07 – Suicídio I

O Suicídio considerado pelo ato, é apenas a destruição do corpo. Ainda que não seja possível dizer o motivo, há distinta preferência pelos meios de execução. Uns fazem opção pelo afogamento, pelo enforcamento, pela ingestão calculada e lenta de doses de veneno, pela “greve de fome”, pelo Haraquiri, pelo Kamikaze; outros que imprimem alta velocidade a um veículo e sofrem um acidente, assim como aqueles que executam tarefas no quotidiano respirando e impregnando-se conscientemente de veneno que lhes será fatal, encurtando o tempo de existência, são suicidas.

Sem cogitar dos porquês destas preferências, tenhamos que o suicídio é levado a termo quanto aos meios, pela liberdade ou ato voluntário do próprio suicida que, lenta ou abruptamente, leva à destruição do corpo.

Façamos uma referência e posterior análise às perguntas n.º 944 e 944-a de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec.

 

Pergunta 944: O homem tem o direito de dispor da sua própria vida?

Resposta: Não, somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão desta Lei. Todo ato consciente é voluntário. O suicídio voluntário “importa na transgressão desta Lei.”

 

Pergunta 944-a: O suicídio não é sempre voluntário?

Resposta: O louco que se mata não sabe o que faz.

 

Analisando as respostas apresentadas por Kardec, chegamos à conclusão que: somente o “louco” não transgride a Lei de que se infere, que tanto a consciência como a pré-consciência, importam em transgressão. A não ser assim, não temos uma Lei, mas um acomodatício aos fatores que resultam no suicídio. No caso, tanto o ato consumado conscientemente como o expor-se de alguma forma em pré-consciência ao perigo, se equivalem perante a Lei.

Em concordância com o direito que só a Deus compete, qualquer intenção, por mais meritória, quer seja patriótica, idealista ou caritativa, não deixa de transgredir a Lei (conforme o Livro dos Espíritos). Falamos a evolucionistas reencarnacionistas.

O que é a loucura?

Loucura, em tese, é tudo quanto esteja divorciado da razão lúcida e do bom senso comum e não somente estado psiquiátrico requerendo insulamento.

No presente, a psiquiatria, a psicanálise e a própria psicologia, ciências que se aprofundam nos desvão da consciência, encontram pessoas “aparentemente” lúcidas, laboriosas, religiosas, honestas, portadoras de um estado anormal sensitivo-emocional, que são reflexos do sistema de vida da sociedade atual e, não raro, intro-retrospectiva desde a infância.

As citadas ciências comprovam que o homem não age mas reage a um incentivo motivador, o que deixa claro que não é um autônomo mental, mas um dependente de fatores alienígenos, o que podemos classificar como incompleto ou semi-racional. Diga-se porém, a bem da razão, que tais ciências operam no homem-época, que é um evoluendo no transcurso do tempo, motivo pelo qual não podem definir o homem do amanhã.

 

Como cada homem reage de forma diferente por um mesmo motivo e nas mesmas circunstâncias, as ciências relacionadas encontram nisto as variáveis que permitem a observação do indivíduo no seu próprio campo sensitivo-emocional, sustando a intenção do seletivo grupal, senão dentro do relativo aceitável.

Se a justiça se valesse destas ciências e considerasse o resultado como válido para julgamento, pouquíssimos estariam atrás das grades e muito reconduzidos à convivência social, pelo pedagógico específico sob todos os aspectos.

Ao concordar com a ciência que afirma ser o homem um reagente a fatores alheios a sua vontade, não generalizamos a loucura, mas valemo-nos desta conclusão como endosso ao limite de autonomia do homem essência: inteligência, razão, consciência, sensibilidade, o que para o evolucionista equivale à evolução.

Para que possamos entender isto, somos obrigados a reportarmo-nos ao campo evolutivo universal, em que incontáveis planetas são habitados por parcelas da humanidade e que, evolutivamente, estão situados na mesma “faixa”.

Em todos, como na Terra, existe uma faixa de tolerância de diversos estados mentais e morais destinada à convivência interativa pela qual o todo se conduz na senda evolutiva, mas desde o mais avançado ao menos, não é possível a ultrapassagem dos limites da faixa.

