20 – Obra interior e obra exterior

Cada um planta, ao longo do caminho, a sua própria árvore espiritual que o acolherá para o necessário repouso nos momentos de cansaço e de abatimento. Esta árvore é delicada e sua semente chama-se fé. Uma vez transformada em árvore, tem que ser irrigada pela água da paciência, da compreensão, do desapego, na segurança em Deus, na confiança depositada no Pai, na serenidade em todos os instantes, nas obras interiores realizadas e então, seremos frondes gigantescas que abrigarão o espírito cansado, não envolto em desânimo, mas com alento para meditar, repousar e estar sempre pronto para reiniciar a jornada.

Portanto, cada um deve plantar a sua própria árvore para que possa sob a sua sombra descansar e ter o merecido repouso.

Árvore é um simbolismo, mas dá idéia de que a independência é conquista, nada mais.

Aqueles que querem viver o Cristianismo na sua mais perfeita pureza, sabem que sem obras, sem movimentação, sem a dinâmica cristã, não existe Cristianismo. Não existe o Paracleto nem o Consolador. Consolador no caso, pode ser substituído pelo sinônimo “o portador de esperanças”. Não é o que consola, mas dá esperanças, abre o campo emocional, condiciona a criatura para a luta em busca de novos campos espirituais. Aí sim, ele é o Consolador, a esperança.

 

OBRA INTERIOR – OBRA EXTERIOR

Obra exterior porque, mesmo construída, operada ou realizada, não deu à criatura aquela sensação de beleza espiritual. Por que não teria dado? Porque existiu nela um “quê” de vaidade empanando todo o brilho interior da obra, o que a torna exterior, é apenas uma realização. Não educou aquele espírito no esforço constante.

Há suntuosidades, monumentos vazios de espírito, não vibram dentro de si o sentido educativo e que, através destas realizações, a criatura possa seguir a escola benéfica do sacrifício e do amor ao próximo. É necessário que aquele monumento tenha vida dentro de si, dentro de cada espírito, pois precisamos de obra interior, procurando tirar todo proveito da obra exterior, remodelando-nos no trabalho (prática dos ensinamentos de Jesus).

Jesus não ensinou somente a construir obras interiores, mas disse: “Ponham em prática através das obras e passem a viver em sentimento”.

Precisamos fugir da obrigatoriedade das realizações. Deve prevalecer a espontaneidade advinda de um profundo amor ao próximo. Quando construirmos, devemos perguntar não se está bonito, se está dentro da estética, ou se é grandioso, mas para quem servirá. Isto é que é obra interior a qual deverá ser feita por amor, procurando na execução desta obra, a própria educação espiritual.

Temos, assim, a dinâmica cristã movimentando o interior do espírito. O importante mesmo é que construindo interior e exteriormente, cada um busque conquistas do momento sem a pretensão do amanhã melhor.

“Cada um receberá segundo suas obras”. Receberá o quê? Poderá receber aquilo que quiser. Se na obra empregar o sentimento de vaidade, já está recebendo segundo sua obra, a negatividade. A obra estará consolidada na pedra sem o alicerce espiritual da humildade, do desejo de remodelar-se.

O que são as obras? Serão as pedras superpostas no chão? Um sorriso amigo é uma obra. Um gesto de amor é uma obra e também um carinho vivido, um carinho que vem da alma, não aquele sorriso pré-construído para que o Pai veja e registre pensando que sendo bom, terá um dia, uma paz eterna e uma felicidade duradoura.

 

Importa compreender de uma vez para sempre, que o Paracleto não veio trazer absolutamente, um novo Jesus crucificado, nem um Evangelho novo. Veio trazer sim, notícias reais, vivas, indiscutíveis, inadvogáveis, porque um dia quando ocorrer o desencarne, se as obras não forem obras que tendam a reestruturar o sentimento, que condicionem emocional e moralmente cada um para que possa viver, independente de lugar (“céu” ou “inferno”), um estado de espírito de paz, de tranqüilidade, possa viver a vida emotiva, a vida interior, redimida através das próprias obras, possa ser e não estar, que mais precisa a criatura para se capacitar da realidade?

