46 – Verdade Evangélica

Tratando-se de evolução, não se admite nada exterior mais não somente interior.

Evoluir “é” que, partindo da simplicidade e ignorância pelos meandros do auto-processo (meios), via reencarnação, vai o ser “desabrochando” aquilo que já se constitui em estado latente: intelecto, razão e sensibilidade, ou seja, inteligência e moral. Mesmo no campo da cultura científica, que é a base da evolução, e, portanto, integra e proporciona a mesma, não se exclui esse gradativo desabrochar. É a aquisição abstrata interior e não exterior, visto que cultura não pode ser pesada ou medida, como o concreto.

Tratando-se aqui da verdade, podemos dizer que a própria verdade científica é para o homem até o limite de seus conhecimentos, e só o é até onde a razão e experimento a testificam, sendo para cada um segundo o seu entendimento, pois a verdade não advém senão pelos foros da razão em conclusivo exato. Seja qual for o ângulo de concepção, só por esse meio ela penetrará o homem, independente de exposição de quem quer que seja, porque podemos transferir conhecimentos , jamais compreensão, pois “é” em razão direta ao grau evolutivo da criatura. Em se tratando da verdade evangélica, ou evolutiva, inexiste outro processo assimilativo.

Imaginemos compêndios científicos como evangélicos e teremos que, muitos os leem, entendem os seus princípios fundamentados no exposto “letra”, enquanto que outros penetram no “espírito”, de onde extraem conclusões que, levadas ao experimento, determinam o avanço da ciência em novos padrões. Se, ao contrários, todos se ativessem apenas ao exposto, seriam meros retransmissores da letra que conteria a verdade, sem que esta viesse á tona, ainda que passados dois mil anos.

É-nos permitido dizer que a ciência, que é verdade, só o é em sequência evolutiva ascendente e que, por certo, a verdade base será um superposto de verdades parciais e, como a evolução é eterna, temos a verdade como indefinível no seu absoluto constitutivo.

O grande Mestre Nazareno é explícito quando diz que muito mais havia para ser dito, mas que o entendimento da época não o permitia, o que deixa claro ser o Evangelho o repositório de verdades parciais, carentes de complementação. Disse ainda que o espírito contido nas verdades por ele pregadas em forma de parábolas, seria entendido quando o homem estivesse esclarecido á altura.

Quando se refere ao Consolador, Jesus não permite dúvida ao dizer que “ele já habita em vós e estará em vós” (João 14:16,18). Se ele já habita no homem, é óbvio que está na dependência de uma condição para estar nele, sendo, portanto, o habitar inaflorado ou incubado e, estar nele, o mesmo que aflorar em consciência e razão, o que consoante á evolução, é um sucessivo ininterrupto esclarecedor, que também assimilado gradativamente constituir-se á no homem o qual não só conhecerá a verdade, como dela se constituirá.

“Eu sou a verdade, a vida, e serei também o caminho”, para os que quiserem vir após mim e se transformarem em verdade e vida, como eu, através dos tempos, pelo trabalho constante e férrea auto-disciplinação. Não sou quem diz , mas o Mestre em outra ocasião: “Vós sois deuses, capazes de fazer o que eu faço e muito mais”. Isto constitui a mais bela definição do princípio evolutivo, meta única de toda criatura e, como fundo moral, também a mais bela, legal e honesta demonstração de humildade.

Inútil, portanto, a quem quer que seja, ou fonte de que promane, ainda que aureolada do mais profundo saber, intitular-se “dono da verdade”, porque dado o que expusemos, esta jamais será definida por completo, porque não teve começo e não terá fim. “Buscai a verdade e a verdade vos libertará”(João 8:32). Dentro das paralelas evolutivas, temos que “liberdade” e “livre-arbítrio” são sinônimos irrevogáveis e, como o livre-arbítrio é conseguido em razão direta á constante evolutiva do espírito, consequentemente a “liberdade” também o será , dando como resultante o que afirmamos em relação á ciência. Sendo a “liberdade” um “estado de vida íntima”, só através da evolução, geratriz desse mesmo estado, poderá ser entendida e usufruída como vivência. Ainda que fosse exposta, estaria a sua consolidação da dependência da capacidade científica evolutiva de quem a recebesse, visto que, como já dissemos, se a verdade penetra o campo da razão, que conduz ao exato matemático definível pela comprovação, é admissível ao habitante da Terra ter como verdade o que está dentro de suas limitações sem, contudo poder afirmar que está de posse da verdade total e absoluta, porque tê-la reduzido á expressão íntima.

Ainda que passem milênios, a afirmativa do grande Mestre Nazareno estará atualizada: “Tenho muito mais a vos dizer, mas não o compreenderíeis agora”, o que nos diz bem do incomensurável da evolução.

Quando interrogado por Pilatos: “O que é a verdade?”, Jesus silenciou e, neste silêncio significativo, está o testemunho vivo e irreprochável do que afirmamos, de que a verdade não pode ser reduzida a termos ou meras expressões através de compêndios ou de doutrinas, porque sendo a essência do próprio existir, é para o homem aquilo que ele é no momento. “Eu sou a verdade e a vida” (Jesus).

O Mestre Nazareno era a verdade e a vida até a sua altura evolutiva, mas não a “verdade absoluta” porque esta só o Criador o é. Relembrando a afirmação de Jesus: “Sois capazes de fazer o que eu faço e muito mais ainda”, dando a entender que a Verdade, a Vida e a Evolução não se reduziam ao estado do próprio Mestre mas “muito mais ainda”. Dentro da realidade inquestionável, podemos dizer tanto que o Mestre como os demais arautos da evolução, trazem os princípios da verdade relativa ao nível do estado consciencial do homem, mas sua compreensão e assimilação com vida transformante, está na dependência direta da condição evolutiva, intelectual da unidade dentro do estágio geral, facultando-lhe sobressair-se em liderança, condução, ciência e cooperação geral com o todo, sem o que inexiste campo como labor dinâmico adestrativo.