Isto esclarece nossa concordância com a ciência no que se refere ao panorâmico, a que chamamos ESTADO EVOLUTIVO GERAL, dentro das paralelas limitadoras.

No conjunto de bilhões de planetas, em cuja faixa está a Terra, em que pese a sua desenvoltura intelectual, este planeta ainda é evolutivamente primário em relação a uns e avançado em relação a outros. Disto nasce o consenso de que no universo existe ilimitado número de FAIXAS ou estados evolutivos. A partir destes, podemos estabelecer uma hipotética escala pela qual a Terra fica situada num determinado ponto evolutivo e que tudo, absolutamente tudo que nela venha a se processar, quer individual ou coletivamente, está de acordo com o máximo possível em termos de evolução.

Todo ato do homem demonstra sua limitação e, dentro da coletividade, o indivíduo reage segundo a linha em que se encontra dentro da pauta originada pela “clave” evolutiva. Assim, não podemos julgar o valor da escala a partir de um dos seus pontos, desde que este ponto limite a visão do todo.

Como não escrevemos simplesmente para preencher o espaço físico, ou para buscar rentabilidade, temos a liberdade de expor, sem impor, dentro do racional e lógico. Isto nos leva a dizer que discordamos tacitamente das definições e arrazoados pretensos esclarecedores advindos de qualquer unilateral, seja religioso, filosófico ou científico, concernentes aos motivos e resultados da prática do suicídio. Estamos fundamentados no realismo prevalecente no “ponto” da escala evolutiva em que a Terra se encontra.

Ninguém em sã consciência pode ignorar a reação do indivíduo motivada pela ação da coletividade. Devemos partir daí para analisar uma das reações que é o suicídio. FALAMOS A EVOLUCIONISTAS.

Da responsabilidade do suicídio

Na fase atual da evolução, o homem é literalmente objetivo-motivado. Nada o leva à ação que não tenha um motivo ou objetivo. Vemos, portanto, que ele reage em função de algo. Esta condição caracteriza o “homem-exterior” ou seja, o que coleta do exterior o incentivo à motivação-reação. A isto é que dizemos estado evolutivo geral, num ponto da escala e dentro das paralelas em que se comportam as variáveis. Tudo que não falar à razão do homem perde a consistência como “FATO”. A RESPONSABILIDADE só existe quando assumida.

Não pode gozar desse qualitativo, portanto, QUALQUER COMPULSÓRIO. Disto provêm que a EVOLUÇÃO, no senso legítimo, é virtualmente desvinculada de qualquer religião, deusismos, divinismos e outros condicionantes, em seus métodos e resultados. A evolução estrutura-se na sólida e racional base de um Fator, (Deus) Inteligência máxima.

A evolução religiosa conflitua com a real que se desenvolve através da ciência no tempo-espaço. Para a religiosa, o suicida tem a culpa do seu ato pelo qual assume responsabilidade perante “uma justiça” considerada divina ou superior. Para a real não tem culpa ou responsabilidade e, pelo proceder, nem fica sujeito a qualquer sanção penal nos tribunais desta “suposta” justiça.

Se concordássemos com aquele pensamento de Kardec, teríamos uma responsabilidade “imposta” pelo FATOR, o que seria, pelo óbvio e lógico à razão do homem, um “SADISMO DE ORIGEM”. O homem essência, ou fator espírito, não se individualizou mas foi individualizado por vontade do Fator Supremo.

O homem não assumiu a responsabilidade de existir, e tampouco de evoluir, como não tem a de superar-se, em proceder cabível ao ponto da escala evolutiva em que se encontra. Não querendo decifrar enigmas ou criar sofismas mas tendo os pés no chão, a cabeça no lugar e a mente em plena liberdade para o raciocínio moldado na lógica e realidade “humanas”, é que devemos dizer e expor.

Causas do suicídio na sociedade

O que é a sociedade?

A sociedade sempre foi e será um aglomerado vivendo numa guerra surda não declarada, evidenciando um competitivo permanente, até o semi-racional se complete, o que deve acontecer sem tempo previsto mas de acordo com a capacidade de avanço rumo ao equilíbrio das quatro dimensões do SER: inteligência, razão, consciência e sensibilidade.

