50 – Comentários II

Jamais o homem, eterno “relativo”, teve, tem ou terá relacionamento direto e objetivo com a Fonte de onde se origina, como se presume até o presente. Quanto ao relacionamento entre inteligências relativas, quando uma está encarnada e outra na erraticidade, após algum tempo, é muito vaga, pois pode acontecer que a suposta desencarnada já tenha retornado á carne. Assim, temos não poucos santos, a quem são dirigidas súplicas e que, desde há muito, já vestem a roupagem carnal, vivendo e convivendo com seus veneradores, de forma simples e humana.

As orações pré-moldadas e as específicas destinadas a tais ou quais objetivos, requerendo tais ou quais resultados, nada mais são do que o gravado em fita magnética da memória, repetidas quando acionado o instrumento reprodutor. São tão inócuas quanto o silêncio. São, em tese, os amuletos e talismãs “falados” porque imprimem, de forma idêntica, o mesmo sentimento de dependência e submissão.

Conhecendo o valor psicológico da impressão é que se propõe os espetáculos religiosos em termos de cerimônia e sacramentos, de que se derivam as preces e demais, em adoção inconsciente no meio evolucionista. O importante não é colocar o homem no céu, mas colocar o céu no homem, o que é substancialmente diferente e constitui o precípuo do intercâmbio material-imaterial. Para que isto venha a acontecer, faz-se necessária uma inversão radical do conceito de valores, em que religião e evolução não se ajustem.

O homem tem que viver em si mesmo os preceitos da moral e da dignidade, no quadro geral do existir, sem atos, atitudes e expressões específicas moldadas e limitadas a um determinado ambiente, em prevalência de metas e objetivos precípuos. O homem modelado por uma religião é um robô espiritual.

É simplesmente constrangedor o espetáculo visualizado do “lado de cá” (mundo espiritual), de um aglomerado de pessoas físicas que trocaram o altar pela mesa e, pelo que se presume, o relacionamento incorpóreo-corpóreo, onde a idiossincrasia acumulada pelo impressionismo, vezes do literato, vezes da “evangelização” convencional, verterem a fluxo desmedido e desgovernado, traduzindo incoerência e reafirmando o que já é sobejamente conhecido por todas as religiões, versando sobre a letra do Evangelho. São as”comunicações” realejo que nos imputam e que só nos referendam, se trazemos algum nome de scol ou formos um dos virtuosísticos conhecidos. Não há pior verdade do que a humanidade aparente.

O intercâmbio verdadeiro não se propõe a granel, tampouco modela-se às injunções de caprichos e objetivos, por vezes banais, e nem se constitui em espetáculo de qualquer jaez, a moldes provar ou satisfazer quem quer que seja, sob qualquer posto de vista. A enfermidade que destrói todo o potencial tradutor de um instrumental físico (médium), é a verdade.

Humano como todo ser e vivendo em plano idêntico, portador dos mesmos sensoriais, inúmeros são os que de início revelam-se autênticos, úteis e precisos, e que envolvidos pela bajulação, caem estrepitosamente nas malhas da vaidade e, agora desprovidos do assessoramento real, continuam cegos ao ridículo e à inverdade, ainda que com foros messiânicos. Uns há que, dotados de potencial magnético de larga projeção, captam pelo princípio da telepatia, particularidades inconscientemente irradiadas em função do interesse despertado e, após o revelarem, dizem-se intermediários dessas particularidades.

Primário por circunstância, o homem ainda desconhece as reais possibilidades das irradiações mentais captáveis inter-relativos, a que denomina, e com propriedade, de telepatia.

Este princípio é o mais usual no campo das inspirações quando o visado é e vive o que é, isto no termo das ciências, das artes e, mesmo, no intercâmbio sério, objetivando algo de útil ao seu semelhante. Digamos, para o bem da verdade, e com todas as letras, que o intercâmbio não se presta a dar testemunho ou satisfações pessoais ou a grupos, como se necessário fosse que a verdade estivesse dependente desta atitude. O intercâmbio dito entre os relativos efetua-se, muito amiúde, entre encarnados, mormente quando é tido em liderança religiosa, ao qual se atribui a força de impressão, vertida hoje para o termo orientalista, carisma.

A telepatia (valha o termo em carência de outro mais explícito) é o processo básico do relacionamento na erraticidade, que a inteligência porta também quando na carne, e é por esta turvada,tornando-se em segundo plano. Em uns mais e em outros menos exteriorizáveis, mas existente e de forma passível de comprovação.

Pode causar impacto o dizermos que a oração, quer formulada ou não, mas que leve à emotividade (estágio pré-estático) e, mesmo, ao êxtase (primeiro grau de letargia sensitiva), seja desequilíbrio, mas explica-se que, não sendo este o estado normal do homem, se processe em face de fatores específicos de efeito transitório sendo, pois, anormalidade ou desequilíbrio.

Se a raiva não é estado normal e, por isso, até qualificada de loucura momentânea, o êxtase, embora de índole pacífica, também não é normal. A esta situação estática podemos classificar como auto-hipnose. Esta, com fundos na idolatria de um abstrato, cria uma dependência e promove a submissão pela subpersonalidade. A hipnose idolátrica gera hábito irreversível, fazendo chegar, por vezes, ao fanatismo, enublando o poder de raciocínio sobre o próprio fato.

