64 – Ação e reação

Ação e reação. Não resta dúvida que a expressão fere uma lei, mas não pode ser aplicada sem um pré-estabelecido racional e lógico, do motivo da ação.

Toda ação já é uma reação ao motivo. E somente sobre o motivo é que devemos questionar.

Como esta citação tem sido a base em que se afirma o evolucionismo religioso (Doutrina Espírita) para estabelecer normas de retificação do homem, será examinada sob este ângulo.

O que é a ação? É a consolidação ou concretização de um motivo básico, positivo ou negativo. Se o motivo proporciona uma ação negativa (má), o agente situa-se como inocente em questão de razão e consciência, prevalecendo sempre um sentido defensivo no momento. Se o motivo proporciona uma ação positiva (boa), também a posição do agente é idêntica á do primeiro caso, mas levado por motivo inverso, em que sempre está presente o aquisitivo, que é concreto ou abstrato.

Por que? Pelo simples fato de o homem ser ainda um semirracional inferior que vacila nas reações, dependendo do motivo e circunstância.

A ação sobre o homem independe de consulta, face a sua condição de semirracional inferior, ficando sem sentido de justiça a advocacia da reação como princípio regenerador do homem. Falta a esses propósito a visão mental do homem e sua posição na hipotética escala evolutiva.

Se o homem ainda não tem competência para auto-determinar-se em termos de razão e consciência, em independência completa de motivos e circunstâncias, toda reação sobrevinda estanca-se na filosofia racional evolutiva, firmada na lei de progresso que desperta e conduz ao estágio complementar da razão e consciência. (Queremos destacar que é toda reação sobrevinda, ainda que propalada em codificados derramados do espaço).

Nota: espaço significa plano espiritual, erraticidade.

É possível “colher bons frutos”? Ninguém pode dar senão o que tem e agir como é.

 

PROVAS E EXPIAÇÕES

Segundo os codificados, a evolução estreita-se no binário: provas e expiações.

Entende-se como prova, também chamada missão, o ato de colocar a criatura no ambiente terreno para que cumpra o pré-determinado pela Inteligência Suprema, das quais a criatura não pode afastar-se um mínimo, pois será considerado fracasso e, deste fracasso, sobrevirá a expiação. É a tese.

Aqui entramos num dilema: ou a Inteligência Suprema não é tão suprema como propalam, ou a tese dos codificados foge à verdade.

Em primeiro lugar, não explica qual ação do homem constitui desvio da lei de Deus, como também qual a estrutura desta lei, a não ser que se considere o continuísmo esmoleiro como lei, conforme os codificados. Em segundo lugar, não explica como se distingue o que é prova e o que é expiação. O processo de distinção requer atitudes diferentes para cada caso.

Tratamos de homens e não super-homens. Tratamos de homens e não elementos estáticos e inconscientes, ou mesmo marionetes, manejados por cordéis. E se na prova deve fazer uso da razão e consciência, ela deve estar condicionada à capacidade realizadora da criatura.

“Prova” é o processo experimental em busca de uma incógnita. É irreversível de que: aquele que busca desconhece e, por isso, busca.

Se colocássemos alguém à prova sem um sério objetivo, permitindo um desempenho crucial e esfaltante, seríamos sádicos por princípio e desumanos por índole, entendendo-se que já conhecíamos a capacidade do provando. Não nos parece que esta seja a atitude e nem a condição da Inteligência Suprema.

Considerando que contra fatos não prevalecem argumentos, vamos a eles.

Em se tratando do homem e, se existe o livre-arbítrio, cumpre em primeiro lugar a conscientização quanto á prova através da consulta à criatura sobre as conveniências, permitindo-lhe a autoavaliação das possibilidades.

Em se tratando do homem, este não se conscientiza por intuição ou suposições, mas somente através do pleno conhecimento de causa pelos recursos normais de conscientização e avaliação de possibilidades, o que invalida a suposta preparação no incorpóreo, face a amnésia reencarnatória.

Para as reencarnações prevalecem leis ainda desconhecidas, mesmo pelos alcandorados mentores aureolados de argêntea luz.

As leis da criação alcançam indistintamente apenas elementos básicos e nunca as resultantes morais. Assim, conduz o espírito à reencarnação, isto é, conduz para o arcabouço por processos subordinados às ”leis da criação”, acima referidos. Somente até aí deve-se entender como lei.

O frio é para todos, a sede é para todos. São leis vigentes no plano físico, sem distinção específica de alguma forma. Isto nos leva a entender as leis vigentes na dimensão abstrata (plano espiritual) em referência à reencarnação.

A transferência dos conceitos de vida do plano terreno para o incorpóreo, reflete o desconhecimento total dessa inversão, visto que o homem admite a continuidade, de forma subjetiva, transferindo modelos de sociedade elitista e distintiva, gerando uma competição natural entre as criaturas humanas, constituindo-se numa pretensão ridícula.

Assim, ao submetermos alguém a uma prova, manda o bom senso que consultemos suas possibilidades, embora aparentemente nos pareça em condições, e também é necessário o preparativo, que deve ser uma introdução experimental, visando a conclusão viável da prova e todo um processo honesto e exato, recomendado pela inteligência.

Note-se que estamos pondo à prova a capacidade de ação e não a capacidade de transformação do homem. A capacidade de transformação moral depende da autoevolução, e o inviolável livre-arbítrio não permite que o homem seja posto à prova no campo da transformação moral.

