O fator básico da reencarnação é a necessidade que tem cada espírito de remover, a todo custo, mercê até de inauditos sacrifícios, as tendências negativas que, dado o seu estado, são predominantes e, em virtude desta mesma predominância, é que há quase sempre, a acomodação ao estado transitório na reencarnação.
Após reencarnado, o espírito tende a acomodar-se, a usufruir dos prazeres que o mundo lhe oferece, a colocar em primeiro plano o imediatismo dos confortos, enfim, a moralidade da reencarnação em si, que é a remodelação interior, passa a ocupar um plano secundário. Isto não deve acontecer, precisa ser modificado. De que maneira?
Alegam uns falta de tempo para dedicar-se aos trabalhos, às realizações, para agir no necessário do cooperativismo cristão. Haverá limite de tempo para o bom pensar, para o bem sentir? Demandará muito tempo uma palavra amiga de conforto, uma orientação segura a ser dada aos seus irmãos?
Não são somente coisas materiais que a eles devemos oferecer, porém o sentimento também prevalece. O importante é que todos sintam que a reencarnação não tem outro objetivo senão educar o espírito.
O que importa é alijar de si, e de maneira concreta e consciente, a ilusão que mata, de que só após o desencarne é que irão cuidar realmente das coisas espirituais, que irão realmente viver em espírito.
É penoso e entristecedor mesmo, sentir nos reencarnacionistas esta preguiça espiritual. Muitos não se dão nem ao trabalho de experimentar e usufruir desde já, ainda encarnados, os deleites da espiritualidade, de viver no êxtase das coisas superiores.
A remodelação do espírito independe de lugar ou condições. Necessário se faz pensar seriamente desde já, desde agora, desde este instante, no amanhã do espírito. Torna-se doloroso ver criaturas penetrarem no templo de trabalho e dele saírem para a vida normal, comum, sem levar dentro de si o desejo supremo do esforço para passar a viver realmente desde aquele momento, em espírito, em amor, em desprendimento.
Não deve haver uma linha divisória entre encarnados e desencarnados. Que as pessoas, hóspedes provisórios e temporários do corpo, não alimentem esta ilusão post-mortem de que só então é que irão usufruir de algo superior.
Por que não começar já esta experiência? A existência no espaço é uma seqüência da existência na carne. Tão pouco tempo dedicado às verdades espirituais redundará em magra colheita no campo da erraticidade.
“A cada um será dado segundo suas obras”. Será dado o quê? E quem nos dará? Busquemos a resposta não na letra que mata, mas no espírito que vivifica.
É preciso ter “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, é preciso realmente condenar a letra que mata e extrair dela o espírito de vida das expressões de Jesus. Portanto, cada um será, viverá e sentirá segundo o esforço que fizer para sua própria edificação interior. Não será dado nada! Ninguém nos dará nada!
Importa entender que as obras em si, não passam de um exercício para que o espírito possa ir conquistando a sua independência.
Em realidade, o que vem a ser as obras? Será “pedra sobre pedra”? Serão as realizações materiais de vulto? Ou será que no exercício das obras materiais, o espírito educa-se e recebe as encarnações de sentimentos novos e nobres? A dedicação à obra material é o caminho para a elevação do espírito, advindo assim, segundo o esforço, a sua própria remodelação interior.
O que é preciso conceber, é que o espírito não procure de maneira nenhuma possuir nada, pois é medido não pelo que fez aos outros, uma vez que isto é apenas o exercício para modificação do caráter, mas por aquilo que ele é, em função do aproveitamento através das obras, procurando sentir-se íntegro.
O espírito é “avaliado” segundo aquilo de que ele se constitui, de que é formado, da situação espiritual em que ele se encontrar, independente de tudo quanto tenha realizado na matéria e de tudo quanto tenha feito na erraticidade, independente de todo e qualquer trabalho ou realização.
O espírito receberá das próprias obras que construir em amor, a sua auto-independência, a sua auto-moralização, a sua própria edificação.
O espírito inativo, o indolente, é um espírito morto, que não se realiza, porque a meta e o objetivo maior de cada um não é absolutamente amontoar “pedras sobre pedras”, erigir monumentos, fazer para ser admirado, realizar por realizar e satisfazer-se, acomodar-se nas realizações materiais, pensando com isto que a soberania do céu há de ver, anotar, retribuir, e que será dado segundo as suas obras. Doce e infantil ilusão que deverá ser apagada do quadro das visões de cada um.
A meta básica do espírito é a auto-realização e, como não podia deixar de ser, existe na Terra um campo vasto onde o espírito exercita-se através do trabalho material, no amparo aos seus irmãos, na luta cotidiana pelo bem estar de todos. Nos trabalhos da “pedra sobre pedra”, que cada uma constitua para cada criatura uma pedra preciosa de amor, de realização interior. Não existe absolutamente uma lei de retorno para as obras. Estas são vividas na intensidade do amor profundo, o senso de liberdade interior e também a auto-realização, independente da espiritualidade, do corpo, fora dele, no próprio inferno, se este existisse.
O que deve falar alto a cada um, é o foro íntimo de viver no dinamismo da felicidade interior. Que não cegue a ninguém a vaidade das realizações terrenas, a majestade de arquitetura, as relações terra-a-terra de todos os dias. Que cada um dê de si o que tenha de mais puro e mais caro, que é o amor, o desejo de sentir no seu irmão um verdadeiro irmão e de sentir que um dia, quer queira, quer não, terá que viver na doce comunhão com todos, meta principal de cada ser.
É bom lembrar que o espírito é aquilatado não pelas obras que realizou, mas pelo que delas usufruiu em espírito, em benefícios e em virtudes, despertando para as coisas superiores, para o amor que sublima: “Meu reino não é deste mundo”, não está edificado na “pedra sobre pedra”, porém é o reino interior, o reino da liberdade, de um sol muito mais claro. É um reino sem limites, sem localização, sem trono, mas também sem vassalos. Portanto, que cada um pense seriamente em evoluir, em varrer da mente esta péssima concepção de que só pelas obras existe mérito.
Cada qual deve imaginar o quadrante da sua ascensão, buscando cada dia que passa, através de todos os atos da existência, mesmo que não seja “pedra sobre pedra”, mas que seja “amor sobre amor” advindo da argamassa da palavra, do olhar, do carinho, da sinceridade aberta e franca.
Não é preciso abdicar das coisas materiais, porém limitá-las ao máximo, buscando o conforto do corpo como reflexo do conforto espiritual, porque a transitoriedade da reencarnação poderá causar decepções terríveis na erraticidade.
Portanto, cabe a cada criatura fazer da sua vida uma vida útil, plena de realizações, fugindo da acomodação, da preguiça espiritual.
Finalmente, cada um recebe segundo o profundo amor que imprimir a todas as suas obras, pois o amor é o objetivo máximo do desprendimento, a conquista da liberdade espiritual e não há, absolutamente, outra linha de conduta que possa trazer benefícios. Não existem dois caminhos a serem seguidos: ou ergue-se uma linha reta, ou decai para o abismo, isto é, o das reencarnações intermináveis!
Concluindo, cada espírito é aquilatado, vive e sente segundo o que é, não segundo aquilo que faz.
As obras são motivações para que o espírito se realize, porém a meta suprema de cada um é a auto-realização através do tempo e na amplidão do espaço.
(recebido por via mediúnica)