31 – O Evangelho

Ao analisarmos os ensinamentos de Jesus, podemos sentir-lhe a inteligência extraordinária, visto que, constrangido por um lado, pela política romana de férrea dominação e, por outro, pela intransigência ortodoxa, além da escassa cultura do povo, houve por bem desincumbir-se da missão que lhe fora confiada, envolvendo a pérola da verdade na ostra da pérola e predizendo que dependeria de tempo e condições, para que esses ensinamentos fossem entendidos e passassem a dar os frutos objetivados. Portanto, está o Evangelho na sua parte essencial, vazados no subjetivo, envolvendo o abstrato.

 

O ESPÍRITO DO EVANGELHO

Jesus sempre foi sério e objetivo, o que dá ao Evangelho o valor de um completo, perfeito e farto repositório de verdades sócio-evolutivas, embora envolvidas nos simbolismos das parábolas.

Tudo, pois, que se queira saber concernente à evolução do espírito, vive e reside no espírito do Evangelho, desde que visto com “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, o que se propõe como inteligência fundada na razão e consciência dos fatos. Valoriza a cultura, o trabalho, o progresso sobre todos os aspectos, o que o caracteriza universalista e genérico, nunca sectário e circunscrito sob qualquer título religioso.

Toda exposição evangélica é de espírito global, universalista e não seletiva ou personalista, o que não é possível em quesitos de evolução.

 

O QUE É O EVANGELHO

É preciso dar ao Evangelho – Novo Testamento – o senso exato e conciso do que se constitui, sem fantasias ou suposições, arrancando-o dos limites dos templos e da inocuidade poética. O Evangelho não é propriedade de nenhuma religião, mas a Carta Magna da humanidade no futuro próximo.

O que não se pode admitir é nos curvarmos às frontes laureadas pelo saber humano de sofismas e engôdos, acobertados por santidade aparente.

O Evangelho é um compêndio de sociabilidade expressiva, progressista, avantajado em ciência e consciência e que, dentro do fator tempo-ordem, se implantará.

O Evangelho é poesia somente na capa, mas suas páginas encerra, feitos de discípulos, homens adultos, o que não dá margem ao diletantismo processual.
Esta “Carta Magna” do homem do futuro ou tratado completo de evolução, é pródiga em citações atinentes à necessidade de evoluir antes para que se possa entender e realizar em função de ser.

Se quisermos entender este tratado, convém penetrarmos pelo ângulo legítimo que é o sócio-institutivo destinado à sociedade, a qual deverá por meio dele, atingir a complementação racional do estágio terreno, o da mansuetude, claramente expresso no Sermão da Montanha, que cristaliza em admirável seqüência e ascensão evolutiva do homem, dentro do estágio reencarnatório, até os seus limites.

Jesus, o Mestre Nazareno, legou ao homem um só compêndio, dois fatores de capital importância, isto porque na letra encontra o destinatário em excelente manual de disciplina e no seu espírito, um não menos magnífico tratado de evolução, de cristalina limpidez, desde que escoimado de interpretações que convêm a política de facções.

O Evangelho é um tratado do mais alto teor evolucionário. Jamais poderá ser entendido, definido e vivido sem que antes a inteligência esteja suficientemente desenvolvida por uma cultura sólida. Ele constrói a personalidade coletiva, pela soma das personalidades individuais.

O Evangelho é um e único, é o necessário, completo para orientar a humanidade em sua meta evolutiva. Ele não é complementativo de Bíblia. Não necessita de outro que lhe complete. Não se constitui lei de Deus, mas um remodelador das leis sociais. Sua determinante fundamental é a característica intelectual. É um código do bem viver que destrói preconceitos. Pretende a igualdade, a justiça, o perdão.

 

VERDADES EVANGÉLICAS

Temos que partir do princípio que o Evangelho fala das “coisas da Terra”, e não restam dúvidas de que todo referendável sejam essas mesmas “coisas”.

Advoga o nosso pensamento o fato de ter sido o Evangelho trazido à Terra, expresso em linguagem da Terra, para os homens que nela habitam.
Outro fator que suporta está afirmativa é o dizer do próprio Jesus: “Como crereis se vos falar das celestiais”? (João, 3,12).

O Evangelho tem como base elementar, disciplinar o homem, e pela dignificação da pessoa humana em termos de cultura e moral.

