Ao longo do tempo, que já adentra milênios, a figura desse Apóstolo de Jesus tem sido alvo de condenações, execrações, ofensas e até de rituais populares de escárnio (malhações) por muitos daqueles que se intitulam de cristãos.
A grande massa de profitentes religiosos considera de certo modo estar assim procedendo, castigando aquele a quem atribuem o crime de traição e conseqüente morte de Jesus.
Esse episódio de repúdio ao apóstolo Judas Iscariotes é repetido anualmente como uma espécie de culto e, em alguns lugares, entrando ao folclore, em clima de festividade de acentuado mau gosto.
Muitos, ao participarem dessa farsa caluniosa, julgam estar vingando aquele a quem acusam pela morte ignóbil de Jesus na cruz infamante do Gólgota.
Esses “pretensos cristãos” que assim procedem, estariam rememorando o episódio da suposta traição cometida há dois mil anos, demonstrando que o seu espírito de vingança é infindável.
Os sentimentos de condenação e vingança contra uma pessoa, réu de uma pretensa acusação, constitui uma atitude de pessoas que supõem albergar sentimentos cristãos?
Estariam estas pessoas, além do desagravo à memória de Jesus, evitando que este suposto crime caia no esquecimento? Será isso? O que buscam essas pessoas que assim agem? Acreditamos que grande parte delas segue apenas um ridículo ritual pretensamente religioso e age sem auscultar sua consciência e razão, levados infantilmente por falsas versões da história, interesses religiosos e outros.
Condenam um acusado a quem nunca deram o direito de defesa, base elementar de qualquer princípio de justiça.
Quem era Judas Iscariotes? Algum renegado? Algum aventureiro? Algum criminoso?
Já é tempo da verdadeira história desse apóstolo de Jesus ser revelada, pelo menos em parte, o que contraria frontalmente aquela versão hoje conhecida e divulgada como sendo a única e verdadeira. Jamais partiu do Apóstolo Judas Iscariotes qualquer iniciativa neste sentido, por razões que a seguir esclareceremos. Este apóstolo, na sua humildade verdadeira, sempre se opôs a que o esclarecimento da verdade dos fatos ocorridos que resultaram na sua acusação, fosse motivo de qualquer ato ou ação por parte de seus amigos desencarnados, muitos dos quais vivem em esferas espirituais elevadas, o qual sempre buscaram convencê-lo a esclarecer o assunto, em defesa de sua honra e dignidade atingidas pela calúnia.
Ao insistirmos com o apóstolo-mártir, ele abriu um precedente e nos disse textualmente:
“O meu passado, as acusações sofridas, a minha condenação e os motivos alegados pelos meus acusadores são coisas de um passado já bem distante, não têm nenhum valor exemplificativo e nada significam para o presente. A minha pessoa e as histórias que correm a meu respeito são episódios sem nenhuma relevância e de somenos importância. Eu nada represento perante o Mestre Nazareno, esse gigante espiritual, que sofreu moral e fisicamente até a morte ignominiosa.
Sua passagem luminosa pela Terra, sua obra, ensinamentos, exemplos e doutrina, que o levaram a sofrer perseguições, difamações, prisão, torturas e a humilhante crucificação, constituem um capítulo memorável na história da humanidade. Frente a isso tudo, o meu episódio, a minha pequenez representativa perante Jesus, desaparece pela sua insignificância.
Por isso o meu pedido e o meu desejo são para que os acontecimentos dos quais participei sejam esquecidos, por nada significarem. É necessário que cada vez mais o Mestre Jesus cresça através da verdadeira interpretação dos seus ensinamentos, o que hoje é tarefa da nova Escola Reencarnacionista Evolucionista, que só agora começa a ser introduzida na Terra.
Ainda que imerecidamente, sinto-me recompensado por ter sido escolhido pelo Mestre Nazareno como integrante do primeiro grupo dos seus seguidores e por ter podido conviver com esta figura extraordinária, inteligência excepcional, sensibilidade ímpar e grandeza espiritual.”
Não foi tarefa fácil, como se pode deduzir da mensagem acima, obter maiores informações e detalhes da participação do apóstolo Judas Iscariotes nos episódios que antecederam a morte de Jesus.
