49 – Comentários I

A ciência chegará à solução da incógnita de todas as questões, mesmo as que são tidas como milagres e computamos todas no sentido legítimo e axiomático  do termo.

Partindo dessa premissa, não encontramos veios de acesso ao entendimento da proposta pretendente à separação entre os referidos milagres, em que prepondera o elemento espiritual, e que não podem ser explicados unicamente pelas leis da natureza, escapando às investigações da ciência. Tudo, absolutamente tudo que possa, de alguma forma ferir os sentidos ou um sentido entra inquestionavelmente para o mundo dos efeitos, perfeitamente explicável pela ciência e compreendido pelo homem. Todos os fenômenos, que a tais mundos circunscrevem-se, encontram nas leis da natureza sua explicação em questão de tempo e progresso científico. “Tudo que está oculto será revelado”.

Só é vedado ao espírito (inteligência relativa) “o princípio”. Não existem leis que regem a vida espiritual em separado, pois que a inteligência (espírito) é o que é, esteja onde estiver, e a sua vida (vida do espírito ou vida espiritual) é autorregida no meio ambiente e em concordância com este. Assim, os fenômenos exteriorizados do imaterial para o material obedecem literalmente às leis da natureza e serão explicados pela ciência do amanhã.  Estes fenômenos podem ser considerados maravilhosos, como tudo que possa despertar admiração pela grandeza do Criador.

Sendo a física e a química as leis básicas pelas quais se manifesta o mundo dos efeitos, em todos os seus matizes, em prosseguimento o são também os fenômenos que não podem ser manuseados e equacionados em laboratórios ou governados e reproduzidos por instrumentos.  Não existe, pois, uma linha limítrofe entre os que se exteriorizam em laboratórios e instrumentais e os imateriais, senão no processo.  Se o elemento básico é uno, revertê-lo em efeitos diferentes é questão de diferente dinamização por outros meios.

Este último, todavia, não tem leis espirituais específicas senão o fator acionário, que é o impulso magnético emitido pela inteligência sobre o mesmo elemento fundamental de que se valem os cientistas em suas reações laboratoriais.  Digamos, portanto, que não se pode separar a evolução e seus resultantes, sob qualquer pretexto e que  tudo se reveste de uma questão de tempo.  Ao secar uma figueira, acionou-se uma lei da natureza, por métodos ainda não devidamente conhecidos pelo homem atual, mas que um dia o serão.

Nas materializações prevalece a condensação do ectoplasma em termos animais, porém, por uma lei da natureza que é a composição, em proporções mínimas com o fluido projetado pela manifestante, ou do médium.  Nosso desejo importa somente em conscientizar o homem, de que tudo no mundo dos efeitos é em unicidade de constituição, bem como aliar o suposto imaterial (perispírito) quanto ao estado da matéria, excetuando-se a inteligência ou espírito.  Este é o propósito que nos leva a dizer da não existência da duplicidade de vida ou leis.

Concordamos com as características dos fenômenos ditos espirituais que, normalmente, se desenvolvem quando a inteligência é desligada do corpo, mas em senso transitório porque, sendo a evolução o termo capacitante do espírito para conhecer e dominar tudo que comporte o mundo dos efeitos, não transigimos quanto às reais possibilidades do mesmo, ainda que encarnado, e que, tendo-se completado como racional, venha a produzir todos os fenômenos tidos como espirituais ou invisíveis.

Ao expressarmos isto, não nos estreitamos aos limites terrenos, mas nos distendemos a mundos outros que, sendo já mais evoluídos e nos quais os espíritos, embora encarnados, coincidem-se em muito com a vida dita imaterial.  Importa a inteligência (espírito) e não a condição ou estado em que se encontre.

Infere-se, portanto, em relação à duplicidade, que tanto no que se refere à legislatura bem  como aos mundos em termos de leis materiais e espirituais, em relação à inteligência, esta não existe, conforme já acentuamos.  A inteligência (espírito) é no Universo em vários estados e as leis, que não são executoras coibitivas, não suscitando-se, portanto, como métrica discricionária e reguladora do viver do espírito, mas que são unicamente vertidas quanto à ação e reação do efeito simples que, evidenciando-se no efeito composto, é o campo operacional que se projeta no infinito evolutivo.

Pode-se conceber como distinto entre material e imaterial, em estados tais como o da Terra, o que não dá faculdade a uma limítrofe permanente no tempo e espaço, o que seria a constituição de dois universos de per si separados.  No mundo em que vive a inteligência relativa, o conceito causa não expressa uma verdade senão no campo do convencional.  O homem não conhece e jamais conhecerá a causa-princípio, e o que se entende ser o aceito como causa é um efeito de causa antecedente que, na verdade, é o efeito de outra, constituindo-se, portanto, a ação de um efeito sobre outro, produzindo um terceiro.  Temos uma reação em cadeia do efeito simples sobre o composto primo (primeiro) e, a partir deste, a sequência.

Sendo o fluido universal tido como “efeito simples” e dele derivando-se em múltiplos compostos, o mundo em que vive a inteligência relativa, nele e somente nele, do micro ao macro universal, lhe será facultado conhecer, entender, aplicar e usufruir.  O homem opera com o que já existe.  Tudo que faz no seu mundo, é a busca do equilíbrio ideal.   O desequilíbrio natural do mundo relativo, o dos efeitos, tem como objetivo precípuo demover a inteligência a essa busca em que auto- desenvolve-se, racional e consciencialmente, ao que se diz evolução.  Assim, do desequilíbrio do magnetismo celular, denominado enfermidade, nasce a medicina, e da permanente pesquisa, o seu progresso em benefício do equilíbrio do somático do qual resultará o profundo conhecimento e domínio total, no futuro.

