59 – Religiões: Apêndice de utilidade social repressiva

Se a realidade vem trazendo no caudal dos eventos históricos a humanização da terra pela cultura de massa, cogitando-se no presente, conduzi-la à condição de escola, o que condiz com a psicologia evolutiva social, não há como entender a “justiça divina”, fossilizada no atraso mental das “provas e expiações”.

Se as religiões se colocam na defensiva, como freio aos desmandos e, como tal têm permanecido, esta condição não se traduz em efetiva contribuição à evolução em seus legítimos parâmetros. Assim ficam reduzidas a um apêndice de utilidade social repressiva, e nada além.

Assim penalidades de além-túmulo se constituem em continuidade do progresso terreno em princípios, meios e fins, demonstrando um religiosismo inócuo, face ao verdadeiro processo evolutivo.

Se “Tudo que está oculto será revelado”, não basta a revelação sem um objetivo útil ao homem, pois só o entendimento, do revelado poderá ser benéfico, mostrando a necessidade de uma razão e consciência desenvolvida à altura. Isto a “justiça terrena” não propõe, pois estabelece apenas a proibição e a retificação sobre os fatos praticados pelo homem, sem qualquer influência ou contribuição cultural cooperante.

Considerando o homem e analisando os únicos meios pelos quais aure conhecimento que facultam o progresso e, consequentemente, a evolução moral no tempo-história, não se concebe que, alicerçando-se em fatos para desenvolver uma filosofia científica, possa ao mesmo tempo anuir a processos obsoletos e conflitantes com os únicos meios naturais. Fugindo ao pedagógico, foge também à lógica e à própria razão em que se fundamentam os fatos.

O Evangelho que trata das coisas da Terra, admite o elemento pedagógico fundamental, o que lhe dá autoridade cronológica e racional, quando diz: “estultice é construir sobre a areia”, pois cumpre antes, descobrir a ROCHA a fim de que se consolide o edifício, isto é, preciso se faz descobrir o alicerce a fim de que se consolide a evolução.

Como o edifício se consubstancia na evolução do homem, e só a inteligência desenvolvida em nível é o elemento propulsor do progresso, como também a conseqüente evolução moralizante, e só o pedagógico tem foro de legitimidade condutora, o Evangelho esclarece que ROCHA é o preparo cultural para a versão em sabedoria, capaz de entender o valor dos fatos de forma integral.

Tudo pois, que ultrapasse estas paralelas limitadoras e facultantes, vence pela indução psicológica dos prometimentos, mas não convence pelo crivo analítico, dedutivo, pela razão e consciência.

Exigir o virtuosismo através da religiosidade, como recompensas ao crédito, sendo o homem a unidade componente do aglomerado num ambiente onde a guerra não declarada é patente, onde quem não vence é vencido neste aglomerado chamado sociedade, é demonstrar a carência de conhecimento do que se constitua o homem, em termos de razão e consciência evolutiva e suas necessidades imperiosas do imediato para a sobrevivência.

A psicologia espiritualista que explora os “extremos sensitivos”, medo e vaidade pelo processo do freio religioso, enaltecendo a vaidade com recompensas exteriores além-túmulo, rouba a tendência natural de liberdade, inibe a personalidade, destrói a consciência de SER em função de si mesmo e insinua o complexo de culpa, através do medo, como conseqüência do crime ou pecado.

Não resta dúvida que o êxito deste processo envolvente e aniquilador, deve-se exclusivamente ao próprio estado mental e sensitivo do homem, que não permite alijar de si, pela análise racional, esses conceitos absurdos, arraigados desde milênios, pelos quais Deus o criou, atirando-o à arena, isto é, na luta pela sobrevivência. E nesta luta, se o homem sair vitorioso será premiado e se sair derrotado, será castigado. Isto é em subjetivo, a síntese.

Esta justiça coloca o homem à margem do processo auto-evolutivo.

 

O  HOMEM  É  O  FATOR  DE  SI  MESMO

Dizer que Deus não castiga e que por isso o homem é o fator de si mesmo, não há que negar.  Resta saber qual o resultado e de que se constitui esse resultado em função da ação do próprio homem.

Dizer que sofre as conseqüências de leis exteriores, deixa claro a contradição da auto-formação, pois que admite o retificativo imposto e não auto-imposto, o que seria, na realidade mais condizente com o “fator de si mesmo”. Qualquer ingerência externa de leis, inverte a auto-determinação em submissão invensível, isto é, qualquer intervenção exterior de leis eternas e imutáveis, transforma a auto-determinação em adesão involuntária invensível.

Na estrutura filosófica e realista, estes conceitos constituem simples aberração convencional, próprias do espiritualismo, como apêndice da verdade.

Se o livre-arbítrio é uma realidade por certo não será somente permitido ao abrangido pelas leis de provas e expiações, mas também, e com mais justiça e autenticidade, o auto-determinismo retificante, de acordo com a capacidade promovida pela evolução do momento, considerando ainda, o ambiente e a época.

O sentido de evolução, bem como a sua metodologia advogada pelos filósofos e cientistas religiosos, guarda em subjetivo uma violência à RAZÃO e conflita com a bondade infinita de Deus. Isto porque imprime à idéia de VITÓRIA e DERROTA do homem que, “criado simples e ignorante”, é atirado à arena das reencarnações, como se fora um gladiador que, se fracassar na luta ou provas, sofrerá a reação das “leis eternas e imutáveis”, sob a forma de expiações.

Todavia, esses filósofos e cientistas religiosos, defendem-se dizendo que o livre-arbítrio, o sistema e a técnica de luta são livres, permite ao lutador responder de maneira boa ou má, daí advindo como resultados, a vitória ou a derrota. É a tese de superfície que o bom senso não encontra meios de chegar à síntese, quando examina o campo de luta desigual, eivado de atrativos superiores às forças do lutador, isto é, superior ao estado intelectual e moral do lutador que, pelo livre-arbítrio, é conduzido inapelavelmente à derrota. Este remendo novo não se ajusta à roupa já velha. Ainda que se pretenda o disfarce convencional.

Ao estabelecermos relação entre a teoria de quem teve a felicidade de uma orientação cultural no lar e na escola, mas carente de experiência prática, em confronto com a realidade vivencial de quem se acha na condição oposta, ficamos estarrecidos ante a infantil e insensata afirmativa. Constatamos pois, na arena das reencarnações, os extremos desiguais existentes na sociedade humana.

Para que esta teoria encontrasse resposta na prática, importaria a cada combatente, igualdade de condições, onde a vitória, dependeria do esforço e capacidade individuais. Vitória ou derrota, sim, porque estas só sobrevêm quando se combate algo.

Propor solução simplista dizendo que “ninguém inflige a lei de Deus”impunemente e, dando como prova incontestável o “manifesto de espíritos desencarnados” que se exteriorizam em pungente sofrer, implica numa aceitação a priori, sem base. É preciso procurar na estrutura filosófica espiritualista, a realidade evangélica que conflita com tais propósitos.

Se esta situação de pungente sofrer é o resultado das ações desenvolvidas no campo material, e este campo é o que é na realidade e, sendo o homem totalmente sujeito aos imperativos da encarnação, desde que se não lhe ofereça condições de igualdade, em que se fundamenta a decantada JUSTIÇA SUPERIOR, permitindo a reação sob a forma de expiações compulsórias?

 

(recebido por via mediúnica)