13 – Parábolas

O contexto fundamental de literatura é falar pelas letras e falar é exteriorizar uma idéia, esclarecer um fato, indicar uma metodologia ou ainda, um processo útil.

A forma, o estilo, a maneira de expor os motivos é que constituem a imagem do que desejamos projetar.

Em literatura admite-se na forma, estilo ou maneira a abstração, desde que nesta subexista uma “chave” que permita ao raciocínio analítico encontrar a imagem síntese. Se por imperativos eventuais esta for fragmentada, poderá acontecer na exposição abstrata, uma aparente contradição e até completa desvinculação que venha dificultar a necessária conexão para que seja completada.

Não raro, estes fragmentos nos induzem a uma ausência de cronologia, o que dificulta mais a composição da imagem síntese.

Este argumento é uma característica do chamado “Novo Testamento”, composto de quatro Evangelhos ou descrições reproduzidas na forma original de dizer dos expositores e que era de uso comum, mesmo antes dos evangelistas.

A maneira de exteriorizar idéias por “parábolas” tinha como motivo não ferir conceitos e crenças fugindo assim, ao conflito de resultados negativos e desnecessários, bem como das sanções e penalógicos aplicados pela influência do templo. Em se tratando do “Novo Testamento” cuja imagem síntese é um tratado de sociologia e política evolucitária de prática função e resultados diametralmente opostos ao vigente na época, nada mais inteligente do que o método desenvolvido com profunda agudez e sutileza pelo autor, Jesus.

A obra que se fundamenta numa filosofia sociológica profundamente “revolucionária” confunde pela forma de superfície os espíritos menos críticos, que não se detêm nas minúcias dentre as quais situam-se as “chaves” do pseudo-enigma.

Estas, as “chaves”, podem se constituir de uma frase, de um capítulo, bem como a “moral da história”, “parábola” ou alegoria engendrada em consonância à cultura e possibilidade da época que sempre se referem ao “dia-a-dia”, bem como aos hábitos do povo sob os ditames do férreo Mosaismo.

Para avaliarmos o que seria na época a força e o império dessa influência, basta atentar para o fato de que o povo judeu, embora não tivesse um espaço físico como pátria, manteve e mantém ainda, embora no presente possua sua “terra”, uma pátria moral, espiritual, social, indivisível e coesa sob todos os pontos e fatores. O judaísmo resistiu a todos os obstáculos de ordem material e moral superando-os no tempo e no espaço.

A um judeu rebelde estavam reservadas, naquele tempo, as sanções de que não deixam dúvidas a crucificação do grande Mestre Nazareno, ainda que fosse fruto da trama política entre o Sinédrio e Roma, quando a sua pregação começou a ser compreendida pelos intelectuais da época.

O grande Mestre se declara judeu, “Eu vim cumprir a lei” e não contradizê-la, e o confirma: “ide primeiro à casa de Israel “, está entre as múltiplas inteligências que se puseram em relevo em todos os tempos. Não podia deixar de proceder em seus dizeres de acordo com sua capacidade, de onde a sutileza das parábolas, envolvendo o tema central, ou a imagem síntese, compreendida como “UM TRATADO DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA EVOLUCITÁRIAS”, de possível desenvolvimento e consolidação pelo homem na sociedade.

A agudez da inteligência desse Mestre, avançada muitos milênios à sua época, é revelada no que de profundo tem de concerto com o manual de auto-disciplina que as “parábolas” constituem  e o retalho da imagem síntese nelas inseridas.

O referido tratado não só diz respeito à sociedade como propõe uma total e absoluta inversão de conceito e prática de ação social, partindo do princípio lógico e fundamental que possibilite tal inversão, que é a completa libertação da crendice limitadora submetente e condicionante.

Esclarece e prova que o relacionamento CRIADOR-CRIATURA é de plena e absoluta liberdade, e que daquele não provém qualquer tipo de sanção justicialista sobre o homem, em termos de JUSTIÇA APLICADA.

Na maioria das “parábolas” os temas se conjugam e entre elas estão em relevo a do “Grande Julgamento”[1], a da “Mulher Adúltera”[2] e a do “Filho Pródigo”[3].

Se tomarmos a parábola, “história”, em análise superficial, ou seja, como parábola mesmo e pretendermos tirar dela conclusões racionais, chegaremos na primeira ao elitismo, ao separativismo grupal, com desdouro à inteligência suprema, no que tange à compreensão da fragilidade de sua própria obra e o universalismo do Evangelho.

Na segunda, se permanecermos no mesmo senso dedutivo, teremos no Mestre que veio cumprir a lei, um contraventor endossando um crime previsto em código.

Na terceira, pelo óbvio, injustiça, parcialidade.

As três parábolas nos oferecem a “chave” do enigma contido em profundidade, na “moral da história” e constituem a base de toda a filosofia social deixada pelo Mestre.

A primeira, a parábola “O grande julgamento”, diz da ação social entendida em seus únicos objetivos que é a própria ação, em termos de relacionamento e realizações.

A segunda, a parábola “A mulher adúltera”, diz do mais elevado senso de justiça cabível na sociedade, que parte da análise da criatura em seus componentes psíquicos, culturais e situacionais, propondo o educativo, o retificativo, considerando-se inclusive os genéticos e os eventuais desequilíbrios. Nisto compreende-se a cultura, a condição social e a orgâno-funcional, além dos psicológicos promotores, não raras vezes como válvula de escape de complexos ou condições de vivência.

A terceira, a parábola “O filho pródigo”, nos revela a ausência de protecionismo, elitismo ou parcialidade, pois que não granjeia privilégio perante a suprema inteligência, como tampouco demérito para qualquer ação do homem dentro da sociedade.

