60 – Reflexões II – Ciência e Religião

CIÊNCIA E RELIGIÃO

A ciência contradiz a religião em seus princípios, meios e fins. Contradiz em princípio, porque requer conclusões lógicas advindas da experiência por processos compatíveis com a capacidade intelectual.

A ciência não crê, conclui pelo fato.

A religião prende-se no depósito de confiança a que chama erroneamente de crença.

A ciência faz uso do raciocínio analógico sobre a matemática dos fatos, tendo como objeto único, esclarecer pela comprovação.

A religião conduz à aceitação incondicional das regras estranhas, dando à vida o sentido empírico e vegetativo, sobrepondo-se ao hoje pelo prometimento de um amanhã dúbio e incerto por não ter possibilidade de comprovação.

Do momento em que a religião busque pelo raciocínio comprovar alguma tese, encontra dificuldade, porque entra a razão que requer a lógica. Isso constitui uma barreira à apologia da suposição, mantida pela crença. Daí a impossibilidade da fé raciocinada.

Ateísmo? Absolutamente não. Estamos dentro do Evangelho: “Buscai a verdade e ela vos libertará”.

“Buscai”, indica ação pessoal no uso do raciocínio, constituindo processo natural e único de que se vale o homem em todas as circunstâncias e incógnitas, invalidando as insinuações de um contexto possível, mas não analisável. Este contexto descaracteriza a busca proposta por Jesus.

“Ide e pregai o Evangelho”. Ide fornecer elementos para o raciocínio na busca das verdades contidas no ensinamento esotérico (oculto) do grande Mestre Nazareno, deixando a cada um “quando forem chegados os tempos”, buscar e concluir pela inteligência e pela razão, entendendo a verdadeira realidade da mensagem cristã.

Não se deve confundir “verdade esotérica” com “ciências ocultas”.

Concluir em confiança, não é certeza científica. Se os codificados são plenos de  deusismos muito ao sabor mental e moral da religião, ficam em débito com a razão e consciência do homem, a quem destinaram esses códigos, porque dentro dos parâmetros que possibilitem uma análise, não encontram ajuste, em confronto com a realidade social em que vive.

Tem-se como lógico que, se esses códigos foram trazidos para o homem, devem ser invulneráveis, sob todos os aspectos e, em princípios, impor-se como realidade irretorquível na análise humana, considerando que se projetam como defensores de uma justiça superior imparcial e ponderada.

É viável? Evidentemente, repelindo o aspecto carcerário que contradiz a imparcialidade da justiça que advoga.

 

A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

“Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus”. Fica estabelecida no “deixai vir a mim . . .” a condução mental e moral, de caráter educativo e social através da inteligência e razão, de forma abrangente (Oriente e Ocidente), concretizando assim, o “amai-vos uns aos outros”.

Entender pela razão, que conhece e compreende os fatos, e não pela sensibilização movimentada pelas fantasias, a fim de que as criancinhas possam receber os cuidados como filhos, proporcionando-lhes a cultura e moralização, com neutralidade religiosa, para que se construa a personalidade sobre alicerces verdadeiros, precatando-se dos imprevistos.

Proporcionar a cultura e moralização laica e social, destacando o ensinamento de Jesus: “Fazei a outrem”, que constitui a base de toda estrutura fraternalista. Aí sim, estaremos facultando o entrelaçamento no “reino dos céus” (interior) pela formação da personalidade integral.

“Fazei a outrem” encarnado e componente da mesma sociedade, pisando o mesmo plano, onde deveres e direitos são iguais.

Temos assim, o pré-carcerário educativo, sublimado, traduzindo com fidelidade os postulados evangélicos.

A evangelização da criança em termos deusísticos, com obediência a determinada religião, é um desassociativo por excelência, anti-fraterno por base e, contraditório aos elevados ideais de Jesus.

O proselitismo infantil delimita, envaidece, aniquila o sentido de fraternidade, porque não traz à prática o “fazei a outrem na medida exata do que quereis”, mas ensina a caridade aos pobres, aos deserdados, aos famintos, sem esclarecer aos pequeninos o porquê da existência desses miseráveis, em termos de realidade social e humana.

A religião, dentro dos seus limites, ensina que esta situação existe e, ensina também, como proceder face aos fatos, mas oculta o porquê dessa desigualdade.

É exatamente pelo esclarecimento e indicando o proceder evangélico, que se há de erradicar o sofrimento na face da Terra.

Contra fatos não há argumentos. Ou há, quando convém?

 

ALGUNS PONTOS A CONSIDERAR

Em literatura temos duas questões distintas; uma que preenche o espaço físico, embora vazada em filigranas do vernáculo, e outra que, embora pobre no dizer, se enriquece de ideias vivificantes e úteis.

É ainda da literatura o “realejo literário” que executa sempre a mesma música, porém em outra clave, o que confundo o leigo, mas não o versado, o erudito.

Prevalece ainda na mesma pauta os que primam pelo sofisma, isto é, primam pelo argumento falso, dizendo uma coisa e sentindo outra. É o mais comum.

Aqui aparece a flagrante contradição com a franqueza e lealdade do Mestre: “Seja teu dizer SIM e NÃO” porque tudo que passar daí é deslealdade.

