47 – Considerando

O homem do presente vive o prognóstico da verdade, mas chegará o dia em que viverá o diagnóstico, tendo então consciência de sua grandeza como princípio inteligente relativo, derivado do Princípio Inteligente Absoluto (Deus). Terá sobre todo efeito da Causa Suprema, conhecimento e domínio, que lhe advirão pelas leis desses reguladores. O mundo gravitará eternamente a inteligência derivada, ou individualizada, será o dos efeitos.

O mundo primário dos efeitos é o das formas e o abstrato  é o das leis que determinam a metamorfose destas formas.Para ambos inexistem limites de espaço, tempo e outros, donde a eternidade do Fator Absoluto. O mundo em que vive o humano compõe-se de duas dimensões e não de três, visto que a terceira obedece a esse mesmo rigor que temos por espaço-tempo.

O homem nada faz senão dentro e por esses únicos fatores, cujo espaço-tempo são segmentos da eternidade. É impossível ao humano conceber dimensões abstratas em seu princípio, embora delas usufrua aplicando-as em seu desempenho, e que são as leis pelas quais soluciona muitos e intrincados problemas da ciência. É, portanto, uma das inúmeras dimensões abstratas que compõem o universo, e que, quando conhecidas e aplicadas, reagem em efeitos, possibilitando ao humano concluir e realizar. O conhecimento e aplicação destas leis é o que constitui, em verdade, a evolução do relativo.

A evolução do homem segue uma direcional pré-estabelecida e compõe-se de estágios interligados, para os quais conceba-se um ângulo divergente ao infinito, e ao longo do qual cada ponto constitui um estágio. Temos que, relacionada ao avanço, está a ampliação da divergência, ou horizonte mental, que pode ser avaliado como o desabrochar da inteligência, razão e consciência, do que pelo óbvio, processa-se a natural mutação de conceitos, tanto de si mesmo como do Fator Absoluto. Quanto ao conceito pessoal e ao Absoluto, estão inteligentemente configurados no mais completo tratado de evolução, através das expressões: “Vós sois deuses” e “Em espírito e verdade”.

Não é errôneo inferir-se “deuses” como partícula derivada do Absoluto quanto ao construtivo, porém no dizer do grande Mestre encontra-se a referência ao que dissemos, aos conhecimentos e usufruto de tudo quanto pertença ao mundo dos efeitos. “Em espírito e verdade”, para os evolucionistas, é entender e sentir, pela inteligência e realidade.

O homem espírito não é um ser criado ou um efeito, mas um derivado abstrato do Absoluto e, como abstrato é indefinível para o relativo, tem-se que sabemos que somos pelas exteriorizações, sem que, porém, possamos dizer o que somos, no que concerne ao constitutivo. Dizemos apenas espírito ou inteligência, mas não sabemos de que é feita ou constituída. Sendo uma partícula desmembrada de um todo, eterno, entende-se que sejamos eternos porque fomos  todo antes da individualização. Podemos então compreender o que seja “um mesmo espírito”  na criação evangélica.

Todos os espíritos ou inteligências são literalmente iguais desde o momento da individualização, no que tange a “ser”, e idênticos também em estado evolutivo. Ao desmembrar-se, a partícula já é sob todos os aspectos perfeita em potencial, apenas ignorando-se como tal grandeza, e cumpre à sua evolução o aflorar deste conteúdo ou componente. A própria realidade do homem presente diz bem claro dessa ignorância, pelo conceito que costuma fazer de si quando afirma ser um verme, um grão de areia, uma insignificância, etc.

O homem apercebe-se das coisas sem que possa, ainda, sentir-se nelas, em toda sua grandeza e plenitude. Diga-se que o homem ainda não se integra na amplitude universal como ser inteligente e independente, a quem cabe, e exclusivamente pelo tempo no espaço, buscar-se conhecendo-se. É este e somente este o objetivo da criação, e esta somente esta a sua evolução.

