63 – Homens do Caminho

Os cristãos dos primórdios sofriam perseguição ferrenha e sem trégua. Nesta época, nesta circunstância, Homens do Caminho, posteriormente chamados “cristãos”, apercebiam-se uns dos outros através do olhar com irradiação de bondade, sereno, tranquilo, um olhar diferente, traduzindo calmaria interior, alegria, ou através de um gesto, da meiguice, de uma expressão, de uma atitude, da retidão.

Quantos se reencontravam e aproximavam-se uns dos outros com segurança, porque aquele era um Homem do Caminho, aquele era um cristão!

Os Homens do Caminho sentiam-se na aproximação e trocavam sinais, que antes, sempre eram peixes cruzados, posteriormente, a cruz.

Havia o ósculo, o convite sincero para que se hospedassem em suas casas, sem luxo, sem o supérfluo, sem vaidade, presunção ou orgulho. Era esta hospitalidade a liga fraterna, e correspondiam-se profundamente.

Sempre a conversação era o Mestre, a doutrina, a responsabilidade, a condução das chamadas igrejas desta ou daquela região, ressaltando o âmbito do trabalho cristão da época, a necessidade, o imperativo da assistência entre si, nos moldes materiais, espirituais e morais.

Entre os Homens do Caminho não existia cerimônia senão a que obrigava a educação, o trato amoroso e fraterno dentro das normas de civilidade. Não havia o cerimonial pomposo, as etiquetas geradas nos preconceitos sociais, como também não existia, absolutamente, o sentido hierárquico propriamente dito, mas o voluntário, o interesse pelas menores coisas atinentes à doutrina, às igrejas, às congregações que nasciam com aquela pujança no verdor da esperança, porque havia compreensão, amor real, hombridade com dignidade, justiça, seriedade no proceder, princípios retos, todo amor nos seus atos, nas suas expressões, acima do próprio Cristianismo em cujos primórdios e, posteriormente, encontramos sérias divergências nas ramificações do apostolado, mas estas divergências não resvalavam na essência, eram mais ou menos pessoais, apenas dos trabalhos, e se amainavam posteriormente pelos mesmos princípios.

Não havia ódio, supremacia, mágoa enodoando o íntimo de quem quer que seja, porque se assim fora, o Cristianismo teria mergulhado na areia movediça do tempo, e nós estaríamos hoje sem o sinete firme da redenção do Mestre, da orientação segura que está de explanando por toda humanidade a ferro e fogo. Amor depois da justiça.

Resta uma pergunta: Sou também cristão? Pergunta que só pode ser respondida por cada um, numa autoanálise consciente.

É muito importante dedicar algum tempo a serviço do Cristianismo, quer se trate de igreja, templo ou comunidade, mas com labor intenso, amor profundo que se caracterize pelo fruto, pelo trabalho, pela autointegração na obra e, integrar-se é viver aquilo que faz, mantendo a boa vontade em bem servir, dentro dos moldes do Evangelho.

Sem trabalho não há realização. Os primórdios do Cristianismo nos legaram exemplos brilhantes de força e sacrifício.

Se aceitamos ser cristãos, se nos propusermos a seguir os passos do Mestre, temos que aceitá-lo como ele é. Temos que aceitar na íntegra as imposições dos seus ensinamentos.

Jesus trouxe no seu compêndio de amor, a estruturação da sociedade futura nos moldes que exigem realmente um pouco de coragem,obstinação, persistência na conquista do bem interior e, possivelmente, o bem comum exterior.

O objetivo único de toda agregação cristã é a procura do seu próprio eu, em busca do próprio aprimoramento e, posteriormente, por via desta elevação espiritual, tornar-se útil, benéfico à própria comunidade, não através da imobilidade, da inércia, mas pelo dinamismo, traçando um roteiro e caminhar até o ponto desejado.

Homens do caminho, gente que não para, não estaciona, que segue um caminho pré-traçado. Homens que não conhecem bifurcações. Espíritos de escol que não se escondem do escaldante sol que os castigará durante a jornada, nem dos frios ventos cortantes da noite, e prosseguem sempre em busca do seu próprio destino. Isto é vivência cristã. Isto é motivação da existência.

Homens para os quais não existe distância que os separe, que os atemorize. É o progresso eterno e constante do próprio espírito. Homens que desconhecem os limites, em se tratando de gestos nobres, de trabalho profícuo.

Não podemos torcer Jesus às conveniências de cada um, ou então, nos separemos dele. Modificar o Evangelho e adaptá-lo às supostas limitações de cada mente, é inconcebível. Jesus é um. O seu Evangelho é um. Não é outra coisa senão como bem viver entre os homens, para aquisição dos dons sublimes do espírito. Os ditames evangélicos são imutáveis, inamoldáveis a qualquer outro sentido interpretativo, não admitindo a dualidade livre de interpretação. E, para quem tiver alguma dúvida, valemo-nos da expressão que sintetiza tudo: “Amai-vos uns aos outros tanto quanto vos amei”. É a síntese. Mas, o amor ao próximo deve começar em cada um de nós, amando-nos a nós mesmos sem nos descuidarmos do aprimoramento interior.

Não existe ausência entre cristãos, a não ser no simbolismo da separação dos corpos, com a morte, porque o cristão vive ligado a outro pela vibração do amor, por pensamentos de simpatia, pelo desejo de felicidade ao seu irmão, a todos os irmãos. Não existe, de forma alguma, o sentido separatista, a distância. O que prevalece no âmbito do Cristianismo, é o mundo da sensibilidade, é o amor que vive no coração e frutifica no espírito, é o bom entendimento que nasce na palavra, consolida-se no raciocínio e materializa-se nas ações.

(recebido por via mediúnica)