que Jesus classifica como “acréscimo” (coisas materiais).
Não se deve entender como o desprezo pelo fruto do próprio trabalho, nem dos benefícios naturais que a ciência proporciona. O sentido exato da existência é o de uma viagem no transcurso da qual gozamos de todo conforto possível sem que, todavia, o tenhamos como prioridade. A isto podemos chamar de “socialização espontânea”.
Se temos uma socialização, temos uma inversão de propriedade privada, que é a coletiva e, nessa época, o homem pela sua complementação como racional, já tendo entendido a curta permanência na Terra como um seguimento da grande viagem, sem tempo nem espaço, por força do fato entenderá também que tudo nela existente é de usufruto do todo e transitório.
Face a este estado mental superior, permanecerá o mesmo desejo e ação na busca do sempre mais e melhor, em progresso constante, de que o homem se ufanará em ser útil ao seu semelhante e, conseqüentemente, a si mesmo.
O homem não viverá para as coisas, mas apenas valer-se-á delas como necessárias à sobrevivência transitória. Percebe-se logo tratar-se de uma família universal, que será uma extensão do “ilhado afetivo”, como é a família atual. Este consenso trará como resultado inversão também da estrutura do relacionamento social, que passará de uma sociedade de primazia de direito para a de dever, em que o direito será uma conseqüência normal do dever cumprido e, portanto, respeitado e reconhecido.
O conhecimento do dever de cada unidade comporá um todo homogêneo e, pelo natural estado evolutivo, advirá também o retributivo em nível do que dizemos reciprocidade. Teremos o surgimento do “homem interior” racional e consciencial completo, autoditando-se em respeito e vontade próprios, não mais sujeito a variações senso-emotivas, segundo as circunstâncias e fatores externos influenciáveis. A isto chamamos de “inversão de domínio”, ou liberdade de SER, ao que o mestre Jesus qualifica como ter “vida em si mesmo”.
Hoje o homem tem obrigações definidas em códigos e suas conseqüências porém, pela inversão, terá deveres. Entre obrigação determinada por códigos, e deveres advindos da consciência responsável em espontâneo, existe grande diferença. A obrigação impõe, o dever convida.
A este complemento como racional ou culminância do estágio reencarnatório, bem definido pelo Mestre no “Sermão do Monte” (Mateus 5:1-11) como “mansuetude”, importa nos limites de abarcância de todo o científico comportável no referido estágio que se entende como “herança da Terra”.
Em evolução não se admite outro “tesouro para o espírito” que não seja o seu próprio desabrochar em inteligência e sentimentos, que tanto na Terra como em qualquer outro lugar, só o pedagógico falando à razão, oferece meios e processos viabilizantes. Isto deixa bem claro que, “onde estiver seu tesouro, aí estará seu coração”, ou seja, pensamento, sensibilidade e razão de SER.
Quando a inversão de domínio permitir o autodeterminar-se pela razão e consciência, não mais curvando-se à psicologia sugestiva ou oscilante em sensibilidade por influenciáveis externos à sociedade, não haverá mais necessidade dos códigos regimentais, dos tribunais, do cárcere e de todo acervo julgativo e repressivo de hoje.
A inversão de domínio está bem esclarecida no dizer do Mestre: “Seja o teu dizer sim-sim e não-não”, que traduz a autoridade sobre si mesmo quanto ao que sinta e faça. Atualmente alegamos que, aos outros é simples mas quanto a nós, sempre há razões e até autopiedade. Já disse alguém que –“é mais fácil vencer um exército do que a si mesmo”, o que nos permite entender a fala pelo prisma pessoal.
O que mais sabe orienta o que menos sabe
A ausência da autoridade disciplinar não propõe a de hierarquia, a qual será de senso ordenativo orientador condutivo, face a necessidade de desempenho. O que mais sabe orienta o que menos sabe.
É neste sentido que devemos entender a fala do Mestre: “Pobres sempre os tereis” (Mateus 26:11), sempre haverá alguém a quem orientar e ensinar em termos laicos, alguma coisa em relação ao cooperativismo. Não se trata, portanto, da condição de pobreza material sub-humana e dessemelhante do mendigo e do esmoleiro.
Não se deve confundir com os “pobres de espírito”, pois que estes compõem a gama dos que se julgam beatos virtuosos evoluídos, o que os caracteriza como irresponsáveis ante os fatos e o realismo em que vivem e, esta irresponsabilidade infantil é que constitui o seu reino do céu. São os pobres de tesouros íntimos, formativos, que albergam a dúlcida ilusão do elitismo e a esperança vã de um amanhã que jamais chegará pelas vias que supõem. São os que se envernizam de “conhecimentos doutrinários”, pretendendo a toga evolucitária em que se envolvem e que lhes turva a visão racional dos fatos.
“Quem são meus pais e meus irmãos” (Jesus). (Mateus 12:46-50)
Quando a humanidade realizar-se em “espírito e verdade”, o ilhado afetivo entendido hoje como família terá desaparecido quanto ao conceito, porque será extensivo ao todo. A família subsistirá como simples mantenedor da espécie, porém conscientizada do seu valor desempenho. Não prevalecerá ainda o educativo seleto científico ou moralizante sobre os componentes, porque tudo será ministrado pela sociedade em teor laico e igualitário, com visos a inter-relação e interação cooperativistas.
Pelo óbvio, terão desaparecido os apêndices gregários, sociais, formativos, unilaterais, filosóficos, e outros. Haverá ilhados físicos, biológicos, para manutenção da espécie. A paternidade será, pois, confinada ao termo reprodutor, sem a idéia de posse ou privacidade: “meu” filho, “minha” filha e demais.
O maior estado sensitivo conhecido na Terra, o amor, (embora não o máximo e último porque a evolução é eterna e infinita) será extensivo ao todo de forma e intensidade iguais, de onde se infere: “Quem são meus pais e meus irmãos”.
Irmão Anthero
(recebido por via mediúnica)