Na evolução nada se opera senão dentro da ordem e seu devido tempo. Nada está acéfalo ou mercê da criatura, mas tudo, desde o começo da evolução, é pré-traçado e conduzido com inteligência e critério.

Os milhões de orbes em estado pré-evangélicos estão sob orientação e governo de colégios evangélicos constitutivos de outros tantos Mestres como Jesus, de onde partem com missão de transmitir ensinamentos com a necessária antecedência, para que com lentidão e segurança, seres possam descortinar e assimilar a verdade. Estes mesmos colégios estudam, preparam e condicionam eventos, visando facultar a disseminação de tais ensinamentos e a sua posterior consolidação e assimilação de acordo com a situação evolutiva imperante.

Os seres componentes de tais colégios não prescindem da ordem, primam pela preparação do ambiente ao receber instruções mais avançadas, o que Jesus define com precisão: “Um homem constrói sobre a areia e outro sobre a rocha”, expressão esta bem conhecida dos estudiosos do Evangelho.

Jesus já trouxe á Terra tais ensinamentos deixando, todavia, em forma de parábolas, passíveis de compreensão, definição e assimilação, quando pelos caminhos da evolução científica, cultural portanto, a sociedade estiver em condições. Enquanto tal não acontece com o espírito do conteúdo, o homem se fixará na letra, o que, até o momento, se pode observar, A extrema tolerância com as concepções humanas sobre a verdade, o Evangelho e a evolução, que até o presente não se fixam em bases sólidas e não se definiu em estrutura, carreando retalhos de religiões á guisa de componentes, bem demonstra a inteligência com que agem os “colegiados evangélicos”, evitando choques ou traumatismos pela imposição.

Aos evolucionistas que sobrepões a virtude á ciência, poderá parecer que estamos restringindo a evolução ao âmbito do exato científico, desassociado do virtuosismo evangélico, mas não procede tal pensamento, pois o nosso objetivo é “dar a César o que a ele pertence”. Não podemos esquecer de que toda criação obedece a uma ordem perfeita em todos os sentidos e que o próprio Mestre nos diz: “Primeiro germina a erva, depois a espiga e finalmente o grão”.

EVANGELHO – CIÊNCIA

Se procurarmos aclarar que só depois de altamente evoluído cientificamente, o homem poderá entender, assimilar e viver a Verdade e a Vida, não estamos contra ou separados do Evangelho, mas seguindo a ordem nele expressa pelo seu expositor, Jesus, em inúmeras oportunidades e, observando-se a realidade sócio-vigente, podemos concluir da sequência natural exarada pelo Nazareno. Dois pensamentos ainda prevalecentes têm dado margem á aparente separação “evangelho-ciência”: o primeiro, repudiado veementemente pelo próprio Mestre, é o melodrama da veneração á sua própria pessoa: “Dizeis Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu ensino!” Não existe maior glória para um mestre que sentir nos discípulos o fruto do seu labor.

Convém ressaltar que a personalidade moral do Mestre não se curva a vaidade da bajulação, muito ao gosto da pessoa humana, no âmbito social, salvo exceções, e que a sua vinda á Terra não teve como objetivo a demonstração dos seus valores pessoais (“Eu não testifico de mim”). Ainda dentro da concepção muito humana de fazer prevalecer essa mesma “veneração” como crédito ao alcandoramento pessoal, esquecidos de que “cada um recebe segundo suas obras” e toda a obra proposta por esse mesmo venerado resume-se em dois itens fundamentais: “Amor a Deus e ao Próximo”, que uma simples análise nos diz claro que a veneração deve ser substituída pela operosidade do homem para com o homem. Importa ainda dizer que essa personalidade de escol nem mesmo a gratidão requereu para si. Isto nos faz compreender como lição, que todo ato deve fugir ao específico objetivo de qualquer espécie, mas constituir-se em proceder natural, sendo simples adestrativo, auto-evolucionário em âmbito extra-templo, extra-veneração, pois tal veneração implica na transferência de responsabilidade auto-evolutiva para a simples subserviência neutralizadora.

É mais simples viver como escravo do que assumir responsabilidades, visto que enquanto um raciocina, esquematiza, determina e age, o outro apenas obedece.

Dentro da realidade evolutiva, não prevalece o paternalismo gerador do acomodatício. Daí a impossibilidade do equacionamento da verdade em termos evolutivos, ainda que pelo próprio Mestre, á pergunta de Pilatos: “O que é a verdade?” O Mestre silenciou.

Outro fator que tem desvirtuado o processo evangélico é a concepção de vivência extra-terrena em ambiente de paz, como conquista dos labores terrenos. Essa cegueira mental distorce os objetivos da evolução pré-estabelecisa para a Terra, que é atingir a condição evangélica em que a “mansuetude” será o efeito da mais elevada compreensão desses mesmos princípios, como lastro e legislação da sociedade, em termos sócio-fraternalistas, onde o homogêneo cooperativo espontâneo consciente, viverá a verdade, dentro do compatível evoluto, o que dará ensejos a que a família humana passe a entender-se com escalões “superiores”, agora em razão científica e fraternal, também superior.

Á pretensão de fugir á realidade exposta, deixamos a pergunta: Quais os reais objetivos da luta do homem na Terra, em busca do progresso, se considerarmos que os virtuosos do século X ainda perambulam pela senda das reencarnações?

Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)