O homem versátil, de imaginação fértil, tem proposto acomodações disfarçadas sobre assuntos superados e desgastados, o que não leva a nada.

A árvore vem da raiz e, permanecendo a mesma, concluímos que os frutos não modificam.

O Espírito da verdade mancha os objetivos evangélicos na acomodação, considerando que esses objetivos são virtualmente revolucionários: “roupa nova e não remendos novos”.

Objetivos revolucionários, sem armas, sem violência, sem vingança, sem prejuízos, não buscando reduzir, mas elevar no tempo, pela metodologia educacional, sempre para mais e melhor.

O Evangelho entrega a “chave da ciência” que os escribas e fariseus retiraram, “não entrando nem deixando entrar”.

A ciência fala à razão através da cultura e do desenvolvimento intelectual do povo, elevando-o e dando-lhe conhecimento dos deveres e direitos como criatura humana.

O Evangelho enaltece o trabalho em prol do todo, lembrando que: “Meu Pai trabalha até agora”, e valoriza o corpo humano ensinando a manutenção saudável lembrando o apóstolo Paulo: “Apresentar o corpo em sacrifício vivo, esse é vosso culto racional”. Vivo entende-se pleno de vida, perfeito, saudável ( mens sana in corpore sano). É a síntese da vida contida nas palavras do apóstolo Paulo.

O Fator Supremo é dos vivos e não dos mortos; é dos famintos, dos miseráveis, dos encarcerados, das prostitutas relegadas à sarjeta, que o Espírito da Verdade, na ignorância dos reais e insubstituíveis princípios evolutivos, dá como efeitos de leis eternas e imutáveis, como condições  de avanço na senda do beatismo evolucitário, anti-científico e anti-fraterno.

Concordar com esses efeitos de leis eternas como condição de avanço, é manter o fruto podre da sociedade, dizendo que seja a “vontade de Deus”. Afirmar que é “vontade de Deus” é descer à inconsciência da fala e não se conscientizar da falência da tese que o progresso e a evolução decretarão inapelavelmente.

Concordar com essa situação é desconhecer o antecedente histórico em relação ao presente e incapacidade de concluir racionalmente sobre o histórico futuro.

Discordar do materialismo subjetivo cristão semirracional, não encontra qualificativo na razão, na lógica ou em qualquer ângulo que se pretenda analisar esta problemá espiritualismo a carniça já putrefata dos cadáveres morais que a sociedade faz, saciando assim, os vaidosos e ansiosos da religiosidade celestial.

A perfeição da árvore está na raiz.

O que dizemos em relação ao “fazei a outrem na medida em que quereis para vós”, será fantasia?

Mas não estamos na era do Espírito da Verdade, em que tudo deve vir ao claro da razão e consciência em termos de fatos sem contra- argumentos?

O que teríamos como VERDADE é a exposição da verdade evangélica. Estamos nos desviando?

O homem ainda sofre limitações, não sendo possível o “fazei a outrem” na extensão do termo.

Embora não discordemos dessa impossibilidade, não endossamos o “remendo” ao admitir tratar-se de leis evolutivas e “vontade de Deus” as situações dolorosas às quais acima nos referimos, pois constitui flagrante contradição ao “fazei a outrem” do Evangelho.

Sabemos que o grande pensador Nazareno, vivendo numa época em que a sociedade era essencialmente agro-pastoril e galvanizada pelo religiosismo do Templo, não podia ultrapassar em seu dizer a pequena capacidade de compreensão do povo a quem ensinava em termos de parábolas que, bem compreendidas pelos intelectuais de então, resultou na sua morte. Um exemplo típico da sociedade galvanizada pelo religiosismo, encontramos na parábola do Bom Samaritano.

No exemplo da benemerência do Samaritano, vemos a inocuidade da formação religiosa objetiva que entristece os espiritualistas, pois que um sacerdote e um levita passaram ao largo e um Samaritano é que se deteve e tomou a iniciativa humana, pelo imperativo do fato no momento, não procurando tirar proveito de recompensa espiritual, mas simplesmente tomou a iniciativa porque já possuía condições morais evolutivas.

Isto, porém, não alimenta a auto-piedade da escusa fundamentada nas limitações humanas do “fazei a outrem”, na extensão do termo, mas também não condena aqueles que exercem a benemerência baseados no “rentável espiritual”.

Não há o que condenar, visto que os profitentes espiritualistas são conduzidos por um codificado que neutraliza o “samaritanismo evolutivo”, mantendo o retrógrado esmolismo do exemplo, o que não encoraja os fossilizados pela crença a desviarem-se rumo ao concreto do Evangelho, dando vida real em roupagens novas, em termos de interpretação e entendimento dos ensinamentos de Jesus.

A amenização do fruto podre produzido pela sociedade, não é a lei de fraternidade consolidada nos ensinamentos do Mestre.

Aquele vulto estoico que viveu o exemplo no martírio da cruz e soube selar em rubro os seus ideais, neles não inseriu paliativos e nem aconselhou que se fizesse como pretendem os evolucionistas ortodoxos.

Na expressão “fazei a outrem”, determinou tratamento condigno e igual para os relegados pela sociedade, dando-lhes nível de criatura humana ou semelhante.

 

( recebida por via mediúnica)