15 – Evolução e Caridade – Evolução e Religião

A grande maioria das religiões prima por dar à evolução o sentido de motivação, aquisição, ou seja, elevar-se e apropriar-se das benesses conseguidas pela prática de atos objetivos, tendo em mira as recompensas “post-mortem”. Este proceder valoriza as aquisições externas e, de modo algum, constitui a verdadeira evolução espiritual.

Evoluir é um estado permanente do espírito que desabrocha suas potencialidades através do tempo. É desenvolver a inteligência em conjunto com a razão e a consciência com visos à moral que resultará nas virtudes que conduzirão ao amor e deverá prevalecer em todos os atos, obras e tudo que for feito. “Tudo o que fizeres faze-o de todo teu espírito e de todo teu entendimento” é o dizer sábio de Saulo de Tarso.

Evoluir é um processo ascendente, via-reencarnações em função de milênios e multimilênios. Evoluir não está na dependência dos códigos religiosos sejam eles quais forem. Ninguém evolui seu espírito por obedecer e cumprir códigos de concepção puramente humanos. A evolução do espírito também não está circunscrita ao estágio de vivências reencarnatórias neste planeta apenas. Evoluir é um formativo do espírito que adentra pelos planetas sem conta, num universo incomensurável. “Existem muitas moradas na casa de meu Pai” (Jesus).

As religiões constroem templos, muitos deles suntuosos, para a prática dos cultos, do adoracionismo e da pregação da salvação. Mas Jesus aconselhou “a busca da verdade” o que difere substancialmente das práticas religiosas. Se o conhecimento e compreensão da verdade nos libertarão, evidencia-se aí o fato de que somos escravizados pela ignorância.

Ao lado dos templos, vamos erigir escolas que darão ao homem condições de dignidade, de progresso, de cultura, deixando o carente de hoje de ser um capital rentável para as práticas salvacionistas dos caridosos, porquanto estas se prevalecem das desigualdades gritantes existentes no seio da sociedade.

É lamentável que o Espiritismo que é uma realidade que se firma em fatos cientificamente comprovados, que veio para restabelecer a verdade por essas comprovações reais e patentes, tenha se colocado à reboque das religiões, modificando apenas sua terminologia, num arremedo deplorável. Se a “Santa Madre Igreja” proclama que “fora da igreja não há salvação”, o Espiritismo religioso não deixa por menos e afirma que “fora da caridade não há salvação”.

Ora, Jesus, o Mestre carpinteiro, o nazareno, a maior inteligência que sobrepisou a Terra, pregou a fraternidade e não o arremedo desta encoberto pelo caritatismo religioso, destoante dos princípios evangélicos.

A verdadeira religião será aquela que em lugar de andrajos, orfanatos e asilos, com a idéia fixa do lucro espiritual (bônus hora), se propuser a fechar os templos e abrir escolas, dando o pão do espírito para que o necessitado possa ganhar condignamente “o pão nosso de cada dia”. É preciso abdicar das recompensas celestiais, se existissem, pelo sentimento da solidariedade humana e cristã. O ódio, a miséria, a fome, o desabrigo, a ambição, o desamor ainda fazem sofrer e levam ao desespero centenas de milhões de “irmãozinhos” em todos os recantos da Terra.

Os caridosos que querem ficar “dentro” e não “fora” da salvação, continuam presos às suas falsas interpretações evangélicas, cuidando do prestígio, do crescimento, do aumento das riquezas das suas religiões, das suas doutrinas e, ameaçando os não caridosos com o fantasma dos infernos, umbrais e vinganças, esquecidos da advertência de Jesus: “Não adianta falar: Senhor, Senhor e não fazer o que eu estou ensinando”.

Jesus não ensinou a caridade que humilha quem recebe e denigre quem a pratica, mas sim o sentimento da fraternidade, do amor ao próximo. Você gostaria de ser alvo de caridade?

Amor, fraternidade é uma coisa, caridade é outra.

Amor é sentimento que não exige retorno, não é mercadoria de trocas ou de negócios com Deus! Amor é efeito da evolução. É “ser” e não “ter”! É preciso “ser” o amor e não “ter” caridade.

O grande arauto do Evangelho, Saulo de Tarso, gravou de forma magnífica essa afirmativa ao proclamar, valoroso e cônscio das suas limitações na época: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos… eu ainda não sou”! Saulo de Tarso, a despeito da sua elevada estatura espiritual, ainda não se sentia “sendo” em espírito, onde a vida interior em permanente vicejasse em toda sua sensibilidade e plenitude.

