57 – Fator básico do progresso

É tendência natural de toda criatura, independente do seu estado evolutivo, a aquisição do saber útil. Esta condição é um dos predicados constitutivos do princípio inteligente relativo (espírito), inspirado pela Inteligência Absoluta, visando dinamizar o desejo rumo ao sempre mais e melhor.

Este é o fator básico de todo progresso e suas conseqüências, que se constata em todos os eventos humanos.

Nasce daí a aversão normal do homem à acomodação, cujo resultado é patente no progresso de qualquer natureza.

É também tendência natural a ambição e a vaidade que impulsionam o homem a fugir do tédio ou saturação das conquistas efetivadas e partir em busca das eternas incógnitas contidas nas leis da ciência e, através de processos engendrados pelo raciocínio, dominá-las e usufruí-las em benefício próprio, como conforto de ordem material e intelectual, como base da evolução.

A ambição e a vaidade existem?

É fora de dúvida que sim. Como tudo, foi pré-estabelecido pelo Fator Supremo para que sua criatura progrida e evolua. Estas características têm sido a mola motora sob todos os aspectos, sem o que subsistiria a inércia e a acomodação, e estaria truncado o avanço da humanidade rumo ao mais e melhor.

São fatos concludentes fixados no panorama da história, desenvolvidos no tempo e no espaço vivencial.

Por que as religiões pretendem que estas características naturais do homem, sejam uma força maléfica contrária à lei de Deus? Pelo simples fato de não entenderem o objetivo do Criador, que é o irreversível evoluir e não salvar. O conceito da Igreja ou da caridade é a da salvação como objetivo.

As religiões, através dos condutores, deveriam esclarecer pela educação de massa, o valor dessa força construtiva intransferível no homem, sem considerá-la contrária à lei de Deus.

A pretensão de sufocar a tendência natural pela modelação, face a prometimentos despertadores de vaidades outras, ou a suplantação pela psicologia do medo (céu e inferno), é que tem criado impasse entre espiritualismo e materialismo.

A ambição em seu teor benéfico é um sonho a ser realizado, e a vaidade é a forma de viver a sensibilidade pela realização, o que se compreende como um direito adquirido pelo esforço e trabalho. Por isto não endossamos a idéia que tais características se constituam em “competitivo desequilibrador  da harmonia social”, embora sejam elementos transitórios na “hipotética escala evolutiva”.

Não podemos condenar o que o homem “é” e sim, buscando nos tempos, louvar ao que já chegou em termos de progresso e relativa evolução.

Tudo se processará quer no Oriente ou no Ocidente, indiferente aos conceitos místicos que deturpam a realidade. A escola substituirá os aspectos negativos promovidos pela religião.

Dizemos negativos, porque ao invés de conduzir o homem pela educação para alcançar a compreensão do valor intrínseco construtivo  da motivação básica, que é a ambição, pretendem destruí-la pela negação, como fator de evolução, conforme já esclarecemos.

Outro aspecto negativo da religião é aquele que em lugar de incentivar a vivência da vaidade, no sentido de alegria, de satisfação pelo realizado, afirma ser esta condição contrária à lei de Deus, evocando a necessidade do desapego aos bens terrenos, dedicando-se aos bens celestiais, isto é, no além- túmulo.

Isto é inequívoca infantilidade, pois que é lutar contra o próprio SER do homem, criado naturalmente com tais tendências.

Na evolução, como na natureza, nada se faz de súbito, mas dentro das coordenadas tempo e espaço. Assim, é impossível a compreensão de construção benéfica motivada pela ambição e vaidade.

Se esses fatores existem e se têm sido motivo de desagregação, cumpre ao bom senso entender que o Criador, em sua supremacia intelectual, não iria permiti-los sem que fossem de alguma forma úteis e colaborativos ao progresso e à evolução. Isto considerando a seriedade da criação.

Entendido por esse aspecto, sentimos o erro da condenação a esses fatores. Condenação resultante da ignorância das leis fundamentais pré-estabelecidas pelo Criador, e o fato de não entender o homem como “é” em seu constitutivo.