Propõe em relação à disciplina do homem, o exercício constante da virtude básica, que é a compreensão da falibilidade do nosso semelhante, o que é fundamental, porque gera a tolerância, um dos estágios precedentes do amor. Tolerância e concordância operante educativas vazadas no exemplo da cooperação inteligente, sem humilhar. Tolerância que transige com a ignorância, mas não a relega à própria sorte, e tal proceder em contínuo, forma o hábito que dentro dos fatores tempo-ordem, passa constituir o íntimo Ser.

O Evangelho não faz propostas que ultrapassem as possibilidades humanas, sendo trazido à Terra para ser posto e, prática pelo homem.

 

O EVANGELHO E O EVOLUCIONISMO

Dentro do espírito do Evangelho cumpre ao evolucionista entender que o desejo é a transformação radical do pensamento, levando a criatura a novas concepções como sejam: o profundo sendo de responsabilidade junto ao seu semelhante, não o sentindo como um estranho, mas como um irmão, não descendo até ele, mas trazendo-o á sua altura em todos os sentidos, proporcionando-lhe condições de vida, de cultura e de moralização sócio-vivenciais dentro da dignidade em que deve viver o homem. Cumpre substituir o cerúleo pelo terráqueo, aqui e agora.

O maior objetivo do Evangelho não é outro senão: “Haverá um rebanho e um pastor”, (João, 10:16), o que em explícito verbo quer dizer: só o cooperativismo e só ele é o fator da fraternidade, onde o competitivo não encontra termo de ajuste, e o desnível dentro do mesmo âmbito é simplesmente incompatível.

O Evangelho não obriga ninguém, mas convida, e os que desejam ser escolhidos, devem entender que não existe lucro senão no próprio ideal.

 

O EVANGELHO E O ESPIRITISMO

Não que há como atestar um cronológico nos ensinamentos de Jesus , porque sendo ele um homem do povo e em seu meio vivendo, valeu-se de todas as oportunidades para deixar transparecer, quer por parábolas ou acontecimentos fortuitos, as suas magnas lições.

O Evangelho não se presta pelo seu conteúdo como estrutura de religião, porque é um tratado de âmbito universal, em que o homem é tido como simples parcela do todo.

O Evangelho, em contraposição ao critério religioso que escraviza o homem em função de promessas e de sanções penalógicas, coloca a pessoa como ponto de referência, estabelecendo concordância com as limitações naturais próprias ao seu estado evolutivo presente e fiz: “Nem eu também te condeno” (João, 8,11).

O Evangelho deve ser estudado buscando a compreensão e o entendimento dentro de um raciocínio analítico. Tudo que fugir à normalidade racional, deve ser posto de lado e rejeitado.

Podemos dar também ao Evangelho a denominação de “Tratado de Sociologia e Política Evolucionária”, pois ele não se refere só à sociedade, como propõe uma total e absoluta inversão de conceitos e prática da ação social, que é a completa libertação da crendice limitadora, submetente e condicionante.

Este “Tratado” esclarece e prova que o relacionamento de CRIADOR com sua criatura é de plena e absoluta liberdade, e que do CRIADOR não provém qualquer tipo de sensação justicialista sobre o homem, em termos de justiça aplicada, como infelizmente se apregoa.
Este Espiritismo de fundo religioso tem infelizmente desfigurado a filosofia do Mestre Nazareno, promovendo uma farta distribuição de sanções que punem tanto o encarnado como e desencarnado, o que constitui um desdouro inconcebível àqueles que se jactam inclusive do seu título de reencarnacionistas.
“O Tratado de Evolução” – Novo Testamento – diz ao idealista que “SEJA E VIVA” no hoje em função do seu semelhante, como outrora os idealistas seguidores fiéis de Jesus que a tudo enfrentavam indômitos, sem jamais se escudarem, em supostas limitações, esquecidos de si próprios, mas buscando o benefício do todo.
O nosso dizer é dirigido aos evolucionistas convictos e não aos condicionados. O alicerce em que se fundamenta o Evangelho é “fazer pela felicidade de fazer e fazer o necessário, o imediato” (vide a parábola do Bom Samaritano). Infeliz aquele que só faz o bem por obrigação ou por interesse, pois desconhece a alegria e a emoção que vive aquele que só por amor e espontaneidade o faz. Infeliz também porque ignora o que seja viver em “espírito e verdade” o CEI íntimo no momento da ação, pois embora o corpo silencie, a alma sorri.

Material compilado pela equipe de estudos do Grupo Espírita “Judas Iscariotes” em 2006