39 – Conceitos I

A troca de idéias entre uma e pessoa e outra é um momento sublime, pois já traz em si um princípio de humildade, porque quando a criatura chega à outra e procura colher opinião, quando vai com sinceridade em busca de uma cooperação, sem princípio religioso, sem querer demonstrar que é humilde, mas com naturalidade colhe a opinião do seu semelhante, está manifestando que tem em si o princípio de humildade que reside naquela alma. São, portanto, pequenas coisas que, analisadas à luz da razão, nos mostram o quanto vai em almas grandiosas.

Vemos em todos os grandes vultos que passaram pela humanidade, criaturas que buscaram a opinião do seu semelhante para “construírem-se” e para “construir” os seus objetivos. São almas humildes que já começaram a conquistar o terreno da espiritualidade. São seres que estão fora do templo sem cuidar de “coisas religiosas”, pois notamos que não é dentro destas “coisas” que se encontra, às vezes, a real humildade, natural, espontânea, que tem o seu nascedouro naquela naturalidade da criatura que não se sente humilhada por isto.

Não seria um belo ato se aplicado de maneira muito mais dilatada em todos os outros da existência? É uma humildade que não diminui ninguém, mas que traz à pessoa até uma certa amizade dos demais, porque observam que ela não é prepotente nas suas opiniões e curva-se às opiniões alheias quando são acertadas e justas. Não há nisto nenhuma religião, porém existe a religião natural da criatura, essência da humildade.

O que é libertar-se?

Há um outro fator preponderante, muito propalado entre as pessoas. O que é libertar-se? Libertar é a pessoa fazer aquilo que quer, libertando-se de certas injunções. Entretanto, é preciso entender o que é esta liberdade. É aprender a dizer a si mesmo, dentro dos moldes normais das leis vigentes, das leis sociais, de cunho moral: “Eu sou aquilo que quero ser, e não aquilo que determinadas injunções e preconceitos me impõem.”

Bondade e virtude

Há seres humanos que são bons e que têm vergonha de serem bons. Será esta pessoa má? Não. É que, às vezes, deixa de ser e de viver a bondade no receio de cair em ridículo. Ainda está escravizada às injunções. Não se deve fazer economia de virtudes, e que ninguém tenha receios de que esta fonte vá secar. A virtude é como a água: uma dessedenta o corpo e outra dessedenta a alma.

Amor ao próximo

Nas mínimas expressões é que vamos encontra Deus. Não é preciso que a criatura seja um pobre esfarrapado, faminto, a que demos um prato de alimento forrado de iguarias, e que chamemos isto de amor ao próximo e de caridade.

Na casa do “cristão” não há etiqueta social, nela todos os atos se revestem de amor, dedicação, carinho, sinceridade, lealdade. Não será isto um princípio de libertação?

Todo ato que praticamos se é interiormente, no sentido de liberdade e amor, se nos impulsiona o sentimento de bem fazer, a alegria de sentir o benefício que podemos fazer a uma pessoa, este ato é a prática pura e perfeita da religião, ou seja, dos ensinamentos do Mestre Nazareno.

Harmonia interior

Sentir e aurir a harmonia de planos superiores é uma prece. É o exercício da harmonia interior. Não é fácil entender estas verdades, é até muito difícil, uma vez que o melhor mestre é a sinceridade na busca e, se fizermos uma simples observação de que o mesmo ato praticado na observação das regras vigentes e dos preconceitos sociais, o fazemos até com certa contrariedade, então somos escravos daquela imposição social. Mas se fizermos com alegria, libertos, meditando bem, encontraremos a oportunidade de melhorar, de progredir, de evoluir e é, portanto, o campo aberto da evolução a quem quiser.

Como observamos, não há necessidade de enquadramento dos atos da criatura no âmbito da religião propriamente. Não são as obras de vulto que revelam a pureza e a evolução do espírito, mas as pequenas coisas e maneira como são feitas.

Toda pessoa que se envolve no desejo do bem servir, de fazer o seu semelhante feliz, a própria emanação fluídica desta pessoa revela tudo isto àquele que o recebe e, consequentemente, esta criatura sente-se presa, como que atraída a quem está praticando aquele ato simples e comum.

É o que sentimos na lição magnífica de Saulo de Tarso quando disse: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de todo o coração, empregai ali todo o esforço, fazei com todo o amor.”

Construção do “céu interior” ainda na Terra

O “cristão” não tem amanhã. O “cristão” é o hoje, o agora. O “cristão” começa a pisar no “céu” hoje. O “cristão” reencarnacionista não se ilude, não vive de esperanças empíricas. Não lê, não busca no Evangelho o amanhã de uma felicidade eterna, mas começa a construí-la aqui na Terra, por isso é que tem amanhã, porque os seus sentimentos e pensamentos pautam por uma realidade patente e irreversível. Aqui, hoje, é o começo.

O reencarnacionista abre os olhos aqui, agora e começa a construir o seu “céu” interior estando ainda encarnado, tendo o hábito de amar aquilo faz. “Faze com todo o teu amor e todo o teu entendimento.” Para quê? Para que se forme o hábito de viver em paz consigo mesmo. Para que este amor seja um estado permanente em todas as suas realizações.

Amor, meta da evolução do espírito

Aquele que ama, que tudo faz com amor, só pode evoluir e ser um espírito com tendências para o bem. Ora, o mal ninguém faz com amor, o erro ninguém comete com amor, mas todos os atos normais da existência devem ser feitos com amor, todas  a realizações devem ter o seu nascedouro no íntimo, nas emoções superiores e na razão calculista. Naturalmente que são “todos”, excetuando-se aqueles que a sociedade, quando estamos encarnados, nos força a realizar em função das obrigações normais da vivência e da sobrevivência na Terra. São o trabalho e os afazeres diários nos quais impera a razão.

Toda a razão que é envolta no amor, diviniza a obra. Devemos amar simplesmente pela felicidade de amar. Quem ama objetivando algo? Ninguém. Quando o amor existe, inexiste a razão. Quanto ao aperfeiçoamento do espírito, o amor é o estágio máximo, porém não determina um ponto final no processo evolutivo, face a eternidade do espírito.

 

Irmão Sérvolo

(recebido por via mediúnica)