A busca do homem estreita-se agora nas coisas, gerando o progresso, de onde lhe advém o conhecimento das leis regentes, das metamorfoses ou mutações da forma, mesmo em seus submúltiplos átomos e seus conseqüentes. Disto compreende-se que as leis eternas e mutáveis segundo a requerência do estágio evolutivo, não se ajustam à conceituação em paridade com as sociais, que são coibitivas e a revel educativas. As leis eternas são leis que, respeitando o inviolável livre-arbítrio, concede-se como campo de pesquisa, análises (manuseio), resultando em conhecimento (evolução). Temos, portanto, uma inversão diametral destas leis, porquanto ao invés de determinativas do proceder, pensar, sentir e agir do homem , constituem-se apenas em meios facultativos ao desabrochar constante da inteligência incubada, ou em potencial.

O homem não está sob o guante ou sujeição de qualquer lei retificadora ou punitiva e mesmo educativa, antes, goza de plena liberdade de ação nos limites do seu estado evolutivo, sendo, todavia, a um tempo causa e efeito do evoluir de um conjunto, o qual conduz e por ele é conduzido, segundo a época progresso e outros resultantes evolutos genéricos.

Ao conceituar-se a evolução partindo do mundo em que está, ou seja, dos efeitos, tudo que for concluído está dentro deste limite, e a própria realidade nos atesta isto. Na tentativa de ultrapassagem deste limite, fere o suposto, donde advém a multidão de dogmas, semidogmas e soluções convencionais paliativas, gerando um circulo vicioso. Ao querer ajustar os preceitos evolutivos que são sem tempo nem espaço, ao regente, confunde-se e ambígua-se, donde a multiplicidade de interpretações sem lastro racional e convincente, mais transcendendo à fantasia do que à realidade, facultando interrogações sem respostas definíveis.

Abordado por Nicodemos, é incisivo o grande Mestre e, sem preâmbulos, diz: “Falo de coisas suscetíveis de compreensão pelo homem (coisas da Terra), e digo ainda que ao homem convém limitar-se aos objetivos do imediato, colhendo o que de útil e benéfico” (“a cada dia basta sua tribulação”) nele exista, porque só assim lhe será de eficácia a encarnação. E conclui dizendo da nulidade de se transmitir ensinamentos de alçada superior, quando nem ainda as simples e terrenas o homem alcança (“Se as da Terra não entendes, quanto menos entenderás as do céu”).

Se as coisas palpáveis, analisáveis e sensíveis se lhe passam despercebidas em sua grandiosidade, que se dirá das que compõem o mundo abstrato, que os limitados cinco sentidos não permitem ainda nem ao menos conjecturar em sua verdade, e que fogem ao acanhado espaço-tempo.

Conclua-se, portanto, que evoluir não é simplesmente educar, mas sim o dilatar do horizonte mental, pelo uso constante do raciocínio, esquema abstrato de um concreto, e sua aplicação nas realizações práticas e utilitárias. Isto nos leva a entender o “segundo suas obras”, que coloca as leis eternas em termos de liberdade e via de acesso a conhecimentos, o que tem constituído, no transcurso da história humana, o fator único do evoluir nos limites do estágio mental evolutivo. O resultante desse processo evolutivo pode ser considerado evolução em termos de aquisitivo, entretanto devemos considerar a evolução propriamente dita, como fator e não como efeito.

Não existindo inteligência em moldes a compreender e assimilar como educativo, não existe por isso mesmo possibilidade de concretização. Deduz-se, portanto, que antes é necessário evoluir para poder educar-se. Distanciamo-nos, todavia, do que se tenha como evolução e educação no transcurso de uma encarnação, principalmente pelo seletivismo personalista, considerando-se como realmente é, a temática evolutiva em âmbito de transcendência de tempo-espaço, e vazada nos moldes dos milênios eternos, quer antecedentes e procedentes, além de coletiva e genérica.

O dizer “a cada época” significa que raciocina e educa-se segundo seu estado mental, o que consigna como estado evolutivo. Tendo-se a temática no seu próprio, ou seja, sem tempo ou espaço, advém que a humanidade é ainda de um primarismo considerável. Basta examinarmos o conceito de vida, limitado do berço ao túmulo, e em que se possa considerar um mínimo de avanço tecnológico, não alçou-se a compreender a transitoriedade de uma encarnação toda vigência social no extremo competitivo para sobrevivência.

O grande Mestre Nazareno disse que “A cada dia basta sua tribulação”, o que deixa claro que a inteligência relativa não tem passado (benefício da amnésia reencarnatória) e tampouco futuro, dentro do senso tempo-espaço, mas não delimitou em igualdade todos os dias e, consoante a evolução, estes dilatam-se pelos milênios, em forma de estágios, como sói acontecer com o humano no presente reencarnatório. Difere-se, portanto, dia por dia sem espaço-tempo.

