66 – Paz

Para que a paz possa aninhar-se no coração de cada um, é preciso encontrar a consciência tranquila e verificar se em seu arquivo não existe nada que empane o brilho dessa paz tão aspirada por todos.

É importante discernir bem, com a necessária precisão, o que é ter a consciência tranquila. Muitos fazem tudo para esquecer os seus erros, suas falhas, e pretendem ter a consciência tranquila. Encobrem os seus desmandos com o véu do esquecimento, passam a requerer a paz e não encontram, não atinam com o por quê, com o motivo, com o fundamento da inexistência dessa paz real.

A consciência tranquila requer pureza de sentimentos e um profundo e extraordinário esforço interior para que o véu alvo da própria alma não se enodue com o mínimo. No mundo material em que vivem os encarnados, isto não é simples de realizar. Tem-se que lutar ainda para preparar o foro íntimo capaz de abrigar convenientemente a paz interior, e esta paz ninguém dá, tendo como motivação, como fator principal, as ações de cada um, os bons atos, a vivência cristã, porque cada criatura constrói sua própria paz.

Bondade é uma geratriz da paz. Bondade para com os outros, para com os bons, para com os retardatários, para com todos, e vai assim, encontrando este veio aurífero, espiritual, chamado paz.

É preciso entender sempre, que não basta fazer a sua ascenção nas espirais de um sonho, ou galgar pressurosos a escada da esperança. Passamos, embora adultos a viver como crianças, na miragem. É esperança sem atos, sem realização, é miragem do viajor sedento em pleno deserto. Esperança em si, não basta para a construção da paz; só a fé em si, nada representa para a construção da paz, porque esta nos seria dada de esmola. Como tudo que possuímos, na ordem das coisas espirituais, não havendo privilégio, e sendo o Pai equânime, equitativo, como o é nas coisas mais simples que Lhe compete distribuir aos homens, aos seus filhos, não podemos, de maneira alguma, através dessa simples esperança, ou pela simples fé, querer aurir a paz.

É preciso combater os maus desejos, os maus atos, pensamentos deteriorantes que fazem com que a paz não exista. De que valem a esperança e a fé sem trabalho e realização? Não é a fé fruto das obras? É um paradoxo, e até parece que se está contradizendo Jesus. A fé é um estado que propicia a toda a criatura, energia espiritual a fim de poder realizar com facilidade, ou através de inúmeras dificuldades, as suas próprias obras.

Fé é um estado de alma que traz à tona uma força ainda desconhecida para o homem, que o capacita a obras e realizações tais que o deixam estupefatos, chegando a crer não ter sido possível que ele próprio as concretizou

A fé é unicamente um sentimento que gera uma força ainda não usada pelo homem na sua milésima ou bilionésima parte e, como é uma cadeia, uma sucessão, sendo a motivação da energia, gerando esta energia, através da qual o homem realiza, e realizar é construir, edifica ele a sua própria paz interior. Isto acontece quando a fé é no sentido positivo e o homem se propõe a realizar através dela, atos de verdadeiro heroísmo espiritual. Assim, a paz só vai encontrar guarida no âmago de quem possua esta força de realização para trazer a sua própria consciência elevada, pura, limpa, sem jaça, porque tendo fé, o homem luta em busca dos profundos conhecimentos de além-túmulo e, através da pesquisa, do trabalho, das realizações em torno de seus irmãos, em prol deles, vai penetrando normalmente no mundo espiritual, aurindo sensações novas que lhe capacitam perceber o mundo sensorial extra-terreno, fortificando a certeza, a fé raciocinada de que está operando no sentido positivo. Esta criatura começa, através desta certeza, a pôr as coisas materiais no segundo plano, inclusive a calúnia, os maus tratos, superando tudo isto. Mas, é preciso que tenha fé, que a realize, que a ponha em prática e que, através dela, busque a verdade.

Não há alternativa para quem não vive o Evangelho na Terra, através dos atos diários, e não através da preguiça espiritual. Isto é o que acarreta a falta da paz referida anteriormente.

Por que não procurar construir a única casa espiritual, que é a paz? Só pode ser feliz, quem tem paz, só pode ter paz, que tem liberdade de consciência. Só pode ter liberdade de consciência, aquele que reconhece que tem feito tudo o que está ao seu alcance, para viver dentro dos moldes do Cristianismo.

A humildade está caracterizada no mais sublime discurso do Mestre: “Se te pedirem a túnica, dá-lhe também a capa. Uma bofetada na face, vira a outra”.

Teria Jesus mentido no Evangelho? Ou este foi escrito ao bel-prazer de inteligências tacanhas?Ou seria invencionice? Está ou não, escrito no Evangelho, que a humildade também faz parte integrante da vida do cristão? Como? Experimentando ir até o seu irmão menor, ao infeliz, sem vaidade, na verdadeira elevação interior, procurando compreender suas dificuldades no sentido da ignorância, do seu retardo espiritual, cuidando não só do seu corpo, oferecendo-lhe coisas materiais, mas também do seu espírito, dando-lhe o pão da sua compreensão, o vestuário da sua elevação, o remédio da sua humildade, o exemplo.

Não existe no mundo força superior à bondade. Qualquer um pode ser bem quisto, desde que seja bom, irradie bondade, cristianismo puro, viva a bondade, a compreensão através dos atos cotidianos e, compreender os nossos semelhantes, não é desfrutar das necessidades primordiais da carne. É perceber suas deficiências espirituais, aguardar paciente as suas reações e devolver-lhe com amor incondicional, os seus atos menos dignos.

O Evangelho de Jesus prega o amor ao próximo no sentido de “vestir os nus, dar de comer aos famintos”, apenas como complementação transitória, como preparação para que o verdadeiro cristão possa, acima de tudo, sentir que a diretriz básica e fundamental do Evangelho, é transformar o irmão faminto e, esta transformação, não reside em dar-lhe um prato de comida ou simplesmente uma roupa velha, mas a oportunidade para que ele tenha direitos no âmbito da sociedade cristã. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados”.

A diretriz básica do Evangelho de Jesus é a transformação do homem.

Não é possível cada um viver o Evangelho à sua moda,o que seria falsear uma verdade, ou mentir a si mesmo. Seria “supor ter a consciência tranquila”.

 

Irmão Guerra

(recebido por via mediúnica)