Quando for feita uma doação material para uma obra externa, que se faça com a grandiosidade do amor, com o desejo de ver alguém sorrir, que circunscreva a felicidade de ser bom no momento da bondade e terão diuturnamente lições e oportunidades magníficas.

“Cada um receberá segundo suas obras”, ou seja, cada um receberá e guardará no tesouro interior, segundo suas vibrações de amor e de desprendimento, porque não existe obra interior que não seja fundamentada nos alicerces das sublimes virtudes e no aprimoramento interior.

O importante é entender que não é servir a Jesus. Quem menos precisa de ser servido, venerado, é Jesus e ele não necessita absolutamente que o venere, que o agrade, que o bajule.

Nunca foi dito pelo Mestre que: “Cada um receberá segundo a veneração que me fizer e pelo amor que tiver a mim!”

“Dizeis: Senhor, Senhor, e não fazeis aquilo que eu mando”. Aquilo que lhes ensino. Portanto, o principal não é dizer: Senhor, Senhor, através da veneração, da adoração, da oração, e o que mais seja! É fazer o que ele ensinou.

E o que ele ensinou? Que amássemos uns aos outros e, como o amor só pode ser amor através da expressão de uma pessoa com outra, de um irmão com outro, então amemos uns aos outros. E o amor não se circunscreve, não tem condições, a prática do amor não está estabelecida num código, não está fundamentada em estatutos ou em regulamentos. O amor é o que é porque é. Ele não se circunscreve ao pão, à roupa.

Cumpre a cada um sentir-se suficientemente encorajado de ostentar o título de cristão, de ter a presunção do conhecimento e da profunda e inegável verdade do retorno de Jesus através do Paracleto e do Consolador.

“Prece”

Oh! Até entre as lágrimas há diferença de sorte,
Umas cantam a vida
Outras gemem a morte
Como se a morte ainda existisse!
Meu Deus, quanta tristeza ao ver alguém sorrir!
Meu Deus, quanta alegria ao ver alguém chorar!
É a sublimação da alma
Num poema líquido vertido.
Como um cantar que do peito sai,
Um puro e doce gemido
Pulverizando a terra, Mestre!
Lágrima bendita e querida,
É sempre um retalho de vida.
Lágrima, pureza feito prece,
Jesus, Mestre!
Temos nos esforçado para te amar
Sabemos que a tua figura magistral
É apenas um ponto de referência!
És a fonte aonde vamos aurir a energia.
És a luz que nos indica o caminho.
És a bandeira de luta que empenhamos.
Mestre! Ensina-nos novamente!
E que de teus lábios possam fluir
as mesmas palavras que tiveram os apóstolos
a felicidade de ouvir!
“Eu vos mando como ovelhas entre lobos.”
Que esta frase, Senhor,
quando depararmos com a ingratidão,
quando a ignorância nos atingir em cheio,
quando tudo ao nosso redor pareça tempestuoso e escuro,
Que este hino de força e de amor
Possa entoar no âmago de todos nós!
“Eu vos mando como ovelhas entre lobos.”
Verso magnífico, Senhor!
Do infindável poema dos teus ensinamentos!
“Ide, curai os enfermos e ressuscitai os mortos em espírito”
Canto tão magnífico que enleva e encoraja!
“Onde estão os teus acusadores?”
Se foram, Senhor …
“Eu também não te condeno.
Vai, e não peques mais.”
“Por que não andas sobre a água,
homem de pequena fé?”
“Toma a tua cama e anda”
E sendo, Senhor,
o fecho da porta celeste,
De tua magnífica doutrina,
deste código áureo
ouvindo dos teus lábios
a síntese da poesia,
O verbo verde de uma esperança
Que não se definha,
mesmo sob o escaldante sol
das dificuldades e dos percalços.
“Amai-vos uns aos outros, tanto como vos amei!”

 

Irmão Anthero

(recebido por via mediúnica)