Esclareça-se que o apóstolo Judas Iscariotes é atualmente o mentor espiritual responsável por um número elevado de grupos ou núcleos espirituais, em centenas de planetas de condições evolutivas diversas, aos quais dedica-se com muito afinco, perseverança, sabedoria e, acima de tudo, com um amor tão profundo aos seus semelhantes, que nos sentimos pequeninos espiritualmente diante da magnitude da sua espiritualidade, o que nos deixa intensamente comovidos.
Para que a verdade seja restabelecida é necessário que se esclareça a participação do apóstolo Judas Iscariotes na condenação e morte do Mestre Nazareno, ainda que o Apóstolo-mártir não busque defender-se das falsas acusações que vêm se perpetuando indefinidamente.
Assim sendo, faço a seguinte pergunta: “Será que Jesus, o extraordinário Mestre, com sua elevadíssima inteligência (evolução), percepção aguda e conhecimentos milenares, ao iniciar sua missão na Terra, escolheria como um dos seus apóstolos uma pessoa venal, sem grandeza espiritual, mercenária? Será?
É uma pergunta que deve ser respondida sem tergiversações, sem sofismas ou fugindo a uma responsabilidade que deve ser considerada com muito empenho e honradez, pois refere-se a uma questão de honra de uma pessoa, no caso, o apóstolo Judas Iscariotes.
Convém acrescentar que Judas Iscariotes era um dos apóstolos mais cultos dentre os demais, sem qualquer demérito para os mesmos, e isso se explica pela facilidade de acesso à cultura, devido ao fato de pertencer a uma família possuidora de recursos materiais e financeiros.
O fato de ter sido escolhido como uma espécie de “tesoureiro” do grupo de seguidores de Jesus atesta e comprova a revelação de ter sido filho de uma família abastada, estando, pois, apto e acostumado a gerir valores pecuniários. É, portanto, ridícula, além de infantil, a mentirosa versão da sua traição a Jesus mediante recebimento de trinta moedas.
Infelizmente, na história da humanidade, existem mentiras até milenares que vão se perpetuando ao sabor da ignorância e das conveniências, permanecendo sem um questionamento sério, racional e honesto por comodismo mental ou por interesses.
Não foi tarefa fácil obter do apóstolo Judas Iscariotes informações sobre aquele episódio.
Totalmente envolvido e voltado para suas inúmeras atividades em vários orbes do Universo, com uma responsabilidade que foge a nossa mais dilatada imaginação, enfrentando diuturnamente problemas gravíssimos pendentes de solução, o nosso Mentor Maior sempre se recusou a tocar no assunto em benefício próprio, ou seja, para defender-se das acusações injustas.
Repetia sempre as palavras de João Batista proferidas no seu encontro com Jesus: “É preciso que eu desapareça e que ele (Jesus) cresça, mesmo porque não sou digno sequer de abaixar-me para desatar as correias das suas alparcatas” (João 1:22 e João 3:30).
Suas declarações, sempre em círculo espiritual restrito, somente agora receberam a sua autorização para serem reveladas, ainda que parcialmente.
Hoje, Jesus dedica a seu discípulo e colaborador comovente amor e admiração, pois o Mestre Nazareno é o senhor da razão e conhece o valor do seu Apóstolo.
Em suas raras declarações, o apóstolo Judas Iscariotes humildemente confessa ter cometido alguns erros, mas jamais o de ter atraiçoado o seu Mestre, a quem venerava com fervor.
Atribui esses erros, ainda que não se desculpando, ao fato de ser um jovem na época, com um temperamento arrebatado e impaciente, que se angustiava com a demora em surgir algum movimento, alguma ação libertadora que viesse a resgatar o povo judeu do jugo romano. O apóstolo Judas Iscariotes era um fervoroso patriota e sofria intensamente ao assistir as humilhações impostas ao seu povo.
Após conhecer Jesus e ser convidado pelo Mestre, passou ao seu convívio e teve, em inúmeras ocasiões, oportunidade de testemunhar a sua extraordinária capacidade em galvanizar as multidões com a sua presença, suas palavras, seu incrível carisma e, por isto, a sua admiração pelo Mestre crescia cada vez mais, a tal ponto que imaginou que Jesus fosse um enviado especial de Deus, dotado de poderes extraordinários que viera a Terra com a missão de libertar o povo judeu.