O conceito de valores a que nos referimos antes, para que se efetive em termos claros e autênticos o relacionamento entre criaturas de dois planos da mesma humanidade, ou seja, encarnado e desencarnado, foge totalmente ao processo unilateral religioso e transfere-se para o científico que independente de orações, rezas, posturas e outros.

O científico não se estreia ao âmbito laboratorial, mas dilata-se a tudo quanto for útil ao homem, seja no campo sócio-legislativo, como nos eventos transitórios de todo porte, destinados a combinar a própria modulação de vivência. Nunca impondo, todavia, mas colaborando, e sempre, quer por uma ou mais pessoas e com visos ao todo, sem considerar qualquer seleto, a não ser a possibilidade característica, tais como o cientista, o sociólogo e outros requisitos normais à realização. Não influi, contribui ou prioriza qualquer conceituação religiosa, política ou de nacionalidade, mas sim e unicamente, o fator como fator. Denominamos orações objetiva direta e inobjetiva. Compreende-se, todavia, ambas como objetivas, diferenciando-se no sentido direto.

A oração objetiva direta, mais de propósito religioso, é a que é dirigida a alguém em solicitação quase sempre de ordem pessoal, mais transcendendo a favoritismo, ainda que subjetivamente. Em inclinação à idolatria ao abstrato, a este é direcionada, com motivação na crença ou suposto, o que a determina como direta.

A oração objetiva indireta ou inobjetiva, no caso já citado, é aprender a envolver-se nas coisas, pela observação consciente(“olhos de ver”) e, por este processo, estar em Deus. A objetiva indireta é a que não relaciona ao sólito religioso, mas fixa-se em parâmetros realizadores de todo jaez, quer laboratorial ou outros, através dos quais uma pessoa ou grupo é assessorado e fere a conjuntura cooperativista daqui do espaço (mundo espiritual) e também já entendemos a ausência de rezas, orações e posturas requerentes, bem como o sentido de independência. Num e noutro caso, prima-se pela ação motivadora e não à súplica demovedora de um objetivado como fonte.

Distingui-se literalmente um processo do outro em todos os ângulos desenvolventes, bem como nos seus resultantes. Podemos esclarecer agora, em termos evoluto-científicos, “não saiba vossa mão esquerda o que faz a direita”.

Se a própria busca da verdade está condicionada à ação realizadora e não à súplica, podemos entender a inobjetiva deusística e objetiva ao fato. As mãos de uma mesma pessoa indicam os sentimentos albergados em relação ao ato.

No capítulo das realizações, em senso geral, temos como objetivo o fato de que envolvendo toda capacidade de raciocínio, cumpre-se como oração inobjetiva condutora da ação, considerando-se assim, a independência da objetiva direta ou súplica. Ao optarmos (se possível em realidade) pela objetiva direta suplicante, teríamos abdicado da própria personalidade, quedando-nos da inércia submissa, transcendendo à mendicância, o que contrasta diretamente com a busca e a realização.

Assim como os meios mantenedores do vegetativo transitório são equânimes e imparcialmente distribuídos, também o potencial para a autorrealização e realizações o são. O auri-los é uma questão de entendimento e ação objetiva ao fato, tanto quanto o amanhar (preparar) a gleba, a semeadura e a colheita.

A oração objetiva direta, suplicante, fruto do condicionamento mítico e místico destinado à submissão ao império de interesses imediatistas de facções, que encontra campo fértil na ignorância vertida da miséria, mantida sutilmente como condição de felicidade nos céus, é acolhida inconsciente no âmbito evolucionista. É a idolatria requerendo retribuitivo.

É possível o relacionamento entre os encarnados, ou não? Sim, é óbvio, pelo comprovado, da cooperação “inconsciente”, motivada pela oração inobjetiva mas objetiva ao fato, como já dissemos. Tratemos, pois, do intercâmbio bilateral consciente e objetivo, em que se faz também necessária um conceituação nova e real dos envolvidos da cá e daí. Vimos que não se pode abrigar dois propósitos, dois sentimentos (duas mãos) com relação a um só objetivo, sem que um deturpe o outro. Assim, ou ficamos no acórdão religioso mítico e místico, unilateral e esmoleiro, dito também caritativo, ou partimos, resolutos, para os legítimos e imperativos  princípios evolutivos.

O intercâmbio corpóreo-incorpóreo não tem como propósito insuflar forças complementares ao que cada um possua e, tampouco, modelar a livre e própria iniciativa dos encarnados, transformando-os em robôs, embotando-lhes a personalidade, neutralizando-lhes o “sagrado” livre-arbítrio que lhes confere o direito de ação, por meios sutis e insinuantes de castigos e ressarcimentos faleciosos. Isto se constitui em cooperação inconsciente com o arcaísmo romanístico emoldurado pelo céu e inferno, ainda que em transitório (umbral).

Não se propõe, tampouco, equacionar a problemática evolucitária, ainda que através de fornidos tomos de cientificismo filosófico que o crivo da razão anula, em confronto com a realidade em que vive o homem. Até aqui tem-se proposto, por esses e outros fatores, a condução do homem ao céu.

 

Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)