27 – Culto do evangelho no lar

Sabemos que o mundo interior é sempre afetado pelo exterior quando o espírito é suscetível às impressões externas, quando ainda é sujeito às leis das vibrações que lhe falam de maneira mais profunda. Não é uma sujeição imposta, mas fruto do pouco discernimento, conseqüência da falta de maior esclarecimento do manuseio das vibrações interiores.

No mundo material é preciso que a pessoa tenha sempre este vigor de permanecer equilibrada, na medida do possível, com base neste mundo exterior, nesta coletividade porque, afinal de contas, a primeira necessidade da subsistência, da própria vida material, faz coação ao espírito, às vezes chega a perturbar e, não raro, o leva a perder a paz.

Isto não é uma crítica, porquanto o mundo material é mesmo aquele em que o espírito recebe sempre essas ondas, essas marés bravias no transcurso da reencarnação para poder despertar em si mesmo aquela força, aquele vigor de poder manter-se sempre imune aos choques e às vibrações causadas pelas faixas externas.

Está bem claro quando nosso Mestre Jesus disse: “A minha paz, a paz que vivo, eu vos dou”. Dou como exemplo. Esta paz o mundo não pode dar, numa previsão muito clara dos embates da existência que a roubam.

Jesus deu o exemplo de transpor toda existência terrena sem se deixar abater pela turbulência que o rodeava. Sentia segurança, calma, mas não uma serenidade a ponto de indiferença. Jesus emocionava-se ante determinados fatos, porém estes não chegavam a atingir-lhe o equilíbrio interior, dada a sua elevada superioridade.

O Mestre nos dá uma receita muito sábia, um medicamento que é irretorquivelmente de grande valor, uma terapêutica muito acertada, a da “oração e vigilância”, para manutenção daquilo que chamamos de “céu interior”.

Se a pessoa está familiarizada com o Evangelho que já encontrou raiz na terra fértil do espírito, esta pessoa está menos suscetível à confusão e de maneira menos profunda, sem conseqüências desastrosas.

Assim, a terapêutica ensinada pelo Mestre não pode ter objetivos somente de teorias, de conhecimentos. O Evangelho é o remédio para todos os males, mas se é tomado, se não é aplicado em doses maciças, a enfermidade do espírito permanece incurável, enquanto ele, o Evangelho, não tiver uma aplicação prática quando encarnado, na vida comum, no cotidiano. A oração e a vigilância foram ensinadas para serem vividas.

É muito simples querer aplicar o Evangelho. É preciso autodeterminação. Dizer que a criatura se autodetermina à aplicação e em oito dias já está auto-evangelizada, pronta, apta e preparada para conviver com seu irmão com a paciência, compreensão e indulgência necessárias, que já está evangelizada, seria uma utopia e a perfeição uma coisa muito limitada. É por isto que as pessoas devem fazer uso constante dessa eterna vigilância que garante aquilo que chamamos de paz interior, que outra coisa não é, senão a liberdade de concepção da própria vida.

É interessante certas criaturas que circunscrevem sua ação evangélica nos moldes daquelas expressões de Jesus. Cumprimentam aqueles que só lhes fazem o bem, perdoam aqueles que lhes são bons, enfim, isto não é Evangelho vivido, não é aquele que traz a paz que Jesus possui e legou aos seus discípulos à guisa de exemplos.

Por isso é difícil entender o Evangelho, porque o homem procura dar-lhe um tamanho descomunal, entretanto há nele uma grande simplicidade. A dificuldade de viver o Evangelho está justamente naquela interpretação um pouco esquisita que fazemos quando encarnados, achando que ele é para ser aprendido na Terra e depois, vivido no plano espiritual, como anjo, santo ou espírito evoluído.

Infelizmente o que se pode ver é que na Terra o Evangelho não faz parte integrante da vida de todos. É lido, e dizem até que há horas e dias em casas de certas famílias cristãs, que fazem o culto do Evangelho! Muito engraçado fazer o culto do Evangelho em casa! E isto, infelizmente, no seio de reencarnacionistas! Culto do Evangelho! Cortam o remendo novo e querem aplicar a todo custo em roupa velha! O culto de outras compreensões que se dizem religiosas enquanto o reencarnacionismo prega o positivismo, os fatos, vai dirimindo dúvidas, esclarecendo a mente, libertando consciências, vai dando razão à fé, vai dizendo que o Evangelho é questão de prática de vivência a todo instante.

Deixemos de lado o culto e vamos cultivar o Evangelho e para isto, é preciso que esse fertilizante exista e em caráter constante na mente, nas orações, em tudo, porque a planta chamada Evangelho que deve florescer no espírito, requer o cuidado constante do jardineiro que a cultiva. Se descuidar dela e puser apenas um pouco de fertilizante chamado “culto” em horas certas e determinadas, esta planta, o Evangelho, fenece, torna-se espinheiro.