“Errei, confessa o apóstolo, por não perceber na época que a missão de Jesus transcendia, em muito, a questão material, transitória e de importância relativa, concernente apenas aos destinos de um povo, não avaliando corretamente a grandeza e a enormidade da missão de Jesus, por isto, tive momentos de impaciência e angústias.
A minha juventude, aliada ao meu temperamento dinâmico, não colaborou para que aguardasse o desenrolar normal dos acontecimentos, e o meu erro maior, foi acreditar nas mentiras e falsidades dos principais sacerdotes do Templo, que diziam apoiar a derrubada dos dominadores romanos, quando, na verdade, estavam tramando contra Jesus, com o apoio dos poderosos da época, temerosos pela sua ação no esclarecimento do povo espoliado e escravizado.”
Movido pelo seu sonho de liberdade, o apóstolo Judas Iscariotes repetia entusiasmado perante os sacerdotes do Templo, a célebre frase pronunciada por Jesus no Sermão da Montanha: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados” (Mateus 5:6). Ao proferir estas palavras, Jesus assustou aos poderosos da época, sendo um dos fatores que influiu no conluio tramado para fazer calar sua voz, incriminando-o junto aos dominadores romanos.
Não foi o povo simples, humilde e inculto que escolheu entre condenar Jesus e libertar Barrabás, porque este povo ordeiro e submisso não dispunha de condições mínimas para envolver o próprio Pilatos, o Templo e os poderosos.
A frase de Jesus fazia referência à “justiça” dos homens e não a uma pretensa justiça divina, como algumas religiões pregam até hoje.
Os episódios históricos de Barrabás, competindo com Jesus e outros que fazem parte de muitos livros e compêndios religiosos, não existiram, foram frutos da fertilidade, da imaginação de pessoas e grupos, muitos deles com interesses inconfessáveis.
Temos a mais absoluta certeza de que um dia, através do trabalho sério, responsável e, sobretudo, laico, pesquisadores honestos derrubarão essas lendas até hoje impingidas a nós todos.
Outra mentira milenar é sobre as circunstâncias da morte do apóstolo Judas Iscariotes que, segundo a lenda, teria cometido suicídio, enforcando-se posteriormente à morte de Jesus, levado pelo desespero e pelo remorso.
Esta versão foi elaborada para dar um fecho condizente e conveniente ao suposto episódio da traição, em troca de algumas moedas, o que em realidade jamais aconteceu.
O Apóstolo Judas Iscariotes desencarnou de morte natural (ataque cardíaco), após ficar com a saúde abalada pela crucificação de seu Mestre a quem muito amava.
Sabemos que a nossa narração, ainda que sucinta, dos fatos que envolveram Judas Iscariotes, resultará em críticas acerbas e será recebida por muitos com descrédito, o que é natural que ocorra, face ao longo tempo já decorrido da existência das versões sobre o assunto, tidas como verdadeiras e amparadas pelo peso das religiões com grande influência na sociedade.
Por outro lado, temos a mais absoluta certeza de que, um dia, a verdade se fará presente de maneira irretorquível.
Quanto ao apóstolo Judas Iscariotes, pela sua elevada condição evolutiva e humildade marcante, busca tão somente trabalhar, sem se preocupar em fazer sua defesa, consumindo o tempo em atividades produtivas e de grande alcance social, espiritual e cultural.
Hoje, o importante para o apóstolo Judas Iscariotes, é o seu trabalho em prol da humanidade, do qual o GRUPO ESPÍRITA “JUDAS ISCARIOTES”, sediado em Nova Veneza, Estado de São Paulo, representa uma parcela. Apesar de ser um pequeno núcleo de trabalhadores da seara do Mestre, que busca praticar o Evangelho real, laico, já foi e continua sendo visitado por diversas vezes pelo apóstolo Judas Iscariotes, que jamais estabeleceu qualquer diferença de tratamento, estendendo a todos sua atenção, com muito amor e respeito, fruto de sua elevada condição evolutiva.
Àqueles que se dizem religiosos, que pregam o amor ao próximo, a fraternidade, o espírito cristão, etc., mas que nos dias de hoje, após decorridos dois mil anos, ainda condenam o erro de um homem dentro de suas concepções, deixamos apenas uma frase para suas reflexões: “Aquele que prega o amor deve, em primeiro lugar, saber perdoar”.
Poderíamos também repetir a frase monumental de Jesus pronunciada quase na sua agonia: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
Irmão Anthero
(recebido por via mediúnica)