44 – Razão, consciência e evolução

Quando nos propomos a dizer sobre evolução, estamos tratando de um tema de alta relevância, ou seja, do próprio motivo de existir.

Em que pese a mediunidade do termo, aqui entendêmo-lo sempre no ascendente gradativo.

Tentar fixar a época do seu início é inovar uma tese carente de comprovação, mas podemos tomar como referência convencional do nosso objetivo, o momento a partir do qual o homem começou a viver em regime associativo.

Sabemos que o homem sempre agiu por motivações objetivas pessoais, mesmo em vida de associação, mas tornando-se, ainda inconscientemente, um cooperador desta mesma sociedade, dentro da qual encontra apoio para as suas realizações.

Em face de tal procedimento, podemos aquilatar já extraordinário equilíbrio com que se manifestam as leis evolucionárias.

Ao retrocedermos no tempo, veremos que a história da humanidade é uma secessão de eventos advindos de circunstâncias geralmente motivadoras de lances evolutivos no planeta. Isto nos leva a sentir também nelas a inferência dessas mesmas leis, dando-nos a perceber que se trata de um compulsório geral, que impele o homem a estruturar um autoprocessamento visando a superação, cuja dinâmica constitui o fator do desabrochar da inteligência e, do seu adestramento consolidante, como componente constitutivo do abstrato e tendo como resultado concreto, o usufruto em termos de progresso.

O legislativo determinante permite a responsabilidade do evoluendo no autoprocesso, realizável dentro da já citada circunstância de exata consonância com o estado intelectual.

Em contínuo, operando pelos fatores ordem, tempo e dinâmica, as leis da evolução promovem um gradativo desabrochar da consciência-razão.

Muito embora inexpressiva em gráfico, em face do harmônico associativo universal, podemos conceber a escala evolutiva em estágios hipotéticos, o que nos faculta dizer que o homem, tendo atingido o estágio racional, ainda não o consolidou dentro deste período de tempo, que poderemos denominar de transição, compreendido desde a entrada até a consolidação, o que determinou as já citadas circunstâncias. Quanto mais se aproxima dessa consolidação rumo ao estágio superior, menos manifesto é o inferior e também menos oscilante o proceder. Por isto a impossibilidade de se estabelecer uma escala em divisor completo, pois que a evolução, em realidade, é uma permanente transição em ascendente.

Dentro desse pensamento, encontra guarida o procedimento variável do homem quanto à vida íntima e suas expressões no âmbito social, que variam desde o amor até o ódio, vividos por uma mesma pessoa, instabilidade esta que bem traduz o neófito evolutivo racional.

Temos pois, no homem, um racional primário submisso às variações emotivas em circunstâncias propícias.

Na atual escala podemos dizer que é um consciencial completo e um racional limitado.

Quando na condição de racional efetivo, terá completo governo emocional, só variando a atitude, de maneira consciente e racional conveniente, que em conseqüência do estágio superior, será sempre positivo e construtivo.

Entretanto, cada estágio é dotado de larga faixa de tolerância, permitindo inúmeras circunstâncias determinantes de eventos, além da conveniência de criaturas pertencentes a este estágio, de mais ou menos desenvoltura intelectual, o que estabelece o desnível intelecto-atuante.

Dissemos que o homem possui razão primária, o que quer dizer que para definir dentro desta mesma razão, antecede um traslado gradativo descendente até o concreto conclusivo sensibilizante. Damos a concepção ou inspiração ou idéia como o “conceito-abstrato”, e que por raciocinar ainda em razão indireta, ou seja, relativa, ou ainda por comparação, transfere o abstrato para o “conceito-imagem”, ou seja, imagem de linhas gerais, refletida no cérebro. Aqui temos o consciencial.

Já no campo da razão, há necessidade ainda, da esquematização (transporte de imagem) ao censor analítico em função dos valores negativos e positivos pelos quais se verifica se realizável ou não, de acordo com a limitação do estágio e do estagiário.

Este é o módulo operacional compatível com as paralelas limitadoras e que se deduz como genérico ao estágio. Por estágio compreende-se um período pré-determinado pela consciência absoluta, inteligência suprema, dentro do qual o ser inicia e completa uma fase evolutiva.

Penetrando na realidade evolutiva, sentimos que a evolução e sua conseqüência que é o “progresso”, têm como estrutura a cooperação da unidade com o todo e se desenvolve também dentro dos fatores tempo-ordem-trabalho. Isto nos faculta dizer que em qualquer circunstância ou estado em que o ser se encontre, jamais prescindirá desses mesmos fatores, sejam quais forem os objetivos a alcançar, e nos  permite entender que inexiste evolução unitária em qualquer estágio, mas um harmônico universal que podemos entender como um descendo em que os seres de gama evolutiva superior auxiliam os inferiores, até o mínimo de vida concebível.

Sabemos que, quando o ser já se completou como “cônscio-racional”, tornou-se uma personalidade abstrata, não mais necessitando de reencarnação em qualquer mundo nos mais diáfanos, em somáticos mais sublimados em cultura e moral, passando a evoluir em diante, exclusivamente no mundo etéreo, sensorial e em intelecto abstrato. A este ser podemos denominar “desvinculado” ou “liberto”.

 

EM QUE LUGAR O ESPÍRITO EVOLUI

 Pergunta: É possível ao espírito evoluir na erraticidade?

Respostas: Sim, para uns, e não, para outros.

Para os espíritos que estão ainda vinculados ou sujeitos às contingências reencarnatórias, não é possível, o que não acontece aos “desvinculados” ou “ libertos”, que não estão sujeitos a tais contingências.

Antes de prosseguirmos, porém, teremos que determinar o que seja, em realidade, Evolução.

