08 – Suicídio II

No artigo sobre suicídio, primeira parte, dissemos que “TUDO QUE NÃO FALAR À RAZÃO DO HOMEM, PERDE A CONSISTÊNCIA COMO FATO”. Deduz-se, pois, que os fatos não emergem do suposto da lógica, da hipótese ou do dogma, não tem amparo no conceito individual, mas firmam-se na lógica concreta e axiomática. O sol é o sol e ninguém contesta.

Se os fatos não podem estar divorciados na realidade e o que entendemos como sociedade, como é, como está em sua estrutura e dinamização, e sendo o suicídio um dos resultados desta mesma condição social, é dentro deste limite quanto a causa e efeito, que devemos analisar.

Todavia, dentro de tais limites, não existe possibilidade de forma consciente e responsável para uma resposta clara e concreta que venha definir os motivos tanto do suicídio como dos desgostos.

As ciências específicas tais como: a psiquiatria, a psicanálise e mesmo a psicologia, vêm-se envolvidas por inusitados fatos e todo recurso conhecido torna-se senão invalidado, pelo menos sem resposta condizente.

Cada pessoa é um UNIVERSO incógnito de difícil acesso cuja exteriorização é sempre limitada pela conveniência defensiva face ao agressivo sócio-atuante.

Não bastassem tais fatores, temos em conta ainda a relação ÉPOCA-SÓCIO-EVOLUTIVA variável, ininterrupta e ascendente.

Assim, a ociosidade, que é uma constante nas raças menos “civilizadas” e evoluídas, não conduz ao desgosto e tampouco ao suicídio.

À medida que a sociedade evolui, o ócio, por força do fato, vai-se tornando impossível face a exigência da dinâmica moduladora da existência em termos de sobrevivência, o que já podemos vislumbrar uma definição relacionada com os limites de uma ÉPOCA-EVOLUÇÃO.

Desde que as causas no decurso do tempo sejam erradicadas, também seus efeitos o serão, e a atingirmos esta fase evolutiva em sua plenitude teremos erradicado todo e qualquer motivo de desgostos da vida que nos possa levar ao suicídio.

Vemos, portanto, que o estado emocional que conduz ao desgosto e não raro ao suicídio, comporta-se dentro de uma fase época, não podendo instar-se como uma constante a definir um processo.

Retornando à realidade nua e crua como convém a uma doutrina que se fundamenta estrita e inapelavelmente em fatos, sentimos quanto contraditória é a afirmativa de que o suicídio é uma contravenção às leis de Deus.

Em primeiro plano temos que esta lei exige o absurdo da auto-superação dos fatores expostos pela própria doutrina, como sejam: a ociosidade, a falta de fé e a saciedade. Se estes fatores realmente existem, lógico será entendermos que não sobrevieram ao acaso e que, queiramos ou não, constituem a porta facultativa ao ato.

Se na teoria existe a proibição e na prática é facultada a consumação do delito, o que em tese implica em conivência, fica eliminada, “ipso fato”, a culpa do autor.

A razão fica inexoravelmente na pendência entre proibir e facultar. Podemos ainda concluir não só do facultar como também imprimir meios conducentes através dos desajustes sociais e seus genéricos, além da enfermidade física.

Convenhamos em razão e fato que todo suicida é uma vítima de motivos e de circunstâncias geradas por exemplos ambientais, com reflexo no interior sensitivo. Estes fatores se concretizam no estado evolutivo do indivíduo dentro da coletividade da qual recebe as influências psicológicas motivadoras.

Uma análise ainda que superficial do estado e da dinâmica da sociedade, nos dirá da inversão de conceito sobre os que, por um ou outro motivo se suicidam, o que de pronto os imuniza das chamadas penas ressarcitivas que “cruelmente” experimentarão “mais tarde”, linguagem cabível estritamente na justiça humana, mas que é diametralmente oposta à avaliação e apreciação do FATOR SUPREMO E ABSOLUTO sobre sua própria obra.