A diafanez e a perfeição do somático futuro não têm como causa as excelsas virtudes, mas serão neste planeta, como já são nos demais, em evoluto superior, resultado da ciência, em exercício perfeito no governo da genética e sequência.

O homem atual não conhece ainda um centésimo do potencial aurível e manuseável do mundo em que vive, para erradicar os desequilíbrios somáticos (doenças), sejam quais forem seus efeitos e etiologias.  A ciência vive hoje sob o guante normal do caráter sociológico prevalecente, ou seja, o competitivo para subsistência, tornando-se assim todo seu acervo de conhecimentos em capital rentável.  Todavia, quando a proposta social evangélica evidenciar-se como consciência de vida, o homem entrará no ciclo da auto-valorização como ser humano, de que sobreviverá o reconhecer nos demais igualitário senso, e a ciência se instituirá como valor máximo do homem, quando então se completará a era iniciada pelo Mestre, que é a da inteligência.

Dependente antes, exclusivamente, do reino da natureza concreta, o homem começa hoje a penetrar na energética operacional, de cujo formativo básico já se assenhoreou (átomo), de onde partirá à produção de outros estados da matéria (reinos) em laboratórios devidamente condicionados aos fins desejáveis.  Dominadas  as leis da natureza, reagentes em termos de composição e dinamização para que resulte nos efeitos previstos, terá o homem se sobreposto ao reino do concreto, estabelecendo o equilíbrio.  Ainda aí, entretanto, estará operando no campo do efeito básico, mas em demanda de mais tempo e progressiva evolução, passará ao do efeito simples (pré-átomo) ou fluido universal.  “Naquele tempo”, terá a certeza de que é algo além da matéria e portador de forças dínamo-mecanizáveis, sobre todo o mundo dos efeitos, “podendo dizer ao monte….”

Pela física nuclear, o homem desequilibrou o composto básico (átomo), cujo resultado é por demais conhecido.  Partiu do elemento básico componente da matéria, em ação retrospectiva, e o gerador único do resultado obtido foi o tempo em que ocorreu o impacto da expansão com a massa atmosférica.

Se a mesma quantidade de átomos fosse desequilibrada em sua constante, em dez anos, teríamos um milésimo do resultado, dada a absorção natural, promovendo o equilíbrio.  Se um caudal projetar-se em velocidade superior à capacidade de contensão, o impacto causará também ruptura no açude.  Assim, nem todo desequilíbrio propõe uma constante, porque o objetivo do progresso, parte primária da evolução é encontrar essa constante pelo equilíbrio.

Naturalmente não estamos equacionando questões de física, mas apenas traçando paralelas entre os objetivos exteriores rastreados pela ciência, e os interiores, que são conseqüência daquele.

À medida em que a inteligência vai descortinando a verdade-realidade, mais se conscientiza do seu próprio valor e, pela racionalização de si mesmo, vai equilibrando-se também, sensorialmente.  A inteligência ainda não é racionalmente completa, em conseqüência de que não o é também no sensorial, visto que desequilibra-se por um simples impacto, podendo passar do amor ao ódio, a uma mesma pessoa, na dependência de fatores circunstanciais, o que deixa bem claro ser o evoluendo o oscilante ainda sujeito ao desequilíbrio.

Assim como o homem estabeleceu uma direcional divergente desintegrando o composto básico, dia virá em que, partindo do simples, em sentido convergente, integrará o básico, de onde partirá para a constituição das formas.  Se hoje as modifica, amanhã as constituirá.  Todo composto, por pertencer ao mundo dos efeitos e, portanto, ao da inteligência relativa, lhe será revelado e terá por herança a “terra” (do Sermão do Monte). “Vós sois deuses”.

Entrando no gênero literário, encontramos na palavra “terra” não o planeta, ou planetas (“existem muitas moradas”) mas, consoante a envoltura evolutiva, podemos compreender como “o conteúdo científico que oferece o estágio encarnatório” que não prescinde da estada num planeta, do qual e dos quais, em ascendência intelectual, vai aurindo.

O efeito básico componente do todo concreto é versátil dentro do perímetro científico instrumental e laboratorial.  O efeito simples, todavia, não sujeito a fórmulas equacionarias, é operável pelo dínamo- intelecto.  Temos que o efeito simples, pelas leis naturais superiores, de que o homem não pode ainda cogitar,condensou-se em imponderável e ponderável e, pelo equilíbrio no encontro da mesma força em direcionais, estabeleceu-se o equilíbrio atômico (campo gravitacional), onde, não impera o atrativo ou repulsivo.

O ínfimo concebível ou analisável no átomo é, já, um efeito composto em seu campo gravitacional próprio e em seu natural imutável.  Evidencia-se, pois, que o equilíbrio resultante é uma reação em cadeia retrospectiva ao infinito.

Todo divisível é um composto de que se tem ser todo concreto uma reação em cadeia, progressiva até a forma.  Daí podemos entender que quando a inteligência atingir o necessário grau de maturidade, ou seja, completar-se como racional, poderá operar o invisível ou efeito  simples.

 

Irmão Anthero

(recebido por via mediúnica)