58 – Citações do Evangelho

Disse o Mestre: “Ninguém vai ao Pai senão por mim”, A falta de entendimento do significado desta expressão, faz nascer a “idolatria crística”.  Entretanto, a majestade moral do Mestre jamais admitiria tal procedimento, isto é, a prática da idolatria, e deixa bem claro a sua repulsa veemente quando, apercebendo-se da prática bajulatória, afirma: “Dizeis Senhor, Senhor, mas não fazeis o que eu ensino”. Admirável previsão resultante do profundo conhecimento do homem.

Em outra ocasião disse Jesus: “Eu não aceito testemunho de homem”.  É nisto que sublima-se o grande Mestre, levando-nos à emoção admirativa e de profundo respeito, o que proíbe a leviandade de mentirmos em seu nome, dando asas à imaginação, resultando na fábula que se desenvolve na Terra, inconsciente de valores.

Ninguém vai ao Pai senão pelo processo prático do materialismo cristão, que obriga a movimentação do “mais” em favor do “menos” socialmente falando, nunca porém, o cinismo e a vaidade de espírito superior, estabelecendo distinção em ordens espirituais para as criaturas originárias da mesma fonte, Deus.  Essa desfaçatez ou cinismo, se manifesta muito ao sabor do sócio-desagregante, elitista humano, isto é, a sociedade humana se apresenta muito dividida em classes sociais.

Disse o Mestre : “Muito será pedido a quem muito se ofertou”.  A interpretação errônea desta expressão, à semelhança da interpretação dada ao pronunciamento: “Ninguém vai ao Pai senão por mim”, apresenta igualmente o mesmo sentido místico e mítico.

Essa interpretação errônea contraria o princípio básico do fraternalismo universal, extensivo ao incorpóreo, pois quem já conseguiu evoluir, possui, sobretudo, a humildade autêntica que não lhe permite sentir-se numa ordem distinta.  Ao contrário, a humildade autêntica contribui para a aproximação coletiva, onde encontra vasto campo de “trabalho” humanístico, orientador e educativo, transmitindo conhecimento e amor, sem ostentar atitude superior, refletindo “argêntea luz”.

A humildade autêntica de quem já evoluiu jamais ostentando luz espiritual,  não existe sob a forma como é entendida nos meios espiritualistas.  Devemos entender a “luz espiritual” como a extensão áurica natural, que varia segundo o estado senso-emotivo.  O desconhecimento científico da “extensão áurica natural variável” levou anteriormente a julgar tratar-se de um “espírito de luz”, portanto, um espírito superior.

A Ciência esclarecerá tudo ao seu tempo.  Nada ficará oculto.

Luz existe sim, mas luz interior, configurada em exteriorização como na Terra, pela inteligência, capacidade e solidariedade fraterna.  Isto sim deve ser entendido como: “O que mais tem, mais dá”, conforme a expressão do Mestre : “Muito será pedido a quem muito se ofertou”.  Esta colocação de “mais dá”, deve ser entendida como atitude espontânea, sem coação, porque o livre arbítrio prevalece em todos os sentidos e em qualquer lugar.

Observemos ainda, para melhor compreensão do assunto, que esta atitude espontânea não tem objetivo contábil ou vaidoso, pois trata-se de agir como é, de fazer pelo que já é, o que se entende por uma atitude constitutiva do íntimo da criatura, de natureza intransferível e permanente.

Apenas para ilustrar queremos dizer que ninguém “respira” pensando nos favores divinos, mas pela necessidade de viver.

É isso exatamente o que acontece com aquele que “já é”.  E para melhor compreensão do que afirmamos, lembramos a expressão do Mestre: “Vai, faze o mesmo e viverás”.  E nós acrescentamos : respira e viverás.

A expressão : “Ninguém vai ao Pai senão por mim”, iguala-se a: “ Fazei a outrem na medida exata do que quereis para vós”, consoante “os meus ensinamentos”.

Fica , pois, sem mérito perante tais enunciados, o espiritualismo que exige trabalho, visando a emancipação do semelhante.

Faz-se imperativo ao homem acordar para a realidade evangélica, “deixando aos desencarnados o trabalho de cuidarem de si”, voltando-se mais para o próximo o qual constitui o motivo e objetivo dos dizeres do Mestre.  Os desencarnados não necessitam de esmolas dos que são mais pobres no cálculo humano.

 

O  DESCONHECIMENTO  DO  PLANO  ESPIRITUAL

Os encarnados não têm competência para solucionar a problemática da fome, da miséria e de todo o vergonhoso acervo de desgraças que se alastra no ambiente terreno, alegando limitações e impossibilidades, como ter a petulância de querer equacionar os desajustes dos que não conhecem e nem sabem como vivem ou procedem em realidade?