O verdadeiro cristão é aquele que abriga no desempenho dos seus atos o sentimento demovente em “fazer com a direita sem que a esquerda saiba”, a razão do próprio ato. Temos que a obra é a concretização do conteúdo da fonte, o que traduz inobjetividade ou ausência de calculismo rentável em função da obra.

O “fora da caridade não há salvação” dá à caridade um sentido quase que obrigatório, condicionando a salvação à sua prática. Onde o mérito? Existe o interesse da salvação? O que busca o cristão? O que busca o reencarnacionista? A salvação ou a evolução?

Quando olharmos para um irmão necessitado aqui na Terra não devemos ver apenas um carente de ajuda material, mas sim, devemos ver um espírito necessitado, não da nossa caridade, mas do nosso calor humano, da nossa fraternidade inobjetiva, da nossa compreensão, tudo isso fora dos templos.

As religiões sempre foram instrumentos de defesa dos interesses de grupos ou classes dominantes mais favorecidas. Usam e abusam das ameaças dos supostos castigos eternos e de além-túmulo aplicados aos insubmissos, ainda que tal insubmissão tenha como fatores a ignorância, a fome, a miséria e o desespero.

Sempre fizeram da caridade-esmola, que vem da sobra dos ricos, um paliativo para calar os menos favorecidos e para que pudessem suportar as agruras do desequilíbrio social dominante.

As religiões mentiram, distorceram e condicionaram o Evangelho de Jesus, sempre em proveito de uma minoria.

O amor ao próximo não pode ser praticado sob condições e prometimentos ou para fugir dos umbrais e infernos, se existissem.

O que é preciso é substituir a religião pela moralização, pois o homem moralizado não precisa da mística religiosa, porque sente através de sua moralização o dever de amar e a responsabilidade junto aos seus irmãos.

O Kardecismo é claro quando afirma: “conhece-se o verdadeiro espírita pela sua completa transformação moral”. “Moral” e não religiosa.

Será que estamos pregando o materialismo? Sim, e com todas as letras e todas as virtudes humanas puras e sinceras, envolvidas no legítimo sentimento cristão, que é a lealdade vertida do íntimo, sentimento de irmão para irmão e não de pessoa caridosa para com os pobres, mas que admite e permite a existência de escalões, castas, classes e desigualdades sociais gritantes. “Nicodemos, eu vos falo das coisas da Terra” (Jesus).

As religiões vêm se constituindo num engodo milenar onde a criatura vai buscar a santidade e a salvação nos templos para a farsa da apresentação social, onde o exterior prevalece, e a falsa humildade predomina.

Jesus convocou os homens de boa vontade, aqueles que não olhassem para trás e se dispusessem às tarefas dos verdadeiros seareiros que buscam o campo do trabalho e não o da adoração. “Quem quiser vir após mim, tome a sua cruz e siga-me”, disse Jesus. Não é a cruz da infâmia, do gólgota ou do sofrimento. O que Jesus pede é que os cristãos não venham de mãos vazias, que carreguem a cruz da sua responsabilidade, da cooperação fraterna e laica e que não venha a mendigar salvação!

Carregue a cruz aquele que já enxerga as pegados do Mestre carpinteiro e uma a uma vai sobrepisando-as a cada reencarnação.

Não é a cruz do martírio, do sangue salvacionista, porque está é a cruz pregada pelas religiões. Religiões que são frutos da concepção puramente humana, que nasceram de interesses subalternos de uma casta sacerdotal que ambicionava o poder, o mando e as riquezas.

É preciso que cada um entenda que é senhor de si e responsável pelos seus atos. O homem religioso abdica do seu próprio livre-arbítrio pelo escravagismo mental de uma dependência deusística em busca do nada! Por que, cristãos não sair desse calabouço da ilusão e “buscar a verdade”, como aconselha Jesus?

Ter fé em Deus não invocá-lo e adorá-lo por forças dos códigos religiosos mas é estar NELE com consciência de causas e efeitos.

A evolução do espírito deve independer das “graças” de Deus. Evolução é fruto do próprio esforço. O erro crasso é dar a César o que é de Deus e a Deus o que é de César, numa inversão absurda do dizer do Mestre.

Não existe campo mais fértil para a utilização da psicologia impositiva do que a ignorância que resulta na exploração dos deserdados em capital rentável para os religiosos tribunalícios e salvacionistas.

Pior que a ignorância é a cultura modelada sob título sectário, que suprime ainda mais a liberdade, destruindo a personalidade.

A cultura só é válida quando laica.

 

 

Wilson Levy Braga da Silva

(excertos do Irmão Anthero e outros espíritos)