05 – Não saiba tua mão esquerda

“Não saiba tua mão esquerda” (Mateus VI, 1:4).

Até o presente, tem-se entendido este dizer do Mestre, no sentido de relação a outrem. Entretanto, sempre que o Mestre pretendeu estabelecer o relacionamento na exposição de suas parábolas, o fez de maneira clara: “Se a vossa justiça não exceder a dos fariseus…”, “Quando jejuares…” e outras tantas, que não deixam dúvidas quanto ao propósito.

Todavia, ao dizer “mão esquerda e direita”, não estabelece esta relação, mas refere-se a ambas as mãos de uma mesma pessoa. Ainda que pareça muito simples, fixa uma condição para que todo ato e procedimento do homem possa constituir-se em realidade, em atos de nobreza fraterna ou legítima expressão de amor ao próximo, determinando a existência do “céu interior” consolidado no espírito.

O segmento evolutivo do homem no hoje, determina dois pólos motivadores de ação, sendo um o EGOÍSMO e o outro a VAIDADE. Estes propulsores bem demonstram sua necessidade, sem eles em nada teria avançado o progresso através dos tempos. Tal pensamento nos leva a concluir que o homem AINDA age em busca de algo através desses dois sentimentos. Não poderia, portanto, entender o ensinamento do Mestre se não fosse por esse prisma mental.

É nesse sentido que se tem evangelizado, dizendo que todo ato do qual nos jactamos ante os demais, deixa de ser considerado como caridade ou amor ao próximo, não obtendo a sanção do Pai, visto que pela admiração e consideração dos homens, já recebeu seu galardão!

Poderão afirmar que o próprio Mestre tenha dito sobre a retribuição pelo Pai em “secreto”, mas se levarmos a análise dentro dos princípios evolucionistas, teremos uma contradição, porque evoluir é transformar-se, é o despertar da inteligência, é a moralização pelo esforço contínuo, o que não se ajusta ao senso de prêmio pelo feito.

Devemos entender a necessidade de transmitir ensinamentos consoantes à época, o que fez o Mestre, sem contudo deixar de inserir o “espírito dos mesmos”, dentre as frases acessórias necessárias complementares à narrativa.

Se atentarmos bem para a parábola, não encontraremos a carência da repetição de exemplos, como na que estamos focalizando: “Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti como fazem os hipócritas nas sinagogas. Tu, porém, ao dares a esmola… “ e aí sentimos que a primeira referência completa o exemplo, mas o Mestre acrescenta: “Não saiba tua mão esquerda o que fizeres com a mão direita”. (Mateus 6:2 e 3). Não existe, portanto, um sentido de relação, sendo este o “espírito” do ensinamento.

Ainda que vindo do próprio Mestre deve, como ele mesmo propôs, ser examinado dentro da razão – razão humana – única que possui o homem, a quem foram transmitidos tais ensinamentos, para que se chegue à “verdade”.

Se procedermos em “secreto” quanto ao homem, nem por isso deixamos de abrigar o dissimulado egoísmo da “retribuição superior”, o que desvirtua o ato como fruto puro e simples do amor ao próximo, extravasado espontaneamente, face à altura evolutiva.

No pensamento da “graça” pelo feito, entra a parcialidade sem contestação, destruindo o princípio de justiça, porque coloca um na situação de carente e o outro na de sobejo! Desde que se trate de amor ao próximo, não pode prevalecer este sentimento, que é virtualmente oposto ao outro. Ou fazemos movidos pelo amor, que em si já se constitui numa paga, ou fazemos com vistas ao galardão, quer dos homens, quer de Deus.

Temos, portanto, que a mão esquerda é pura e simplesmente o sentimento prevalecente aos olhos de Deus, que retribuirá em “secreto”, e a mão direita,a nobreza de alma já alcançada na senda da evolução, independente do galardão de qualquer espécie, totalmente esquecido do valor do ato, porque já abrigamos e somos esta força irrefreável que nos impulsiona a agir sem pensar, porque estamos vivendo o ato. Esta força que foi capaz de arrastar um Mestre Nazareno a encarnar e arrostar o sofrimento inerente ao ambiente, sem ao menos proferir uma sílaba e revolta. Prevaleça, pois, o exemplo.

Aí está exposto o “espírito” do ensinamento, que são os dois sentimentos antagônicos por princípio e não podem juntos prevalecer num mesmo ato. Num procedimento, o amor é fruto da evolução e ajusta-se sem reservas à justiça do “auto-evolucionismo”, e no outro, distorce o realismo em si mesmo.

Enquanto o evolucionismo auto-premia o esforço pela transformação, o “galardão” permite a esperança externa, permanecendo o que é, como é.

A aparente contradição queda-se tão somente na letra complementar sem ferir o espírito, o ensinamento nela inserido, com a maestria que só Jesus possuía.

Se o “espírito da verdade” deve ser agora exposto pela verdade do espírito, por que se continuarmos a concluir com a panacéia da evangelização condicionante, e não dizermos que ao lado de cada “casa de caridade” se levante uma escola de cultura e moralização da infância e da juventude, que dará ao reencarnacionismo o cunho de detentor da verdade como verdade?

 

 

Irmão Mateus

(recebido por via mediúnica)