Esses encarnados que têm a ousadia de querer equacionar os desajustes dos habitantes do plano espiritual, orientam-se por opiniões que influem profundamente, submetendo-se em inconsciência de causa, porque ostentam a formação semi-salvacionista, da qual não sabem como se desfazer.

Esses encarnados acovardam-se ante os horrores do “umbral”, (que o sadismo proporciona descrições Dantescas) passando a agir motivados pelo medo e não na espontaneidade verdadeiramente cristã.

Dizem que Deus é amor e vivem o medo deste mesmo Deus.

Os encarnados, sendo elitistas por princípio, encantam-se com a descrição dos ambientes celestiais, sem perguntar como chegar neles.

Será pela esmola?  Ou será pelo: “fazei a outrem”?

Envolvidos pela nuvem de egoísmo, de santidade, não vacilam em violentar o miserável através da sua desgraça, dando-lhe das sobras e requerendo a retribuição multiplicada.

É honesto esse proceder?  Estaremos mentindo?  Ou valemo-nos das próprias expressões, às vezes ocultas e inconscientes dos que analisamos?

Lembremo-nos de que é até o “último ceitil”, isto é, enquanto houver um único habitante da família humana em condições desumanas, faminto, analfabeto, miserável, explorado, o homem não atingirá a condição, quer do Oriente ou do Ocidente, de “adorar em espírito e verdade”, tanto na Terra como no espaço.

Se a caridade fosse de fato a propulsora da evolução, ela desapareceria nos estágios evolutivos onde todos são iguais em todos os sentidos, impedindo esses seres de atingir a condição de “adorar em espírito e verdade”.

Não será, portanto, pela caridade como é entendida e praticada em termos de espiritualismo, onde impera o mecanismo do ato, porém sem a vivência do “faze e viverás”, recomendada por Jesus no  episódio do Bom Samaritano.  Para que fosse praticada em vivência, seria necessário que houvesse amor moldado no Evangelho.

 

INTERPRETANDO  O  AMOR

Iludem-se os que afirmam fazer por amor, porque não há ainda, na Terra, um só ente capaz de fazê-lo em realidade.

Por que?

Pelo simples fato do homem não ser ainda amor.

Como entender isso?

Dissemos que o homem é ainda um semi-racional, que vacila submisso, reagindo segundo os motivos e circunstâncias.  Ele ainda não se governa por uma determinação íntima, consciente.

Pelo mesmo motivo reage no que toca ao amor, que depende da impressão favorável despertada pela “forma física” em alguns casos, e em outros casos, quando lhe corresponde a sensibilidade.

Tudo que não preencher esses requisitos, não despertará sua amizade ou seu amor.

É inegável, pois, que mesmo no amor, há um objetivo querendo retribuição de alguma forma.   Na mãe, por exemplo, além da vaidade de demonstrar a natural fertilidade, é a da continuação de si na figura do filho.  Este sentimento é extensivo ao pai e demais familiares, colocando em relevo a ideia de posse: “meu”, “meus”, comum aos que compõem o clã dos “entes queridos”.

No amor, além de normal retribuição, temos também o sentimento possessivo.  Na amizade também prevalece a mesma colocação.  Entretanto, o Evangelho diz: “Se amardes só os que vos amam”. É difícil este Evangelho…….

Dissemos linhas atrás, que o homem reage ao amor, dependendo da impressão pela forma e correspondência à sensibilidade.  A impressão pela forma é clara, pois se a criança é loira, de olhos azuis, encontra logo pais.  Mas se é negra, estrábica, fica relegada aos orfanatos e “lares”.  Se a mulher não for bonita, dificilmente encontrará casamento.

Emociona-se o homem na sua “infância evolutiva”, tanto quanto o recém-nascido com as cores vivas e retribui com um sorriso ao carinho recebido.  Eis porque afirmamos que na Terra ainda não há amor moldado ao Evangelho.  O homem não é capaz de amar porque não “vê” a essência, isto é, não compreende o amor em “espírito e verdade”.

Como a evolução não é aquisitiva, mas sim, formativa ou constitutiva, concluímos que o homem poderá amar em verdade quando ele “for esse amor”, que será uma constante natural e, consequentemente envolverá a todos e a tudo de forma inobjetiva, desinteressada, porque este sentimento “já é” nele como VIDA.