A conscientização desses valores estruturais da criatura é um dos itens lógicos e irreversíveis da evolução, permitindo ao homem ter conhecimento de si mesmo como valor-grandeza do Universo. A grandeza do homem está na sua capacidade de realização que culmina em auto-realização, isto é, em progresso e evolução.

É simplesmente impossível fugir à matemática dos fatos.

O dia em que as religiões deixarem de ser um apêndice inútil da sociedade, e se transformarem em ESCOLAS DE MORALIZAÇÃO, laicas, inspirando no homem a consciência do dever a ser cumprido na Terra como componente de uma coletividade e em função dela, terá conseguido fórum de legitimidade como colaboradoras à espiritualização e terão cumprido as leis de Deus, no desempenho do amor ao próximo.

Levar a “ambição” ao sentido do cooperativismo e levar a “vaidade” à sensação íntima pela realização desse mesmo cooperativismo, é o objetivo máximo da filosofia pedagógica do grande Mestre de Nazaré.

O homem pode possuir extenso saber e ser pródigo em caridade esmoleira, mas se não tiver consciência de que é uma personalidade livre e que seu destino na face da Terra é contribuir totalmente com a sociedade para o avanço do seu semelhante, por dever e necessidade, não por benemerência, ele “nada é”, consoante a clareza da expressão do apóstolo Paulo, sobre a caridade, que agora se entende como conhecimento e compreensão do “ser”.

Dissemos que o homem só reconhece o saber quando identifica alguma utilidade para satisfazer a sua ambição e vaidade. Dissemos também que no “Grande Julgamento [1]” sentimos o valor da ação inobjetiva, o que pode contrastar-se dificultando o entendimento deste assunto.

Em ambos os casos não está ausente o “FAZER”, diferenciando-se apenas a intenção, e isto separa um estado evolutivo do outro.

Os que ficaram “à direita” não se escusaram da realização, mas não tiveram outro objetivo senão o fato a ser solucionado, embora exista um interesse, mas não entra no campo da recompensa material ou espiritual.

Se o semelhante tem fome, a solução é saciar a fome face a necessidade evidente. Aqui temos um objetivo de ordem fraterna impessoal. Todavia, no presente, em se tratando do imediato para a sobrevivência, torna-se lógico e irrepreensível o interesse. Essa atitude é desvalorizada pela ausência do sentido de igualdade humana.

O homem não realiza senão em proveito próprio. É a este que devemos dar o cunho de proveito geral, o que apaga o individual, fixando-se na inobjetividade, isto é, sem o sentido de recompensa.

A inobjetividade prima pela realização sem exploração do semelhante, e aí está a diferença que permitiu a situação dos “da direita”.

Digamos que o homem deve saber para realizar, permitindo que outros se realizem.

Sendo o homem ainda um semi-racional a caminho da complementação côncio-racional, é incapaz de compreender em profundidade o valor da realização inobjetiva mesmo e em se tratando das coisas espirituais, o homem não as entende sem uma recompensa, o que tem constituído o motivo único de dinamização nesta área. Retire-se as promessas de alcandoramento, sublimação, em paramos alhures, (após a morte) e estará decretada a falência de qualquer religião, filosofia ou seita.

Como vemos, até neste âmbito prevalece a ação objetiva (interesse), o que equivale equivale à exploração subjetiva dos elementos à disposição, que é a miséria em seu acervo total.

Todas as religiões primam por incentivar esta exploração dando ao profitente a esperança do retributivo (recompensa) sem consciência de causa, mantendo a deficiência moral e a anti-fraternidade.

As religiões condenam a ambição e a vaidade de origem material e avivam o mesmo sentimento com relação as de origem espiritual.

Podemos mentir aos outros, mas nunca a nós mesmos. Se alguém for capaz de afirmar de público sobre sua ação inobjetiva dentro das paralelas espiritualistas, já não estará na Terra.

Educar o homem em função do homem é a característica evangélica em sua realidade social de profundidade. Não se censura a ação do que é, mas não se admite a fraude com disfarce de verdade, ainda que sob o aspecto espiritual.

Todo continuísmo não escapa a esta classificação, independente da origem e dos meios.

 

(recebido por via mediúnica)

 

[1] Grande Julgamento  – Mateus, cap XXV, :  VS  31 a 46