19 – Intercâmbio

O manifesto extracorpóreo não constitui revelação destinada a dar ao homem ciência da continuidade da vida, ou da inexistência do céu após o túmulo.O hermenêutico evolutivo contido no código nazareno, não pretende novas roupagens místico-religiosas, mas é o início de um intercâmbio natural que visa a uma conjugação de esforços dos dois estados da mesma humanidade, e que em mundos social, científica e moralmente mais adiantados, faz parte do cotidiano, objetivando o progresso em toda linha da família humana agregada a tais planetas. Obedecendo ao programa estruturado através dos séculos, esse intercâmbio vai se processando em escalas sucessivas, dando aos encarnados o tempo necessário ao amadurecimento da compreensão para que haja assimilação.

Em obediência ao traçado operacional, mesmo que reencarnem espíritos esclarecidos quanto à verdade ou quando desencarnados em missão específica, vedadas lhes são ações mais avançadas que venham causar desarmonia, ou provocar choque com a concepção vigente, que só poderá ser apagada dentro dos fatores tempo-ordem, fundamentos de todas as realizações no orbe. Esses espíritos, consoante as possibilidades, ora em posição de destaque e autoridade, ora como simples componentes da massa anônima, vão conduzindo a mentalidade dos encarnados em direção ao progresso científico, à humanização dos costumes, promovendo a cultura e amenizando o rigor das leis vingativas pelas educativas moralizantes.

Nessa morosidade equilibrada e consciente, vão preparando terreno para coexistência comum no futuro entre encarnados e desencarnados, em clima de solidariedade tão fraterna quanto construtiva, rumo à meta única: o progresso e o bem estar material, dentro dos mais elevados padrões de moral. A família humana da Terra estará em condições de unir-se a outras tantas de igual teor evolutivo, em outros planetas, objetivando, após outros milênios de labor, a ascensão a escalões evolutivos superiores, e pautando sempre pela tríade inalienável do evoluto – cultura, ciência e moral – que será dilatada em planos de vida intra-sensorial pura.

Quem raciocina e analisa a verdadeira razão das reencarnações sente esta verdade: quanto mais culta a sociedade, menos ela suporta o despotismo de qualquer espécie e, dentro ainda dos fatores tempo-ordem, vai procurando sua libertação. Há o despotismo frontal imperativo, aberto e claro, que visa a escravidão direta do físico e das idéias, e há aquele que é conduzido com argúcia pelos meandros da palavra sensibilizadora e convincente, que transforma o homem no corpo livre e mente escrava, aos interesses estritamente humanos de parcelas.

O mundo de hoje está dividido em dois campos ideológicos distintos: um, tido como essencialmente materialista, dito também proletário, e outro que se diz democrático-capitalista e pretende arvorar-se em espiritualista. Naquele como neste, estão encarnados espíritos de elevados conhecimentos científicos e moralmente muito evoluídos. São dois mundos diametralmente opostos na aparência, mais compostos de criaturas humanas. Como tal, deverão fundir-se num só e único, quer queiram ou não, pela elevada compreensão do valor da fraternidade cooperativista, consciente e espontânea, princípio elementar do Evangelho.

O materialista para subsistir, aniquila a essência da vida que é a liberdade: estará sempre na dependência da força coercitiva, pretendendo somar caráter, inteligência e sentimentos heterogêneos.

O democrata dito “espiritualista” ou religioso, onde impera o capitalismo, embora não use métodos de coerção, substitui-os pelo da submissão, através do potencial econômico. Tem como aliadas, as místicas que condicionam mentes incultas ou cultas e tímidas, quando não acomodadas (abstração feita às cultas e mercenárias), a subserviência passiva, pelo terror do castigo de Deus, ou as promessas falazes de prêmio celestial inexistente. Despertando o protecionismo individual, vão mantendo na inconsciência estagnante, grande parte da família humana, retardando e não imobilizando a marcha lenta mas ininterrupta da evolução.

Ante o exposto, podemos aquilatar quão difícil e delicada é a tarefa dos anônimos missionários evolutivos, para que seu desempenho não entre num impasse com a mentalidade atual, levando o todo pela trilha dos eventos sucessivos, esclarecedores e unificadores, até a meta pré-traçada para a Terra.

Nos dois semicírculos sociais vivem criaturas humanas, com os mesmos sentimentos e percorrendo o mesmo caminho rumo à evolução sob a égide zelosa do Criador. Em ambas as partes existem os verdadeiros intermediários do mundo incorpóreo, a quem são transmitidos os avanços científicos e princípios culturais elevados. Estes intermediários, ainda que obedecendo aos traçados políticos, na aparência, vão lentamente norteando-se para os fins objetivados os quais, como os fatores no-lo atestam, não constituem por longo tempo propriedade ou segredo, visto que são transmitidos em tempo certo a cada parte do semicírculo.

Vemos, pois, que o Criador orienta sua obra sem constranger compulsoriamente, determinando apenas circunstâncias, dentro das quais o próprio homem labora sua evolução.

O que importa é que as mentes esclarecidas não fiquem estarrecidas ante eventos sociais transitórios, oscilantes, tanto atuais como passados, mas deles se valham para analisar a História de ascensão gradativa, em função da cultura e relativa humanização da própria sociedade. O que importa é que, apesar das místicas, há a impossibilidade de o ontem viver o hoje e o hoje viver o amanhã, o que prova ser a evolução ininterrupta e objetiva, conduzida dentro de normas humanas e liberais, sem tempo determinado, indiferente a credos e seitas e, sobretudo, universal.

A manifestação ostensiva e organizada do plano incorpóreo constitui uma tomada de contato, em moldes concretos, buscando a possibilidade de um entrosamento efetivo com os encarnados, dentro de planos pré-estabelecidos, com diretrizes definidas, imunes a qualquer influência terrena insuplantável. Ela prevê e neutraliza, no devido tempo e necessária ordem, qualquer objeção negativa real. Não se circunscreve a denominações, não se amolda a convencionalismos, não se submete a ditames de qualquer ordem e não se serve de arautos unilaterais inconseqüentes. Ainda que ela não silencie o verbo místico e melífluo vasado do espaço através desses arautos porque aqui há liberdade de dizer, tanto quanto na carne, sabe ser ele de efeito transitório e, portanto, inócuo.

A manifestação do plano incorpóreo não cala os tribunos-realejos, porque lhes mede a infantilidade e o desconhecimento do que pregam, em escala idêntica, sabendo que falam muito sem nada dizer e pelo artifício do verbo em função da fertilidade imaginativa, constroem castelos de tal fragilidade que ruem ao leve sopro de uma análise séria, ainda que elementar.

Já é tempo de o encarnado entender que essa introdução do incorpóreo no corpóreo visa a fins mais sérios, de interesses recíprocos em termos de evolução. Ela contrasta com a interpretação atual, que dá margem a essa mística que campeia pelos Centros e Núcleos Espíritas, com o beneplácito dos órgãos ditos superiores e orientadores.

 

 

Irmão Anthero

(recebido por via mediúnica)