Vemos, pois, que tanto o ócio como a falta de fé, bem como a saciedade, não constituem regras determinantes do suicídio ou desgosto da vida, porque nem todo ocioso se suicida, bem como raríssimos ateus e pouquíssimos miseráveis.

Se aceitássemos tais motivos para o suicídio, teríamos que nos conduzir, pelo bom senso, nos meandros racionais derivados da própria exposição doutrinária. Teríamos que tais fatores levariam o indivíduo a um estado permissível ao ato, portanto, a um desequilíbrio que, de acordo com as ciências, é uma “loucura” e os loucos que se matam não sabem o que fazem. Todo ato anormal provém de uma raiz anormal.

O entusiasmo suscita irreflexão a qual resulta em incoerência que o tempo e o avanço cultural neutralizam pela base.

 

 

Suicídio e Evolução

Alvorando-se como evolucionista e alicerçada sobre fatos, é dever inescusável da doutrina, pelos seus princípio, meios e fins, esclarecer a diferença entre o evolucionismo e o salvacionismo.

Abstração feita ao senso genérico de evolução, mas fixando-se apenas no ângulo da essência (espírito) se nos descortinam horizontes de amplitude e nuanças não abarcados e definidos pelo conteúdo doutrinário.

 

O que é evolução?

Podemos simplificar ao extremo sem que fujamos à realidade, dizendo que a evolução é a “eterna” busca de si mesmo no sem tempo nem espaço, ou seja, na eternidade e no infinito.

Nada é acrescentado e nem subtraído ao espírito em se tratando de sua evolução. porque esta nada mais é do que o desabrochar do que em potencial JÁ existe, perfeito e completo.

Como toda obra diz de seu obreiro e, sendo o FATOR A INTELIGÊNCIA SUPREMA E PERFEIÇÃO ABSOLUTA, TUDO QUE DELE SOBREVIER O SERÁ EM CONDIZÊNCIA. O Espírito foi criado “num estado” de ignorância, mas não um SER ignorante.

Tomando o estado como suscetível de mutação, temos que a evolução é a oscilação constante ascendente deste estado, o que resulta no desabrochar gradativo da inteligência e demais constitutivos do espírito.

Disto obtém-se a compreensão de que o exterior, leis naturais do campo habitacional, incide sobre o espírito, via físico, como concitante da dinâmica defensiva construtiva, em termos de reação que amparada no raciocínio, tem neste o exercitativo despertador e aflorador da inteligência, conseqüência básica na ordem e cronometria da evolução. Sem a desenvoltura de inteligência não há lastro para que outros componentes do espírito despontem, se desenvolvam e se consolidem.

Vemos, portanto, embora em breve mas racional exposição, que a evolução é literalmente divorciada do conceito de recompensas advindas de qualquer fator exterior, fruto mais da subserviência, condicionado psicológico inconsciente, com raízes no obscurantismo medieval católico.

Quanto ao conceito das recompensas, não podemos dizer que seja uma mentira, mas uma falsa verdade. Neste particular, notamos a influência da “formação” puramente católica, quer de encarnados como de desencarnados.

Todo espírito que apregoar recompensas, distorce a verdade e conflita com a razão SUPERIOR. Todo espírito que apregoar os cruéis sofrimentos cai, inapelavelmente, no mesmo padrão salvacionista mítico-místico medieval e, por isso, está em oposição à realidade evolucitária.

Como o espírito foi “criado” num estado de ignorância e a evolução é eterna, temos que, seja qual for o ponto da escala evolutiva em que se encontre o espírito, todo e qualquer procedimento está em exata condizência com a ignorância relativa e constitui o extremo de sua capacidade evolutiva, não sendo possível a superação. Se pelo fruto se conhece a árvore, logo, cada árvore dá o fruto que é capaz. É a lógica.

O apregoar da crueldade dos sofrimentos advindos pelo suicídio deixa muito a ser explicado quanto a origem dos fatos e objetivos da criação. A opção pela recompensa enfeixa fatores externos creditícios não relacionados com o estado evolutivo em que se encontra o espírito.