No presente, a Terra deu início ao competitivo de ordem gloal, franco e aberto entre o capital e o trabalho; de um lado a ditadura proletária e de outro o capitalismo. Ambos os sistemas têm suas vantagens e desvantagens, acertos e erros, próprios do heterogêneo intelectual e moral das unidades componentes.

Ambos têm os contentes e descontentes, entre os quais surgem os suicidas, o que bem demonstra a influência do aglomerado humano sobre o homem unidade. De um lado temos os que, mesmo de estômago forrado e cultura farta, mas que comprimidos numa liberdade estereotipada, insurgem-se e vão ao suicídio. De outro lado, em que a liberdade é ampla, mas o aglomerado além de competitivo, é separatista pela forma de classes sociais, entre as quais encontramos os que, via de regra, são os famintos, miseráveis carentes do mínimo à vivência como ser humano digno, que, por esse fato, levados ao “desespero”, suicidam-se. Entre os que dizemos classe alta, gozando de todas as prerrogativas possíveis, abastados e sadios, enfim, sem motivo “aparente”, também procedem de forma idêntica eliminando-se do âmbito terreno.

Os suicídios classificados como ponto de honra, idealismo, de prática consciente, envolvendo dignidade e extrema coragem, entram no rol dos motivados, mas como voluntários e “socialmente” elevados à categoria de heróis.

Como vemos, a gama classificativa dos suicidas é múltipla e variável ao extremo, e sua relação demonstrativa é quase impossível.

Os que não têm incentivos motivadores aparentes, em termos gerais, entram na lei natural do tédio ou saturação, e nem sempre são ociosos, embora vivam a saciedade dos bens terrenos. Sendo o homem, no estado evolutivo em que está, unicamente incentivo-motivado, todo ato, mesmo o suicídio sem motivação aparente, estará no seu íntimo, o que não pode ser analisado na superfície do fato, ou levianamente criticado e definido em seus motivos. Temática de tal relevância não pode ser equacionada de modo geral em panorâmico, mormente quando objetiva CONDUZIR-SE dentro do espírito da verdade.

Os sentimentos, quando elevados ao “grau nocivo”, são armas que podem levar à mutilação moral, resultando no definhar lento, mas irreversível até a morte física. O amor, o ódio, a mágoa, a tristeza,  ciúme, a inveja, a ganância e outros, podem levar ao mesmo fim.

Retomando a questão n.º 944 de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, dispor da vida entende-se o direito de escolha no processo de aniquilação do corpo, que só a “Deus” pertence. Isto, pelo óbvio, só pode ser entendido pelos reencarnacionistas evolucionistas que sabem da evolução na sua realidade sócio-intelecto-científico, de caráter universal, desenvolvida no tempo ao longo da história.

Os evolucionistas entendem o direito de “Deus” como processo normal vigente no plano de existência: Nascer, Viver e Morrer, o que pode ser abreviado por eventuais independentes ou dependentes da vontade do homem, contrariamente à resposta acima. Tudo o que o homem pratica está no direito adquirido pelo existir, quando da individualização, não infligindo, portanto, nenhuma lei.

Se segundo Kardec o direito sobre a vida é contrário à lei de Deus, logo, a escolha da destruição também o é, e se assim não for considerado, também a escolha do ato repentino não o será.

O diferencial do fato está no discernir entre vida e existência num corpo, e o referendo diz da destruição deste, o que se alguma forma for escolhida, equivalem-se em princípios e meios, tanto o suicídio repentino como o lento.

Há os que pensam que os suicidas, por escolha, trazem o agravante de se tornarem peso morto na sociedade, além da inequívoca demonstração de falta de coragem de enfrentar as agruras de um existir “sem ociosidade”, bem como o egoísmo de uma evolução particular, anti-cooperativista, em consequência, anti-fraterna, anti-evangélica, “FAZE A OUTREM”.

Entendendo o suicídio como fuga às tribulações da existência, o que diremos dos que, por escolha, fogem destas tribulações, no campo do “trabalho”, o que faz com que a existência lhes seja menos pesada e mais rápida na aparência?