51 – Conceitos II

Religião é um corpo de conceitos ajustáveis à época-evolução, e por isso, discutível. Sendo discutível, não se consolidando como axioma, permite conclusões variáveis sem limite, o que está provado pelos múltiplos títulos, além dos processos práticos que desenvolve.

O elitismo alcandorante e o pavor do sentimento de culpa que insufla na mente dos adeptos, de quem exige obsevância canina, releva o resultado da aplicação da psicologia sugestiva que explora os extremos sensitivos do ser humano, método base da sua subexistência.

Dissemos que religião é um corpo de conceitos, teoria e dogma, e que em confronto com a dialética racional, entra em colapso e obriga-se a subterfúgios tais como: “vontade de Deus, desígnios de Deus” e outros.

O condicionamento da razão em diversos estados, que podemos resumir em fanatismo objetivo e subjetivo, ambos destroem a personalidade (coação subconsciente). No primeiro caso é observável ao comum, e no segundo, mesmo não tendo transparência, influi no comportamento.

No primeiro, o homem é aquilo que dizem que ele é, e no segundo, prevalece uma constante em busca do que dizem que ele deve ser.

No fanatismo objetivo, em que a capacidade de autodefinição é totalmente neutralizada, temos o que vive para a religião e, no fanatismo subjetivo, em que há preocupação subvalente, é o que vive pela religião.

O complexo de culpa, cuja origem é dúbia frente á razão, é o fundo de onde emerge o temor do que funciona como coagente à obediência incondicional.

A obediência servil imprime na mente a segurança que a transferência de responsabilidade condiciona, e resulta na acomodação.

A religião explora pelas vias naturais do ser humano, a sensibilidade, lei base da evolução em seu tríplice aspecto, como sjam: esperança, egoísmo e vaidade. O egoísmo, no âmbito da religião, não se desenvolve pelo valor racional e “motu próprio”, mas sim, pelo adrede esteriotipado convencional que é, segundo a variação conceptual, de grupos.

Todas as realizações do homem têm como motivo e motivador absoluto esse tripé, sem o qual nada seria concretizado em termos de progresso e mesmo, evolução. A religião nada provando de concreto, no circunscrito da razão do homem, estreita-se na condição de semeadora de esperança.

A religião age pelos fatores “raiz” do progresso e evolução, defletindo-se porém, para um campo alienígeno ao colimado real e comum da existência. Esta reflexão que conduz o homem à fantasia divorciada dos fatos, diz da religião como um quisto que desvirtua o fraternalismo, transformando-o em caritativo, esmoleiro, com visos ao rentável após o túmulo.

A religião é uma necessidade desnecessária. Necessária, porque o homem ainda não tem condição intelecto-evolutiva para discernir o que seja a moral fraternalista independente de qualquer insuflo sectário, mas provinda unicamente do educacional normativo. Necessária, porque o homem sendo ainda o exterior, reage somente em função de um agente também exterior motivador. Necessária, porque o homem que é ainda semirracional e, como tal, dependente, vive no sonho, age no egoísmo, desecanta-se com a realidade.

A realidade que ainda desencanta o homem é o estado de moral retrógrada da sociedade em que vive, em que é um aglomerado competitivo brutal e desumano. Este é o motivo fundamental para que o homem procure algo que lhe infunda esperança de uma vida em concordância com o seu sonho. Não sendo isso possível na Terra (ainda), ele transfere a esperança para além-túmulo através da religião.

Dissemos de início que religião é conceito amoldável à época-evolução, o que nos permite dizer da sua não necessidade em decorrência desse mesmo fator. Sendo época e evolução, não resta dúvida que à medida em que a massa eleva o nívea intelectual, pó si descortinada o nulo do processo religioso como valor educacional sócio-cooperativo.

Isto quer dizer que, com o tempo, a moral será emersa da escola e não do templo, e versará sobre o relacionamento espontâneo inobjetivo, não condicionante. Inobjetivo entendamos como sem motivador específico: amanhã, alhures, onírico, mas sim um estado interior constante natural (vide Grande Julgamento).

A religião sempre cultivou e educou a elite. A massa porém, estreitou na catequese submetente.

Educar a alma com objetivos sócio-utilitários difere muito de salvá-la, não se sabe do que e por que.

Religião no sentido lato, existe somente uma, porque é apenas um o alicerce em que se firma: castigo e prêmio, derrota e vitória.

 

SEITAS

Da religião derivam-se múltiplas seitas ou como foi dito antes, em títulos, estes sim, variáveis ao infinito na interpretação de um mesmo conceito, o que dá origem aos cismas da religião, discordantes entre si.

As seitas se multiplicam em razão direta a dois fatores absolutos: a ignorância dos submissos, e o interesse de várias ordens dos submissores, e isto desde tempos imemoriais.

Por ignorantes não tenhamos os iletrados, ou os portadores de cultura universitária, porque trata-se, no caso, de ter ou não adquirido “conhecimentos”, e isto importa em aquisitivo exterior.