Um homem pode, quando condicionado mentalmente, viver e proceder em perfeita subserviência moral e social com vistas às recompensas, sem que todavia o seu “SER” alergue “sentimentos vida”. Este é o módulo salvacionista destinado a subjugar a massa ao talante de interesses materiais, como o concreto histórico nos informa.

A partir do momento em que o evolucionismo penetre o religioso, passa a defletir do seu básico que é a desenvoltura intelecto-científica. Desde aí fenece como realidade.

A evolução não pode, sob qualquer hipótese ou alegação, firmar-se em ter, estar ou fazer, mas unicamente em “SER”. Ter, estar e fazer são efeitos lógicos e naturais do SER. Distingue-se, portanto, de forma clara, a determinação dos verbos indicativos da causa e efeito.

Onde encontrar provas irrefutáveis de que os “cruéis sofrimentos” não passam de criatividade originária da liberdade de dizer? Aí a lei constante, quer o espírito esteja ou não encarnado.

Se as leis eternas e imutáveis (constantes), basta volvermos o raciocínio para a realidade em que vive o homem e teremos, de forma indiscutível, a prova da vacuidade de tais afirmativas.

Qual a reação das leis “ditas de Deus” sobre o criminoso no decurso da existência? Secará a fonte? Apagará para ele o sol? Semeando não colherá? Qual, em suma, a reação sobre todo e qualquer crime, dolo ou “transgressão das leis de Deus” conhecida no âmbito terreno sob qualquer forma? Existem meios de determinância inescusável como regra?

Por que a mudança das “leis” quando o espírito está na erraticidade? São eternas ou convencionais?

São pontos a ponderar e definir, dentro porém da razão do homem, como fatos. O entusiasmo empana a lucidez de inteligências de escol ao ponto de não avaliar a responsabilidade da palavra.

O evolucionismo não se alicerça ou se estrutura sobre supostos, já o dissemos, e isto nos encoraja a inquirir de forma clara, requerendo respostas axiomáticas.

Quando falamos em evolução, é imperativo discernirmos o “evoluendo” com a necessária precisão, que no caso é o homem, encarnado ou não.

O que é o homem encarnado?

Abstração feita aos supostos que afloram são denominações várias ao sabor das profitências, chegamos ao realismo inconteste de que o homem encarnado é um bi-dimensional: IMPRESSÃO e EXPRESSÃO e o desencarnado a EXPRESSÃO somente. Por impressão temos o corpo de carne em que tocamos, sentimos e vemos pelo natural, e por expressão temos a exteriorização da inteligência pelas palavras e atos.

O que Saulo denomina “corpo celestial”, hoje perispírito, nada mais é do que a forma-auto-conceito, face à condição evolutiva do espírito. Digamos que o perispírito é uma concepção mental que se condensa na forma, da qual, pelo seu estado de evolução, o espírito não pode ainda prescindir.

O homem expressão é um potencial de valores incalculáveis, quer quantitativos, quer qualitativos, cuja exteriorização depende do “grau” de evolução a ser desarrochado na eternidade (em termos de tempo) e no infinito (em termos de espaço).

A este constante aflorar de valores é que dizemos evolução, o que de pronto nos indica o resultado de um processo EDUCATIVO, literalmente desvinculado de corretivos e adendos apregoados “daqui do espaço” e coadjuvados aí na Terra.

Torna-se óbvio, portanto, que para um efeito requerido, uma causa correlata e conducente, o que os cruéis sofrimentos não traduzem.

O evolucionismo, entendido à luz dos fatos e da razão lúcida, tem o condão de soterrar o conceito anti-racional do “temor a Deus”, substituindo pela compreensão “através das obras” (porque só elas fazem fé), e como esta é a verdade, dela (da compreensão) sobrevém a libertação.

O CRIADOR adorna o mundo com a riqueza das flores sem inquirir dos nossos merecimentos. Isto é obra de Deus que, penetrando à razão crítica e analítica, concretiza a certeza do amor e da causa para o efeito.

 

 

Irmão Lúcio

(recebido por via mediúnica)