A inteligência vive um dia, uma reencarnação, literalmente desvinculada de outra e sem conexão com futuras, mas interliga-se evolutivamente com o passado, sendo o presente o resultado daquela. Quanto à futura, só pela dilatação horizonte mental, e depois de “pegar o último ceitil”, isto é, completar um estágio, entra em conhecimento da imediata, de que pela interligação natural e já possível, passa a viver. A interligação do passado com a reencarnação presente firma-se no resultado intelecto desenvolvido, o que não traduz ciência do fato e isto nos propõe entender o “a cada dia…..”, visto que não é possível à criatura humana, que é o evoluendo, estar ligada a pretéritos por vezes desairosos, e a atentar para as realizações objetivas de um presente. A inteligência é realmente suprema.

Pelo que nos esclarece o grande Mestre de Nazaré, a evolução não é um fator aplicado sobre o evoluendo através de qualquer metodologia, mas uma resultante do operativo, através do “segundo suas obras”, e não apenas a ausência de leis coibitivas ou regenerativas.

Por obras admitamos todas desde o momento da individualização. Temos, portanto, que o retributivo é “no ato”, e prende-se  à ilustração convencional do “Vai, faze o mesmo e viverás”.

Deduz-se, pois, que a evolução é vida (“tenho vida em mim mesmo”) e conseqüência natural do ato que se compõe dos elementos fundamentais evolutivos tais como razão (raciocínio) e operosidade (atos). Outras coisas o homem não tem feito no decorrer de um sem número de encarnações, “dias”.

O primarismo mental do humano permite estabelecer fundamentos de igualdade no relacionamento homem-homem, homem-Deus. Sendo o homem relativo e como tal vivendo e operando em um mundo idêntico, não poderia ser de outra forma, o que está bem configurado no completo tratado de evolução deixado pelo Mestre Nazareno: “Segundo o fruto, assim a árvore”,índice de uma mentalidade época. Isto nos permite o retorno ao “a cada dia….” e em complementação inferimos que as leis, em realidade, não se propõem à regeneração, mas a facilitar o constante desabrochar da inteligência, em termos construtivos do hoje avante.

O relacionamento homem-homem se estabelece em planos de igualdade, onde um é considerado responsável pelos seus atos dentro da sociedade, e, portanto, a visão do relativo para o relativo. Entre o absoluto e o relativo, porém, difere-se substancialmente, não cabendo qualquer termo  de comparação. Um homem vê outro homem pelo que já é, e o Absoluto o vê pelo que ainda não é. Um homem para outro é um adulto, porém para o absoluto, foi, é e será eterna criança.

Os desmandos naturais da sociedade a ela pertencem e neles, por experiência, encontrará meios de retificação. Vejam a própria historia humana. Conforme evolui, assim educa-se, pelo aflorar da razão e consciência, “segundo suas obras”.

A conceituação materialismo e espiritualismo nasce do próprio primarismo mental, sem cabida na temática evolutiva, porque toda obra do homem é do espírito que, pelos únicos caminhos que a presente conjuntura lhe faculta, elabora em busca de si mesmo. É fruto da árvore como é e como está, de impossível modificação senão pela operosidade construtiva como nos tem indicado o tempo, e nos indicará sempre, constituindo-se na demanda para a metamorfose intelectual, evolucitária.

O espiritualismo aliena-se do processo evolutivo básico e conseqüente, limitando-se ao conceito ambíguo de seletivismo virtuosístico.

A virtude é uma procedência e não uma precedência, porque integra ao educativo regulamentando o relacionamento inter-seres humanos numa sociedade. Consubstancia-se na prédica do monte quando diz: “Os mansos herdarão a Terra”. A virtude, portanto, estabiliza-se na moral, que compreende autorrespeito, sobrevindo pela consciência dos deveres naturais dentro da sociedade.