O homem dispõe do “livre-arbítrio” sob todos os pontos imagináveis, e se de sua ação lhe sobrevier desconforto, nada lhe impede a luta para a reconquista do seu bem estar. Os proventos são em ordem direta e proporcionais, e que nada é acrescido por mérito ou interferência da Suprema. Toda ação dinamiza uma reação direta e proporcional, qualitativa e quantitativa no momento.

O grande Mestre não vê o homem em relação à lei mas vê a lei em relação àquele, o que entende-se que não parte do fato, mas dos fatores e, mais profundamente, dos constitutivos envolventes, que permitem uma RAZÃO PESSOAL ALEGADA.

A filosofia do grande Mestre não caracteriza a ação do homem como AÇÃO COMUMENTE ENTENDIDA, mas, sim, no lato verificável, que é a REAÇÃO A UMA AÇÃO CONCITANTE. Assim, o suicida é uma vítima reacionária a uma causa determinante.

Por que falar por parábolas demonstra inteligência?

Esclarecemos que os fatores básicos foram: ascendência religiosa e legislação social.

Todavia outro motivo comprovado é a desenvoltura intelectual do Mestre. Pelas parábolas eivadas de prometimentos necessários à imaturidade do homem da época e do presente, que nada faz sem visos a um rentável, incentivo e motivação únicos, houve por bem o Mestre, na contingência de dar aos seus ensinamentos a feição de idealismo, firmar-se em algo de mais caro e desejável aos que o ouviam que, via de regra, eram pobres, famintos, injustiçados.

Nada mais acertado, portanto, que fazer das parábolas o reflexo da imagem síntese, embora em cores idealísticas fulgurantes, que pudesse inflamar os ânimos levando seus profitentes até ao martírio, se necessário fosse, em defesa do ideal abraçado, e a história o confirma.

Dizer ao injustiçado que “serão bem-aventurados os que de justiça têm fome e sede” surtiu o efeito desejado não só na época, mas também estendeu-se a toda gama de iguais. Hoje, a convulsão social do menos em busca do mais, caracteriza o retorno, dentro da realidade, da síntese incutida nas “parábolas históricas”, o que para a mente livre que estabelece analogia entre fatos, entenderá o retorno predito pelo grande Mestre que, como em todas as outras ocasiões, não são referências pessoais mas a épocas, seus eventos e à consolidação de sua filosofia social.

Não menor demonstração de extraordinária inteligência de Jesus, as parábolas se constituírem, ao mesmo tempo, em manual de auto-disciplina e idealismo. O idealismo é antes de tudo a disciplina que o conduz.

Toda propositura que não ofereça através da análise séria e objetiva, concerto axiomático com a realidade social do homem no tempo e história, deixa muito a desejar como idealismo, doutrina, filosofia ou ciência, para ostrificar-se no unilateral que, pela psicologia sugestiva, explora os extremos sensitivos dos incautos de boa fé, mesmo que sejam letrados, dos ignorantes por base e dos mendigos como elementos de sua consolidação parasitária na sociedade.

Vemos, portanto, que para a inteligência analítica de mente livre, os quatro Evangelhos que compõem o chamado NOVO TESTAMENTO, são perfeitos e completos como tratado de evolução do ser humano, pelo menos o existente e conhecido na Terra, dispensando qualquer extrato explicativo ou complementar.

Toda verdade cabível no estágio reencarnatório de que a Terra é um segmento ainda que elementar, está nele contida e a sinceridade e honestidade do Mestre mandam que a busquemos.

Ela é a única verdade que marchará em paralelo à ciência social, assimilando e usufruindo os resultados das demais de acordo com o que é desenvolvido em cada época.

A ciência do Mestre no intrínseco valor evolutivo, não permite CAPITALIZAÇÃO, não entra a economia do acúmulo espiritual de usufruto posterior, mas diz ao idealista que SEJA e VIVA no hoje em função do seu semelhante em que nivelar-se-ão os idealistas posteriores, não procurando somente seus próprios benefícios, mas do todo.

Se entendidos os ensinamentos pela superfície, temos de fato o aceno a um rentável, mas em obediência aos reclamos do Mestre, se buscarmos a essência condicionada de permeio a essa fantasia, encontraremos o senso formativo, e não o aquisitivo. “SEDE BONS COMO BOM É O VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS”.

A base do ideal do Mestre é a ação: FAÇA A OUTREM.

A metodologia filosófica é a igualdade: NA MEDIDA EXATA DAQUILO QUE PARA VÓS O DESEJARDES.

A imagem síntese é a culminância desta igualdade, que só então dará ensejo à condição de reciprocidade necessária ao “AMAI-VOS UNS AOS OUTROS”.

A metodologia que deve nortear a análise das parábolas é em primeiro plano o universalismo; em segundo, que nenhuma referência, mesmo ao Mestre, é individual, mas sim coletiva, em épocas; em terceiro, que uma palavra, uma frase pode deslindar o conteúdo; e por último, a intenção do envolvido desde que abalizado no realismo social, não só outrora, como também no presente.

Imprescindível, porém, é a ausência literal de idéias pré concebidas, motivadas pelo formativo de qualquer jaez, filosófico ou religioso. Do contrário, será um empecilho intransponível à verdade.

Falamos a evolucionistas convictos.

Irmão Lúcio

(recebido por via mediúnica)


[1] “O grande julgamento” – Mateus: Cap. 25, 31-46.

[2] “A mulher adúltera” – João: Cap. 8, 1-11.

[3] “O filho pródigo” – Lucas: Cap. 15, 11-32.