21 – Consciência evolutiva

No encontro entre Jesus e Nicodemos, o Mestre disse que falava das coisas da Terra e, em realidade, foi o que fez, porque todos os seus pronunciamentos, além de enfocarem fatos do cotidiano da época através das parábolas, sempre se relacionavam ao viver do homem na sociedade.

Cada parábola é o invólucro de um ensinamento, cujo proceder conduz a criatura, bem como toda a humanidade, a um estado de progresso e moralização.

Devemos entender o “proceder” como ação do homem, propondo o Mestre a independência dos cordéis divinos, confirmando assim o livre-arbítrio.

Por livre-arbítrio temos não somente o permitir o ato em si, mas a consulta ao “tribunal interior”, através do qual o homem se auto-determina. Se todo ato deve ser sancionado por esse tribunal, considera-se pois, que já deva existir para funcionar de fato.

O tribunal interior sendo constituído pela razão e consciência, entendemos ser o estado evolutivo do princípio inteligente ou do espírito.

Desde que o princípio já esteja capacitado para julgar com antecedência sobre o valor do ato, conduz o raciocínio ao ângulo natural da razão e da consciência evolutiva que em princípios, meios e fins, distanciam-se da “razão de interesses” pessoal ou social, ou seja, a alegação de razões exteriores como fatores determinantes.

Compreende-se, pois, que “razão de interesses” influi na decisão, e como tal, é dependente do exterior social, sendo que a razão e consciência evolutiva (íntima), não são consultadas para a atitude do momento.

A consciência evolutiva isola-se em si mesma buscando razões conscienciais e, apesar dos prejuízos materiais de toda sorte, os supera, dando margem a que: “vire a outra face”, segundo a fala do Mestre Nazareno.

Depreende-se, portanto, que a consciência evolutiva é autônoma, não imperando sobre ela as imposições, conceitos e preconceitos do exterior, porque compreende independência no valor do ato.

A consciência evolutiva não concebe pelos mesmos motivos, outros resultados que não sejam os em si forjados, como auto-retificadores de conduta, o que entendemos como capacidade de sentir e viver com auto-controle, modelando o comportamento.

Como consciência evolutiva podemos deduzir personalidade já formada, cuja visão dos fatos é uma conseqüência. Por “formada” entende-se a que vê as coisas com “olhos de ver” e ouve com “ouvidos de ouvir”, refletindo capacidade de fazer uso da inteligência na maneira de discernir e compreender a essência das coisas.

Em síntese, a consciência evolutiva conduz-se, não é conduzida. É livre e sobre ela não age a exploração dos extremos sensitivos, isto é, medo e vaidade, através da psicologia condicionante exterior, propondo o ato “crime ou pecado” resultando na aplicação de penas no plano espiritual. Não comporta o escravizante complexo de culpa.

Vendo, portanto, com “olhos de ver” e ouvindo com “ouvidos de ouvir”, entende na verdade dos fatos, a verdade em si, eliminando os extremos sensitivos (medo e vaidade) não dando margem à exploração subordinada à religião.

Disto deduzimos que a religião é condutiva, alheando a personalidade como “ser”, desde que não lhe consulte o íntimo, enredando-a indiscriminadamente ao jugo de uma suposta lei que apenas confere o ato, impondo repressão ou distribuição de prêmios.

A religião não auscultando as possibilidades do homem, ignora-o em termos de consciência e razão no momento do ato, e destrói a personalidade reduzindo-a ao estado de escravidão moral em função das promessas e punições exteriores.

O Evangelho, em contraposição ao critério religioso, coloca a pessoa como ponto de referência, deduzindo da sua competência, estabelecendo concordância com as limitações naturais próprias ao seu estado evolutivo presente e diz “eu também não te condeno”.

Isto sim, demonstra fórum de justiça verdadeira em termos evolutivos, dando ao homem o valor da personalidade humana como “princípio inteligente” que raciocina e age dentro da sua esfera de competência, merecendo tolerância resultante da compreensão do que é e como está, sem transformá-lo numa simples “peça” de um conjunto que sofre a ação generalizada e indistinta.

Poderíamos conceber um impasse, porque as leis não tratam da unidade (homem) em seus desempenhos pessoais dentro do âmbito social, analisando a ação sobre o erro, em função da condição do autor.

Ao iluminarmos a cena em que vive e opera a pessoa e nos dermos conta do heterogêneo de que a cena se constitui, onde o desnível promove desequilíbrio sem número, encontramos na reação de “ordem geral”, uma negação dos princípios de justiça.

Poderíamos admitir como justificável a ação genérica das leis, se as bases promovessem situação de igualdade em todos os sentidos. Entretanto, se permitimos a uns e negamos a outros, teremos resultados compatíveis com esse desnível, porque não há efeito sem causa. A justiça evangélica que consulta (ausculta) as causas através da pessoa humana, não endossa a ação genérica das leis.

Se cada um há de colher segundo o que plantar, admitimos que o plantio será pela razão e consciência, devendo saber o que planta. E como o grão plantado é de origem consciencial, a colheita, por certo, voltará a este celeiro (consciência) e só será deslocada ao aproveitamento retificativo, quando souber dar o valor à experiência colhida.

Se o semeador não conhece a qualidade evolutiva da semente, naturalmente não saberá também da má qualidade colhida. Em todos os casos porém, entram a razão e consciência analíticas, para deduzir com conhecimento de causa, o valor do plantio.

Podemos dizer a um homem que errou, segundo a linguagem terrena e, proibi-lo da reincidência, sem que tenhamos concorrido para a compreensão racional e consciencial do valor moral do ato. Este homem ficará conhecendo que não deve errar, apenas pelos resultados que lhe serão impostos, sem entender como erro perante sua consciência, devido ao seu estado evolutivo.

Não há nesse homem a voz interior para responder sim ou não quando consultada sobre determinado procedimento. Isto demonstra que a capacidade evolutiva jamais será imposta por qualquer processo, somente o desenvolvimento da Razão e da Consciência através da metodologia pedagógica que parte do SABER e no decurso dos milênios, transforma-se em SABEDORIA.

Este raciocínio baseado na realidade inconteste da esteira do tempo e seus eventos de progresso, separa a religião da moral (separação do joio e do trigo) auto-desenvolvida como constitutivo do SER, pelo qual se conduz.

Como já dissemos anteriormente, a consciência evolutiva conduz-se, não é conduzida.

 

(recebido por via mediúnica)