Ignorar é, independente de qualquer outra condição, a incapacidade de discernir entre a fantasia e a realidade, permanecendo jungido à mítica, mística e submisso ao Karisma.

As seitas enriquecem a mentira religiosa com os ritos e outros processos destinados ao impressionismo envolvente, que resulta no desequilíbrio emotivo, também chamado êxtase, ou letargia racional, (estado em que a razão enubla-se). É o início da submissão incondicional.

Pode-se dizer que a seita, por esse processo, oferece um espetáculo mente-psíquico ou abstrato conceptivo.

O profitente é conduzido ao estado íntimo passivo, pelo sugestivo. Essa é a chamada prática religiosa em todos os seus cabides.

A religião é um bem ou um mal?

A religião, pelo seu conceito é prática, é o único mal de que sofre a humanidade.

Pelo conceito, diz o homem pecador por princípio, galé por excelência, escravo por natureza, de um Deus.

Pela prática, fala do que deve constituir a única preocupação do homem, que é a submissão à conformação com os preceitos impostos por esse Deus, que comporta todos os sentimentos e desejos humanos, configurando-se como um ídolo abstrato.

Estruturadas estas afirmativas em cunho de verdade, e aceitas pela ingenuidade ou ignorância do homem, este passa a ter de se uma imagem distorcida da realidade, bem como dos motivos de uma existência.

Esta imagem negativa impressa em seu íntimo, verte ao consciente como não tendo o direito nem de erguer o braço para que a chibata não lhe atinja o rosto. A negação do direito de SER, porque escravo, galé, leva ao conformismo natural, objetivo fundamental das seitas em seu todo.

A manutenção do negativo autoconceptual, aliado à conservação da mente inculta, traduz com fidelidade o colimado, “Mente culta, mente livre”.

Para que a religião deixe de ser um mal, só existe um meio, que é deixar de ser religioso.

 

DEUS

Moisés ao reavivar o “Deus” de Abraão, Isac e Jacó, além de dar-lhe magnitude inalcansável pela mente do homem, porque é abstrato, nivelou-o aos ídolos materiais quanto à vontade, exigências e o sadismo no trato com a sua própria criatura. Assim, esse Deus usa e abusa do direito de conduzir o homem pelos caminhos tortuosos da dor e da amargura, a título experimental (vida de Jó).

Esse Deus verga-se à sinuosidade da bajulação evidenciada no adoracionismo, a satisfazer-lhe a vaidade.

No palco da existência, o homem é uma marionete manejada pelos cordéis dos caprichos desse ídolo mosaico.

Esse é o Deus das religiões, das seitas, dos míticos e místicos que a extraordinária inteligência de Moisés houve por bem criar, face ao estado semibárbaro de um povo que conseguiu se libertar da escravidão em que viva e que. Por esse mesmo estado, só obedecia a uma força dominadora que lhe fosse superior.

Moisés representou bem essa divindade, pelo domínio da espada e outros impostos disciplinares.

Assim, o Deus das religiões como é e como está, não passa de hipótese.

 

CRIADOR

A mais perfeita definição dada pelo homem ao Criador é a constante no “Livro dos Espíritos”: Deus suprema, causa primária de tudo quanto existe. A mais perfeita, a mais lógica, porque ajusta-se à razão do homem, ou diga-se, à razão simples.

Ajusta-se porque dá como comprovante o fato, o existir das coisas. Todavia, muito antes desse enunciado, Saulo de Tarso já nos esclarece: “O que de Deus se pode saber e conhecer está nas coisas criadas desde o começo do mundo”. Lógica para o homem porque, sendo este também uma inteligência, embora limitada, só por esse meio consegue modificar o que a suprema criou. Basta uma associação de ideias para concluirmos assim.

Temos, portanto, a definição da causa a partir do que pode ser visto, tocado e analisado, ou seja, o efeito.

A razão do homem não conhece efeito sem causa e, é a partir desta premissa, que dizemos ser a definição lógica.

Definimos a existência de uma causa, que chamamos inteligência, sem contudo, pretender confiná-la numa forma geométrica, ou mesmo aditar-lhe tais ou quais predicados e valores, nem ainda dizer dos objetivos e processos.

Definimos como “inteligência”, mas não o que esta seja em seus componentes, e qual seja a ação desenvolvida no tempo e espaço em relação a sua obra.

Vemos, pois, que O Criador real, cuja obra nos é dado ver, tocar e sentir, difere-se substancialmente do produto da fertilidade imaginativa chamada Deus, com seu imenso acervo de humanismos e de objetivos que contrastam frontalmente com a realidade da inteligência suprema.

A causa Primária existe e é inegável, porque se impõe pelo axioma fato, enquanto Deus oculta-se na crendice mítica, mística e religiosa, divorciada do progresso e evolução científico-cultural.

 

Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)