Vemos que a referência é questionada na Terra, que entende o estado da sociedade pela convergência do estado de cada uma das unidades componentes. O conteúdo “herança” não propõe o geofísico, mas como “terra” devemos entender tudo quanto comportável em evolução e conhecimentos ao estágio encarnatório, que se processa na Terra. O Mestre fala das coisas que só na Terra podem ser realizadas, face ao próprio estágio, mas a relação é direta e objetiva ao homem. A conotação é precisa quando declara que as realizações do homem na Terra serão como um acréscimo servível a esse transitório somente, mas que a meta tange ao espírito afirmando a busca do céu, que outra coisa não é senão a autorrealização, como vida e vida íntima, em termos de razão, consciência e,como conseqüência a sensibilidade ou virtude.

Não se pode confundir o que se constitui imergido em espontâneo e independendo de qualquer condicionamento que superficializa em função do educativo convencional. Exemplifica-se isto na parábola do “Grande Julgamento”, em que os virtuosos, jactando-se do que fizeram, em termos de caridade, esmolas e outras benemerências características do virtuosismo, forma postos à esquerda, e outros que diziam jamais ter ao menos visto o Mestre, à sua direita permaneceram. Ensina-nos que os últimos o fizeram porque já “eram” e, demovidos por esse estado, ou constituído, agiram de maneira livre e espontânea, sem outro objetivo que não o de realizar, face ao imperativo do momento. Outros, os primeiros, o fizeram condicionados, não imprimindo ao ato o sentimento natural de humanidade, mas sim tiveram um proceder mecânico, visando os benefícios futuros e exteriores.

Distingui-se, portanto entre o fazer pelo ser e o realizar em função de um retribuitivo alienado de sentimentos fraternos. Os primeiros são os frutos de evolução e os segundos, do virtuosismo.

A “Carta Magna” do homem do futuro, ou “Tratado Completo de Evolução”, a que se  denomina Evangelho, é pródigo em citações atinentes à necessidade de evoluir antes, para que possa entender e realizar, em função de ser. Se quisermos entender esse Tratado, convém penetrarmos pelo ângulo legítimo, que é o sócio-institutivo, destinado ao homem sociedade, a qual deverá, por meio dele, atingir a complementação racional do estágio terreno, que é o da mansuetude, claramente expresso no Sermão da Montanha, o qual cristaliza, em admirável sequência, a ascensão evolutiva do homem, dentro do estágio reencarnatório, até os seus limites.

Este sol intelectual que é Jesus, (a referência é honesta e não bajuladora) legou ao homem, em um só compêndio, dois fatores de capital importância, isto porque na letra o destinatário encontra um excelente manual de disciplina, e no espírito, o não menos magnífico tratado de evolução, cristalina limpidez, desde que escoimado de interpretações, que convém à política e interesses de facções.

Não menos penetrante é Saulo de Tarso referindo-se ao simples saber que leva aos extremos: “Ainda que eu falasse a língua dos anjos (se existissem), nada seria se não tivesse caridade”.

Vemos que mesmo a elevada cultura delimitada pelo tempo-espaço, ou a concebível pelo academismo, nesse mesmo tempo-espaço estanca-se, enquanto o homem não atingir a fase da sabedoria, que é fruto da evolução.

Dilui-se também neste dizer o conceito de caridade religiosa, pelo adendo “ainda que desse tudo que possuo aos pobres, mas não tivesse caridade……”(Saulo de Tarso). Em plena concordância com o Grande Mestre (“Misericórdia quero e não sacrifício”), prossegue Saulo : “Ainda que eu desse o meu corpo a ser queimado mas não tivesse caridade ….”

Vemos que caridade é um estado íntimo, natural impulsionador dos atos, de maneira a mais espontânea em já ser evoluído à altura. Em outra linguagem, ter suficiente clareza mental para que possa compreender a realidade, moldando todos os seus atos em função dessa elevada compreensão ou sabedoria.

Outra citação sauliana nos induz à inferência insofismável da necessidade de dinamização operativa, sobrepondo-se ao agreste do habitat, em removendo os obstáculos que lhe são naturais e que constituem motivação para o homem, na expressão: “Devemos apresentar nosso corpo em sacrifício vivo”.

Tudo quanto o Mestre ou Saulo tenham dito não foge, sob qualquer aspecto, ao perímetro terreno,e de exeqüível ao homem, não comportando, porém qualquer delimitação, tempo, espaço ou aceitação meramente humana.

 

Irmão Anthero (recebida por via mediúnica)