26 – Encarne e desencarne

O caminho é longo e a paisagem é triste; desolação, nem sombra existe, é causticante o sol a esturricar toda erva, mas o viajor não descansa, conserva a energia e o vigor, ansioso por palmilhar, por ir em busca do fim desta jornada, sentindo o frescor da brisa que perpassa. O que mais o anima é a esperança do “oásis” que se aproxima.

Realmente, a jornada é longa e o caminho íngreme, difícil, contudo é nesta forja que se retempera a coragem daqueles que buscam a sua própria libertação.

A história da humanidade encarnada está repleta de rasgos de heroísmo em prol de liberdades, repleta de gestos incomparáveis, raiando pelo estoicismo, intrépidos em busca do sonho de liberdade querendo sentir em si asas fortes e possantes para esvoaçar na amplidão. Este sentimento predominante é que vai concitando o espírito de cada um a palmilhar o caminho longo, onde a estrada é íngreme, cheia de obstáculos, de tropeços a serem vencidos.

O importante é não desanimar, é volver os olhos para o ontem e encontrar-se já na infância, depois na mocidade e eis que a maturidade é hoje. O lapso de tempo é relativamente curto, diminuto, a existência é muito curta. O Pai, de um amor profundo e uma compreensão extraordinária, delimitou a existência na medida exata e justa à capacidade de suportação de cada um. Se não concebermos a existência, a reencarnação desta forma, por este prisma, estaremos normalmente retirando do Pai, o sentimento que o nobilita, acima de tudo, que é o da justiça.

Cada criatura precisa compreender e sobretudo sentir que, embora pareça longo o caminho, tem sempre suas etapas de descanso e recuperação através das reencarnações sucessivas. Entendamos claramente que, desencarnar e reencarnar faz parte integrante da concepção de justiça do Pai, sobretudo de amor, de compreensão. Já o Mestre enunciara com precisão extraordinária, quando delimitou a capacidade de suportação da carne como fraca. Mas, o espírito em si não conhece desencarnação nem reencarnação, apenas muda de estado, de situação.

Numa reencarnação o espírito vem e reinicia seu ano escolar. Quando desencarna, entra nos folguedos normais do descanso tão comum a todos. Então o caminho é longo, difícil, mas a solução de continuidade inteligente e justa feita pelo Pai, nos dá sempre a possibilidade de repouso, de um descanso, o que se limita somente àqueles que já têm consciência de causa, que pautam pelos nobilitantes princípios do progresso espiritual, do amor, do trabalho, que já acordaram para a luz, que já tomaram a direção exata e certa da ascensão e do progresso.

Para outros, entretanto, a reencarnação como a desencarnação é uma confusão ainda. O embrião da mente não discerne bem.

O caminho é longo, quase desanimador. Mas, se voltarmos a sentir a veracidade das reencarnações, temos que dizer: “Senhor, como é justa a tua concepção das coisas. Ontem eu era uma criança, hoje sou adulto, amanhã a senilidade me alcançará, e depois, estarei em plena liberdade no espaço sentindo novamente a aragem leve, perfumada, na recomposição, na reestruturação das energias, e terei vencido mais uma etapa do caminho longo a percorrer.”

Ainda há pessoas que, embora cientes dos princípios reencarnacionistas, de maneira comprovada, clara, que receiam o desencarne. Muitos sentem realmente um caminho longo, muito longo, penoso e triste, ainda não se apercebem da beleza do desencarne, do renascer em espírito, de reviver na essência da própria vida. Habituam-se de tal forma, como o encarcerado nas penitenciárias duras e amargas da carne, que se apavoram, já não se concebem como espíritos livres após o desencarne, mas têm pavor dos “sete palmos de terra”. A impressão nítida é que ele, o eu, é que vai lá para a terra, quando não é a realidade.

Precisamos incutir na mente das pessoas, que a morte é a beleza, é a libertação, é o aureolamento do espírito após uma etapa de lutas, de sacrifícios que, quando conscientemente aproveitada, cristãmente vivida, vai conceder a este espírito, não aquilo que chamamos de galardão, mas a sensação indescritível de uma vitória sobre si mesmo, e aspirar os ares puros daquilo que tem semelhança de  paraíso.

