24 – Consolador

“Se me amardes guardareis os meus mandamentos e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.

Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” João: cap. 14:15 a 26 e João: cap. 16:12 a 13

Consolar é a ação de conduzir a criatura ao conformismo. Conformar-se é aceitar o que é como é, e o que está como está, o que implica em neutralizar a reação em busca de modificação.

Isto é aceitável quando a situação, condição ou fato, não tem solução possível.

Ao contrário, todavia, quando há certeza de que a mudança de rumos em busca de outros resultados que sejam os objetivados, depende do esforço realizador, não cabe consolo ou conformismo, ou ainda a propalada esperança.

Todos estes paliativos são superados, como no caso da evolução de tudo que é criado, dentre os quais tratamos aqui do homem.

Sendo a AUTO-EVOLUÇÃO o resultado da dinâmica acionada pelo próprio homem em todos os campos de atividade sócio-vivencial, fica compreendido que o consolo ou conformismo tornam-se conceptivos inúteis por serem inoperantes.

Se o homem busca um colimado e este depende do seu trabalho, e havendo correspondência que possibilite como sejam, fatores pessoais de grupo ou comunitários, deve persistir apenas a alegria pré-usufruída que alimenta a já referida dinâmica realizadora.

Este é o processo único aceitável no operacional evolutivo do homem.

O “espírito de uma verdade” compreende-se como o motivo dessa verdade, visto que não existe verdade sem motivo. Sendo o motivo uma causa, como tal seria inútil, mas como toda causa resulta num efeito quando acionada, temos que a verdade acionada pelo homem surtirá o efeito que, no caso, é a auto-evolução.

Mas o que é a verdade para o homem?

Nada mais do que aquilo que possa ser de alguma forma sensível e analisável dentro da realidade, razão e consciência comuns.

A mente humana não transpõe as fronteiras do realismo, o que equivale dizer as dos efeitos observáveis.

É, pois, destas verdades que o homem conhece e compreende o espírito, o motivo portanto, bem como sente e vive os seus efeitos.

O espírito das verdades pré-existe ao concreto e este é o seu efeito, o que o comprova a expressão do Mestre nazareno: “Habita convosco”. O homem é, pois, um dos efeitos do espírito das verdades.

O Consolador

Por que “estará” e não “está” em vós?

Quando estudamos os ensinamentos do Mestre nazareno, importa discernir entre os comentários construtivos e complementativos da narrativa, a palavra chave que encerra a lógica do dizer.

Para que fique claro e justifique o que dissemos, devemos traçar, ainda que em síntese, o perfil do caráter do Mestre que, em inúmeras oportunidades, deu inequívocas demonstrações de repúdio à bajulação, bem como de vaidade pessoal.

É deste fundamento que temos que partir para analisar a promessa de “outro” consolador.

Pelo que dissemos, a referência à sua pessoa compreende-se como uma atitude necessária por vários motivos como: cultura da [época e mais precisamente da audiência seleta (os apóstolos), além do valor da psicologia sugestiva condicionante via carisma, objetivando a disciplina mantenedora dos ideais semeados que deveriam transpor os séculos à espera de condições para sua consolidação.

A frase “habita convosco” nos diz da inteligência em potencial, já contida no homem em estado latente. O “estará em vós”, implica na condição desta mesma inteligência desenvolvida ao ponto de permitir a compreensão dos ensinamentos do Mestre, pela qual o homem será consolado.

O verbo nos aponta o futuro, logo, diz da dependência de uma condição a ser estruturada para que o “espírito da verdade” esteja no homem. Isto é que dá razão ao “estará”, em lugar do “está” em vós. Se não estava era porque não havia a referida condição.

Qual será a condição?

Sendo a verdade para o homem tudo o que dentro dos limites de sua razão, consciência e sensibilidade possa ser conhecido, entendido, sentido e assimilado e, para que isso aconteça, faz-se imprescindível a desenvoltura da inteligência, possibilitando elevado nível de cultura. Resume-se nisso a condição para que se autentique o “estará em vós”.

Se a verdade para o homem são os fatos, infere-se o que “estará em vós” é a compreensão do ESPÍRITO dessa verdade.

Esta profunda compreensão cimentada no racional e lógico estará no homem como constitutivo dinamizador da VIDA.

“Mas o consolador, o espírito santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse VOS ENSINARÁ TODAS AS COISAS, e vos fará lembrar de tudo o que eu disse.”

Naturalmente tratamos com evolucionistas e não com salvacionistas.

O que são todas as coisas?

Ao dizer todas as coisas enfeixa tudo, absolutamente tudo.

A evolução se resumirá nessas COISAS?

Se assim não é, como entender então?

Basta enfocarmos o evoluendo, que é o homem, e analisarmos o seu SER, TER e ESTAR mesmo na existência terrena, e teremos um quadro claro dizendo da impossibilidade de ser ensinado algo com coadjutora evolucitária em qualquer campo de atividade.

O homem, bem como toda criatura, é um ser autodidata e, dentro dos limites dos efeitos através dos esforços para vencer o agressivo que constitui a lei do plano em que vive, consegue desenvolver sua inteligência que é, em suma, a base da evolução.

Nada, portanto, lhe é ensinado, mas sim conquistado pelo saber desenvolvido na própria busca de conhecimentos, que o compulsório do habitat lhe impõe.

Não há exagero em dizer que o homem é limitado ao campo dos efeitos, nele operando na faixa da razão, porque a própria definição de Deus deixa claro a condição.

O que é Deus? Deus é a inteligência suprema, “CAUSA PRIMÁRIA DE TODAS AS COISAS”.

Vemos, pois, que dos efeitos COISAS o homem parte para a definição da causa.

Se ao homem fosse dado a penetração no campo das causas, ele teria possibilidade de responder e definir o que é uma inteligência. Teria, no caso, se autodefinido e também a sua própria origem, em suma, superado Deus.

Fica, portanto, bem claro que a definição de Deus passa do terreno da hipótese para o da certeza porque parte do conceito de que todo efeito tem uma causa.

O consolador prometido que “habitava” apenas, era a evolução em potencial e o “estará em vós”, é o aflorar dessa evolução em termos de inteligência que fará compreender pelo progresso constante e eterno, as verdade ou seja, o motivo dessas verdades.

Conclui-se que, não sendo o Mestre uma criatura vaidosa, que chamasse sobre si o mérito de SER um consolador e, como o “outro” não pode vir ou ser em termos de personificação ou mesmo uma doutrina, o termo consolador deve ter outro sentido.

Se o papel do consolador, segundo o próprio Mestre é instruir (ensinará), todas as coisas e, por força do fato, será recordado o que o Mestre ensinou e, como nesses ensinamentos estão extraordinárias verdades ocultas, cuida-se desde logo face ao processo que permite a evolução, tanto o que foi ensinado como muito mais, será desvendado pelo homem através do esforço contínuo.

Desde que o consolador na prática deva ensinar, não se encontra comunhão de sentido entre o consolo e a instrução. Um é estagnação, e outro dinamização construtiva.

O homem, em realidade, desconhece o conformismo, a aceitação passiva do que é como é, do que está como está, mas reage sempre em busca do melhor, do mais certo, do mais rentável: é a evolução em marcha.

A interpretação confessional da referência do Mestre ao consolador é muito pobre, quer de razão, ou mesmo, de inteligência. A razão deve buscar o conteúdo e não o invólucro, sob pena de confundir-se.

 

 

Irmão Anthero

(recebido por via mediúnica)