O “culto” é muito necessário, mas o culto permanente do Evangelho, em todos os instantes, em todos os dias, em todas maneiras, estando só ou no convívio com seus semelhantes, com aquele que não sabe que você faz o “culto do Evangelho”, que é um cristão ou um evangelizado. Um só e único ato que não tenha o traço evangélico como norte, é uma negação absoluta do Mestre.

Se você, voluntária e espontaneamente, adentra uma Casa onde todos buscam a remodelação espiritual, a transformação moral, é preciso que se compenetre da sua responsabilidade e não se torne um fantoche dessas criações pueris dos “cultos evangélicos” em horas certas e especializadas, porque estará mentindo a si mesmo, não terá paz e poderá perguntar qual a vantagem desse procedimento. Outra não será senão a de obedecer ensinamentos do Mestre e não negá-lo em hipótese alguma. A vantagem de se estar vigilante é muito simples, muito fácil: a criatura estará preparando o dia de amanhã na escola do hoje.

O Evangelho não pode ser condicionado à mente da criatura, mas esta é que tem que se condicionar a ele. Se o Evangelho fosse se acomodar aos interesses individuais, precisaríamos de alguns bilhões de Evangelhos para serem estudados e aprendidos, cada um à sua maneira. Portanto, o Evangelho é para ser vivido junto àqueles que o ignoram, aos que jamais ouviram falar das verdades evangélicas: viver pelo exemplo.

Muitos acham que estão cansados de ouvir estas verdades, mas será que já se cansaram de praticá-las? Acham difícil viver o Evangelho na face da Terra, porém é por isto que foi dito: “Muitos os chamados e poucos os escolhidos”. Aqueles que querem se fazer escolhidos, que se façam realmente, porque do contrário, estão se iludindo e, quando desencarnam, vêem que não encontram um trampolim suficiente para alçar o desejado vôo para a alta espiritualidade, mas que sentem a prisão dos interesses subalternos, imediatos e que o seu “culto evangélico”, suas obras, não tiveram aquele cunho de amor, desprendimento, alegria, felicidade de ser bom, vê tudo desmoronar como um castelo de areia e voltam à primeira página do livro.

A mesma lição em outra reencarnação. E se cansa de ouvir falar sobre o Evangelho, simples, fácil, uma árvore que dá fruto imediato, senão Jesus teria mentido.

Jesus prega a felicidade, o reino do céu, não diz quando nem onde, porque é interior. O Evangelho vivido com amor na Terra, traz frutos imediatos à criatura, transformando-a numa pessoa muito feliz ainda na Terra. Feliz mas não pura, nem perfeita. Já dá os primeiros sinais do que seja o valor da felicidade, da verdadeira felicidade interior em mundos superiores. Felicidade e não evolução ou perfeição.

O propósito do espírito não é só gozar da felicidade, da paz. Quando ele atinge o grau evolutivo de sentir as emoções maravilhosas da paz interior, desperta-lhe o desejo de trabalho, de fazer, de realizar, de entrar no seio da criação e então, o espírito precisa estar preparado também intelectualmente, ter conhecimentos para os trabalhos superiores para que possa desempenhá-los a contento, unindo mente, emoção, o espírito se completa no sentido de saber e santidade: “Sede sábios e santos”, isto é, adquira não só as virtudes superiores que lhe transformarão o ser, como também os profundos conhecimentos de toda a criação.

É importante também penetrar nos segredos de Deus para que possa se constituir uma entidade capaz de manusear os fluidos cósmicos universais e transformá-los na beleza eterna, na primavera maravilhosa que desabrocha aos olhos de todos, para que possa trabalhar sempre na ordem do universo, para que possa enfim, ser um dos construtores e mantenedores dessa ordem através dos profundos conhecimentos da ação e reação do cosmo universal. É a perfeição!

Na espiritualidade existem criaturas que também sentem as suas limitações, que lutam intensamente para conseguir a sua espiritualização, porque essas limitações são verdadeiros retratos vivos das que trouxe do mundo quando encarnados, fundamentadas às vezes, no medo, no orgulho, na presunção, na vaidade. Ainda estão presas a estas concepções porque o cristão verdadeiro, pode viver cristãmente se quiser, precisa armar-se de muita compreensão, de muito fervor interior, para conviver justa e exatamente o Evangelho nos moldes ensinados por Jesus, perdoando aquele que o ofende, orando pelos que o perseguem e caluniam.

Portanto, não há limitação. O importante é não esperar nada do Evangelho depois do túmulo, porque o que é na Terra, é na espiritualidade, até as limitações. As concepções sociais que envolvem a mente da criatura, estão agregadas como verdadeiras ostras de difícil remoção.

 

Irmão Anthero

(recebido por via mediúnica)