O amor moldado ao Evangelho é um estado natural do espírito, independente de qualquer exterior em termos de influência motivadora dinamizante.

No amor evangélico todos os atos passarão a ser efeitos normais, não tendo em mira qualquer subjetivo de retribuição no momento ou posterior, como também não fica na dependência ou impressão de forma.

O dia em que o homem for esse amor, tanto o negro estrábico quanto o loiro de olhos azuis, serão vistos em essência do que se constitua, independente da forma ou impressão que possa causar.

Quando Jesus disse: “Amai-vos uns aos outros”, deixou claro sua extensão de maneira generalizada.

O espiritualismo desempenha o triste e humilhante papel, inconsciente dos valores evolutivos da coletividade social como um todo, porque trata de amenizar temporariamente, a ralé produzida pela sociedade dizendo que este refugo humano faz parte do processo de evolução regido por leis emanadas da “Bondade Infinita”, querendo algo desta situação, que lhe seja de proveito à espiritualização.

Os espiritualistas permanecem na periferia à espera do despejo.  E como ficam os ensinamentos de Jesus:  “Amai-vos uns aos outros” e “ Fazei a outrem na medida exata do que quereis para vós”?

Assim, os espiritualistas distanciam-se mental e moralmente dos ensinamentos de Jesus, sob todos os aspectos, na maneira de reconhecer sua mensagem e na maneira de agir.

Que o ortodoxismo católico viesse desde antigamente pregando e agindo em moldes idênticos, tolera-se, pois que não era chegado o Espírito da Verdade.  Mas no presente, em que se pretende uma filosofia amparando a ciência evolucionista, portanto, não se entende que esses religiosos não tenham avançado um mínimo, de acordo com o que determina a revolução mental e atuante, característica dos ensinamentos do Mestre.

O evolucionismo atual e científico está para a atualidade social, como o deturpado cristianismo esteve para o paganismo, ainda que não se requeira imolações inúteis.

 

O  DIREITO  DE  PROPRIEDADE

O homem, no que se refere à inteligência, já em prenúncio de conscientização dos fatos, vive o modelo mental estruturado desde os primórdios no estágio racional, quando acumulava preventivamente como garantia de defesa da sobrevivência devido à situação do plano material.  E deste hábito de acumular preventivamente, nasceu toda estrutura econômica social, que se fundamenta no mesmo processo defensivo de sobrevivência, gerando a desigualdade e a exploração.

O homem diz que vive em sociedade, mas deturpa o princípio verdadeiro da sociedade, desde que se reserve o direito de propriedade privada.  Este direito de propriedade constitui a contradição básica de “viver em sociedade”.

É a esta condição social que Jesus chama de: “aves do céu” e “raposas tem seu covil”, enquanto o “filho do homem, não tem uma pedra para repousar a cabeça”.  O Mestre deixa claro as diferenças existentes na sociedade até a compreensão da época em que o verbo “ter” será substituído pelo verbo “ser”.

É a este modo de pensar e sentir que deve inclinar-se o espiritualismo.

Os conflitos de modo geral têm como motivo a ordem material de qualquer escala.

Jamais houve uma guerra tendo como motivo a conquista do saber do inimigo.  Jamais um homem assassinou outro pelo fato da vítima ser portadora de extrema sabedoria.

Vemos pois, que os valores abstratos formativos, sabedoria por exemplo, não geram conflitos, guerras ou desagregação social.

Repetimos: os conflitos têm como motivo a ordem material.

Com mentalidade culta torna-se irreversível a elevação cultural, como fator de revolução social por meios pacíficos nivelantes, o que é prenunciado pelo Evangelho.  Através do “Faze o mesmo e viverás”, é possível a concretização desta revolução social pacífica.

Nestas condições, o espiritualismo se apaga, cedendo lugar ao operativo evangélico no âmbito material.

Onde ampara-se a devoção exagerada visando os núcleos espirituais dirigidos por mentores aureolados de argentea luz?

Se cabe ao homem, pelo operativo evangélico, ou ação evangélica, erradicar o sofrimento da Terra, caberá consequentemente ao homem invalidar ou desacreditar a lei de Deus, como é atualmente entendida também na Terra.

As brigadas de salvação que conduzem dos mares “umbralinos” os náufragos morais, os preparam “convenientemente” para suportar no âmbito terreno, a fome, a miséria, a enfermidade, a humilhação e a exploração, o que caracteriza de forma subjetiva o elitismo e o individualismo.  Isto contraria o Evangelho no seu sentido educacional, pois Jesus disse: “Misericórdia quero e não sacrifício”.

 

 

(recebido por via mediúnica)