Há reencarnacionistas que sentem as influências dos espíritos, que os vêem, os tocam, que manuseiam o Evangelho e os livros fundamentais da verdade reencarnacionista, hoje inegável, indescritível e inadvogável, estes mesmos reencarnacionistas às vezes sentem pavor ao falar no desencarne, colocando os espíritos, muitas vezes, numa situação dúbia, desconfiando inconscientemente da verdade que eles vêm pregar aos encarnados.

Por isto é que se chama “Consolador”, que não é o consolo após a morte, mas é “Consolador” porque ouve de além túmulo a voz clara com expressões nítidas de liberdade indiscutível. É “Consolador” porque nasce em cada espírito a esperança desta liberdade, quanto mais depressa melhor.

Por conseguinte, cognomina-se o “Consolador” como o fator de experiência, de alegria, o motivador, a causa de uma nova vida, dando a cada um a força e a energia de suportação do estágio muito limitado da reencarnação.

Enquanto certos reencarnacionistas vivem a reboque o misticismo na concepção arcaica de um céu, de um inferno, de um castigo e de um prêmio, o Consolador será uma figura negativa dentro de si, não terá motivos de existir, porque não entendeu ainda a veracidade da palavra Consolador, não se apercebeu da grandiosidade e da ofuscante luz que se lhe antepõe aos olhos espirituais. É cego ainda.

Não dizemos para não se apegar de maneira comedida e sensata ao que é de direito, aos gozos normais que o conforto oferece, naturalmente sem a exorbitância do supérfluo, porque este é o timbre daquele que não tem bom senso, mas não se deixa sepultar pela concepção de que a vida é essa, não se contentando em ser como simples presidiário da carne. Renascer como filhos do homem no sentido prumo, ereto, sempre acima, numa concepção mais lúcida que os absorva completamente, que seja este o verdadeiro, único e real motivo de existir na carne, escola do amor.

Que esta consolação seja a mola motora dos atos a praticar, do desejo quase que incontido da libertação, de viver num espaço mental de concepções e percepções superiores àquelas que se possui na Terra. Sensações extraordinárias aguardam os que desencarnam e que isto sim, sirva de motivação para os bons atos, pois aquele que não aprende a se libertar já na carne, ilude-se. É uma quimera de libertação do espírito, que se inicia na reencarnação, do berço ao túmulo, e novamente do berço ao túmulo, e assim sucessivamente até que possa alcançar a liberdade total. Contudo, se não forem postas em prática as missões que libertarão este espírito na vivência da carne, é utopia, é concepção arcaica de uma redenção após a morte.

O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, está tábua de leis amenas, suaves, mas de efeito magnífico, que constitui mesmo a chave da liberdade espiritual, deve ser usada aqui na Terra. Sem isto, não nos iludamos porque, ao deixar o corpo, o que espera o espírito é apenas e exclusivamente as primeiras páginas da cartilha que deveria ser decorada na reencarnação em que o espírito se encontra. Não há condescendência e nem parcialidade, pois a lei é uma só para todos. O Pai não distingue seus filhos senão pela força de aproximar-se Dele.

Nós todos caminhamos para o Pai, mas com nossos próprios pés. Não existe de maneira nenhuma prioridade para ninguém. É uma realidade nua, crua e irreversível, o progresso de cada espírito, ou seja, cada etapa de progresso espiritual inicia-se no berço, tem a solução de continuidade no túmulo, inicia-se na erraticidade para reiniciar ainda um novo curso no berço. Não é um círculo vicioso, mas é uma espiral ascendente que ascende com a velocidade em relação direta à capacidade de cada um.

Não há favores e nem presentes, a cada um é dado o prêmio pela sua própria conquista. Não importa conceber caminho longo ou curto, o que importa é palmilhá-lo impavidamente, soerguer-se das concepções arcaicas e obsoletas e palmilhá-lo sob novo sol, de base reencarnacionista comprovada, e aí terá a profunda concepção da expressão: “Eu vos enviarei o Consolador”.

Cada um é dono do seu próprio destino. Não podemos nos iludir.

 

(recebido por via mediúnica)