Em primeiro lugar diremos que uma programação, por mais perfeita quando realizada pelo homem, distancia-se, e muito, do realismo evolutivo. Podemos afirmar que a evolução tem como determinante o associativo “inteligência-moral”, como constitutivo do próprio ser, e que tudo mais é uma resultante natural.

Observe-se que dissemos “constitutivo do ser”, o que não tem, portanto, o sentido aquisitivo, mas transformante. A evolução tem na inteligência coletora de conhecimentos, o seu atuante e, no exercício, a fusão dos mesmos como componentes, o que nos aclara não ser ela simples conhecimento.

Todo ser “vinculado”, portador de razão conclusiva indireta, como antes esclarecemos, só ainda no concreto pode adestrar-se e transformar-se em fator intelecto-moral até a sua complementação como personalidade abstrata independente.

A esses “vinculados” é dado, quando na erraticidade, apenas aurir conhecimentos que permanecerão arquivados e que serão consolidados como componentes, no campo concreto, pela prática constante, em mundos condizentes com seu estado de evolução, e não em relação aos mesmos.

Afirmamos que só ao espírito desvinculado ou “liberto”é possível a evolução na erraticidade, porque nesta condição já se constitui em um “cônscio-racional dedutivo direto” que, por ter desenvolvido potenciais, tornou-se “personalidade abstrata independente”, ouseja, aquele que pode penetrar, sentir, dinamizar e condensar o potencial magnético universal abstrato, modificando-o como lhe aprouver.

Através desse labor, acionando leis etéreo-reagentes no plano cósmico, além de colher novos ensinamentos, o “espírito desvinculado” vai consolidando-os como componentes da sua própria personalidade, sublimando-lhe a sensibilidade, sempre em ascendente-evolutivo.

Assim temos que um espírito “desvinculado ou liberto” quando atingir a fase do amor, não ama, porém é o amor.

Se fosse possível ao espírito “vinculado” evoluir na erraticidade, desnecessária seria a existência dos mundos e, consequentemente, das reencarnações. A existência desses mundos, bem como as reencarnações, dizem dessa impossibilidade.

Poderão argüir, se o espírito na erraticidade possui múltiplos sentidos que lhes aumenta a percepção. Responderemos que, por tratar-se de um “espírito vinculado”, que só determina e define em concreto sensibilizante, dentro do relativo, sendo envolvido pelo abstrato e não penetrado nele, é a amplidão do conceito abstrato que auxilia o espírito a concluir nas mesmas normas que quando encarnado, ou seja, recolhendo em um ângulo de maior amplitude, porém em convergente, transferido sempre ao conceito imagem e acomodando-se no “Eu” como conhecimento.

Temos que o espírito pode ser todo percepção, porém o traduzir, sentir e ser tais percepções, é que difere entre o “vinculado” e o “liberto”.

Sempre que falamos de evolução, não podemos desassociá-la dos eventos históricos e sentir que o evoluendo é esse mesmo homem que, para obter conhecimentos científicos por meios tangíveis aos sentidos comuns, tem que começar pelas primeiras letras e, dentro dos mesmos fatores tempo-ordem-trabalho, ir ascendendo em lento-dedutivo-assimilativo, processo este que, enquanto vinculado ou dependente do concreto, prevaleceria sobre qualquer outro sentido de evolução, se existir pudesse.

Todos os eventos históricos tiveram como objetivo preparar, no seio da sociedade, condições favoráveis ao autoprocessamento. Daí a semelhança de que o todo mergulha num caos, mas que emerge sempre com novos conceitos, novos princípios e novas concepções científicas, o que até a sua consolidação obviamente demanda tempo e que determina esse “aparente desmando” e desacerto da geração posterior. Mas tendo suplantado conceitos arcaicos e obsoletos em todos os terrenos da vivência social, propõe novos sentidos em sociedade, sempre perseguindo, mesmo que dentro da limitada trajetória berço-túmulo, a meta prognosticada há mais de dois mil anos pelo maior dos evolucionistas.

A lei da evolução, dentro das características circunstanciais, atinge o todo, de maneira indiscriminada, ignorando os méritos pessoais, visto que, por mais culto e moralizado que seja o espírito, desde que dentro dos limites de determinado estágio evolutivo, poderá ser atingido em acidental pelo agressivo do “habitat”, salvo os missionários “desvinculados” que já têm absoluto domínio sobre o concreto. Exemplo: Jesus de Nazaré.

Ninguém, em sã consciência ousará contradizer um fato que salta aos olhos ainda no planeta, pois é de ordem legislativa promovente da evolução. A agressividade do ambiente concitando o espírito à luta pela superação.

Temos, portanto, que o “evoluir” se processa pela dinâmica atuante, despertadora da inteligência e consolidadora de princípios como componentes do próprio “Eu”.

É inútil, portanto, pretender desviar tal princípio que atua independente e indiferentemente aos conceitos criados e aceitos pelo homem com bases empíricas e místicas.

“EVOLUIR” está na dependência direta da cultura aliada à moralização, ou seja, à dignificação do homem como pessoa humana.

Importa, pois, ao homem cuidar do homem dentro das circunstâncias em que se encontra, o que impõe sobejo espírito de sacrifício, extremo desprendimento e súbita coragem, além de exaustivo trabalho moldado principalmente, no mais completo esquecimento de si próprio.

Se continuar dentro do seio reencarnacionista, o grotesco arremedo do catolicismo e dissidências, no que tange a “concepção” e “obras”, teremos dentre em breve, novo sistema sectário-religioso, desvirtuando fundamentalmente os fins a que se propôs o mundo incorpóreo.

É tempo de tomar diretrizes condizentes com sóbrios e simples princípios evangélicos.

 

Irmão Anthero

(recebido por via mediúnica)