Valor extraordinário, é o da humildade.
Humildade inteligente, compreendida, consciente. Não a humildade covarde, porque muitos se valem do estado de humildade, sem que tenham consciência do seu valor. Humildade pautada pela integridade moral, sem temor, aquela própria do apóstolo de Cristo, que sabe dizer sim e não, primeiro a si mesmo, depois ao seu irmão, mas de maneira humilde, passiva, de maneira que possa convencê-lo do erro, mostrando-lhe a realidade.
A humildade traz o cunho da firmeza, da intrepidez. Jesus era humilde, profundamente humilde, foi o verdadeiro líder da humildade, na expressão, nos movimentos, na coordenação das ideias, porém jamais covarde, Provou isto na invasão do templo, quando houve necessidade de dizer não1.
Não devemos confundir o covarde que quase sempre penetra nos meios de ordem religiosa, que se curva a todo instante, que não sabe dizer sim e não, que não tem firmeza de ideias, que foge à sua própria personalidade, constituindo-se no retrato vivo da covardia, usando o subterfúgio da suposta humildade.
A verdadeira humildade é franca, decisiva e clara como a luz do sol.
A verdadeira humildade traz o timbre da liberdade de expressão, foge à imposição, é cordata com as coisas justas, com a voz da consciência a dizer a verdade com amor, trabalho honesto e fecundo. Discorda com a vaidade e o egoísmo.
O humilde é pacífico, comedido, equilibrado, mas nem por isto é covarde.
Ser humilde é uma coisa, ser covarde é outra. Aquele que é verdadeiramente humilde, não se oculta nas expressões físicas : cabisbaixo, com modulações de voz soturna, não diz sim a todas as coisas que lhe são impostas.
O verdadeiro humilde é aquele que vive sendo realmente o que é, demonstrando, sem receio, o seu foro íntimo, na largueza, na plenitude de suas expressões internas.
É a característica do verdadeiro cristão, daquele que já alcançou a verdade contida no Evangelho de Jesus, que traz no seu bojo não só a profundidade dos ensinamentos, mas sobretudo o da honestidade para consigo mesmo. Não faz da tolerância uma fonte onde transitam o erro e a verdade a um só tempo. Não faz do amor ao próximo a condescendência com a inércia, com a má vontade, nem motivo de cegueira à má fé, ao sentido oculto, ao veneno que vai em cada espírito.
Não dá margem à concordância com a vilania, não se submete às autoridades do egoísmo, da vaidade, antes, suporta com amor, procurando por todos os meios, redimir o seu portador, num exemplo de força de vontade, num forte determinismo .
O humilde mostra ao errado o caminho certo, pelo desprendimento, sacrifício, esforço e pelo esquecimento de si mesmo, mas acima de tudo, pela austeridade, pela personalidade marcante, distinta, de uma força interior que lhe determina os atos.
Quando o cristão não tiver mais onde e de que maneira se defender dos ataques ferinos do ódio,do vilipêndio, da traição, terá ele a suficiente coragem de, pelo menos, colocar o braço sobre a face para que o chicote não lhe atinja.
O cristão é, acima de tudo, uma fortaleza interior que não abriga em seu seio os traidores, os vícios, a ignomínia que vão destruindo os muros desta fortaleza. Também não teme arremetidas exteriores. Em síntese, se houver o que o cristão desconhece nas lides do trabalho de moralização, é o “medo”.
A humildade vale muito pelos atos e não pelas palavras. Seja cristão real, num esforço contínuo de amar o seu próximo, não pela poesia evangélica.
Se o Evangelho é uma flor, não se esqueça nunca de que no seu caule há também espinhos. Aceitá-la é aceitá-los é amá-la é amá-las Empunhar a flor, só pode ser pelo caule, sentindo os aguçados espinhos. Mas, o verdadeiro cristão ignora as agulhas pontiagudas e tem a suficiente coragem de admirar a beleza da flor.
ORAÇÃO
Pai nosso que estais nos céus, que santificado seja o vosso nome, que a vossa vontade seja sempre satisfeita em tudo e por tudo. E o pão, Senhor, que nos vivifica, que outra coisa não é senão a ternura, o vosso amor profundo, nunca nos falte no transcurso da longa jornada. Perdoai, Senhor, se oprimidos pela ignorância, falhamos e, trôpegos, caímos. Vêde em nós, crianças ainda. Dai-nos, Senhor, no exemplo magnificente do nosso Mestre, esta força hercúlea de perdoarmos com amor e compreensão, as bofetadas morais que sempre nos são arremetidas. E vós, Mestre, que na ondulação do tempo e do espaço, permaneceis sobranceiro, viril, luminoso, cuja voz ainda ecoa pelas estradas deste mundo, dai que eu vos veja’ na glória, no resplendor, e que eu possa sentir, Senhor, em cada mártir da fé soberana, um degrau iluminado sobre os quais irei pisando até alcançar-vos, E, se necessário for, Senhor, que eu tombe sempre no martírio da minha própria auto-contenção do esforço contínuo de amar o próximo, a fim de que eu também venha me constituir mais um degrau para que meu irmão possa se conduzir até a vossa presença.
Senhor, que me falais tão alto pela voz do vento, que me envolveis no amplexo paternal do calor do sol, que me embriagais de prazer pelo perfume das flores, que me falais ao ouvido pelo canto dos pássaros, que vibrais em mim pelo que sou e como sou, daí também a todas as criaturas, a mesma percepção da vossa presença, na brisa leve que passa, na tempestade que atormenta, no vendaval que arrasa, no riso da criança, na dor que dilacera, na força da esperança.
Irmão Guerra
(recebido por via mediúnica)