33 – Palavra II

Quantas vezes sentimos na palavra um fundo de recalque: “Daquilo que fala a boca, está cheio o coração”. Como podemos pedir sinceridade? Comecemos por nós mesmos não usando a expressão que pode ferir diretamente.

Usemos o verbo como irmãos, o verbo construtivo, objetivo, claro como a luz, pois se pretendemos a luz, por que esconder dentro de nós o sentimento das trevas e deixar que ele se derrame através da linguagem mansa, aparentemente humilde e até cristã?

Vamos, pois, aprender que a linguagem, a maneira de expressão e até o timbre da própria voz pode se tornar cativante ou construtiva, como também discordante e, consequentemente, fazendo com que tudo se espalhe!

Há muitas maneiras de se dizer a mesma coisa.

Quando pretendemos juntar, unir, fundir em torno de nós, devemos convidar ao trabalho com uma linguagem amena, e esta linguagem deve ter a expressão única em nossa própria existência.

Aquele que se diz espiritualizado tem no próprio verbo o timbre do amor. Tem na palavra o próprio eco daquilo que lhe vai na alma.

Muitas vezes, no simples dizer destruímos muito. Com uma simples palavra derrubamos um trono! Podemos dizer tudo, podemos ser sinceros, francos, o que é bastante necessário, dentro de uma expressão amena. O discípulo de Jesus precisa sentir que um olhar dirigido a alguém deve estar envolto no sentimento do amor. Um gesto deve levar a expressão do amor. Uma palavra deve ecoar, e atingir o ouvido de quem ouve na tonalidade de uma harmonia deliciosa, embora seja uma reprimenda.

O que não se pode suportar é sentir no espírito que fala com a voz doce, entrecortada de poesia e doçura, vibração completamente oposta.

É preciso sentir, viver aquilo que se diz par que não se torne hipócrita! Eis aí um princípio fundamental, inteligente de arrebanhar, unir, galvanizar em torno de si um grande número de cooperadores.

Sejamos honestos nas expressões. Digamos exatamente aquilo que queremos dizer, fujamos ao subterfúgio, ao subjetivo da expressão, o dizer não dizendo.

Iniciemos por nós mesmos a ser honestos e francos, leais, sinceros, humildes, cooperadores. Importa e muito, que em todas as ocasiões meditemos dez para dizer um e, por vezes, meditemos cem para não dizer nada!

Importa não forçar o sentimento alheio, não querer modelar as criaturas segundo as nossas próprias concepções, segundo os nossos próprios pensamentos.

Importa, sim, tentar trazer a criatura através do amor, da compreensão, da doçura sincera (não aparente), para o âmbito, para o seio do nosso convívio amoroso, e fazer dela a nossa cooperadora.

A imposição não cabe em lugar nenhum. Existem várias maneiras de se impor: uma delas é dizer o que não quer dizer, é não dizer aquilo que quer dizer.

É muita responsabilidade, e esta às vezes, é superior ao próprio entendimento, é ter a roda do leme às mãos e sentir-se desarvorado nos primeiros clarões da tempestade, nas primeiras ondas bravias do mar revolto! O importante é manter sempre a serenidade de todos! Impor-se sim, pelo amor, pelo exemplo de humildade e de compreensão. Este é um fator importantíssimo e, por que não dizer, é a pedra fundamental de toda estrutura unificada.

Se a chuva se faz necessária para que vicejem as flores, o sol também não é desprezado. O eterno frio, falta de um calor adequado, pode perfeitamente imobilizar muitas vezes uma obra nascente.

Sejamos condescendentes com o nosso próximo, severos e exigentes conosco.

Não pretendamos que os outros sigam exata e justamente os nossos próprios ditames, porque nem sempre estão à altura de caminhar com a mesma lepidez que nós.

Portanto, refreemos o nosso passo para que o outro nos acompanhe, usemos inteligência e perspicácia cujo invólucro é o amor e a compreensão.

Se existe algo errado, busquemos o princípio que alimenta o erro, freemos o passo e esperemos o companheiro de jornada, para que nos alcance.

 

(recebido por via mediúnica)