Se as provas são impostas à revelia, estamos violando o livre-arbítrio, o que se configura como injustiça. Se desta prova resultar fracasso, atribuímos ao provando, culpa e consequente expiação. Isto foge à mais elementar coerência.

O Criador é o Criador, mas o homem é o homem, de quem se deve partir para considerações, se queremos fatos.

Considerando que o homem progride pelo auto-didatismo facultado pelas condições pedagógicas do ambiente e, para que chegue a compreender e assimilar esses componentes elementares do processo educacional, são necessárias experiências através das quais resultam erros e acertos.

Não se compreende que na ausência desses fatores pedagógicos do ambiente, intransferíveis e insubstituíveis, possa o homem, sem conhecimento de causa, superar a condição sócio-cultural da época em que vive. Superar de maneira incólume, por ser invulnerável.

Entendemos que o homem, face aos acenos de miragens celestiais, procure o caminho do progresso pelo virtuosismo beatificante, mas que isso seja um fato como evolução, não se pode admitir e, do plano espiritual, não se cuidou até o presente, senão em alimentar esta inverdade, das mais variadas formas.

Ao concordar com o conceito da lei de ação e reação, deveremos classificá-la de “efeito retardado”, no espírito encarnado ou desencarnado.

Assim, o homem sofre os efeitos de uma causa, segundo os compêndios e tratados codificados, sem ter consciência e razão desse sofrimento, pelo fato de não ter conhecimento da causa.

Sofre no incorpóreo os efeitos dos erros na carne. E sofre na carne os efeitos de quê? Se já sofreu na erraticidade, como acumular sofrimentos no retorno? Isto na hipótese de concordarmos com “pagamentos de débitos” e considerarmos Deus na condição de Credor de sua própria criatura. A obra identifica o obreiro.

Se o homem sofre na carne, em se tratando de causa e efeito, seria mais coerente que a lei fosse movimentada de imediato, isto é, a lei ao ser sensibilizada pela ação, deveria reagir no momento, como em todos os outros casos.

Se a lei fosse dinamizada de imediato, isto é, se em consequência da ação manifestasse a reação no momento, haveria conhecimento de causa e seria mais condizente com o princípio educativo do homem, que o levaria à retificação através de métodos normais, favorecendo o seu aprendizado.

No caso da evolução, devemos considerar o homem em outra dimensão racional e consciencial?

Não será o mesmo homem que na simples aquisição do saber concreto, precisa de elementos para deduções, bem como precisa de conscientização do conhecimento de causa das suas experiências e a tolerância com os erros  acertos?

Se a filosofia que pretende sustentar dois antagônicos por princípio, como sejam, a ciência e a religião, conceituar o continuísmo derramado no incorpóreo com base da evolução, cumpre encontrar outro meio que justifique a ascensão do povo pelas vias culturais em busca da igualdade, como está acontecendo no presente.

Materialismo? Sim. E permitam-nos: Materialismo Crístico ou Cristão. Queremos lembrar Jesus ao dizer: “Fazei a outrem na medida exata daquilo que quereis”.

Os estruturadores dos codificados trouxeram à tona o reflexo de sua formação religiosa, que teve aceitação imediata, e continua sendo endossado pela literatura continuísta que afirma claramente: “Homem na Terra, homem no espaço”. Nenhuma alteração, embora os planos vivenciais sejam distintos. Assim, o “homem no espaço” conserva seu acervo de conceitos e erros, a mesma vaidade, o mesmo sentimento, igualando-se ao “homem na Terra”. Isto é aceito sem preâmbulo, sem análise e sem confronto com a realidade conflitante com o próprio Evangelho, em sua profundidade sócio-filosófica.

Dizer que o sofrimento é retribuição moral, é trazer para o incorpóreo o mesmo sentido de justiça tribunalícia humana que as “leis eternas e imutáveis” condizem totalmente, mesmo na Terra.

Existe Justiça Superior? Sim. E concretiza-se como a mais legítima, pois a não aplicação de sanções penais ao inocente, é também justiça.

Concretiza-se a Justiça Superior, pois o mesmo sol, o mesmo ar, a mesma água, é para a igreja e para o cárcere, para o santo e para o celerado. Enfim… tudo é para todos.

Não há notícia de que uma fonte mitigando a sede do justo, secasse à aproximação do injusto, e tampouco que o ar respirado na igreja, seja de melhor qualidade que o do cárcere.

É isto a legítima expressão da justiça, fundamentada na tolerância advinda da compreensão da fragilidade de sua própria criação.

Dizemos da justiça da Inteligência Suprema e não de Molok, Ra, Phebo ou Jeová. Dizemos daquele que o apóstolo Paulo nos diz que nos certifiquemos através das suas obras. Dizemos daquele que Jesus nos diz quando proclama:”Olhai os lírios do tempo…”

Se o homem após errar, não sofre qualquer sansão por parte do seu Criador, como aceitar que depois, aqui no espaço, tenhamos a desdita de tornamo-nos réus inconscientes?

O Criador criou o homem e não este àquele. Onde a causa?

Já dissemos que o homem é um semirracional que vacila nas reações, dependendo do motivo e circunstância.

O que é o motivo senão o etimólogo, a raiz? Se houve um motivo básico, tudo mais é um efeito deste motivo.

Se o Criador não permite, como também não proíbe o deslize. Apenas compreende que o homem, estando num ponto da hipotética escala evolutiva, não pode ser mais do que , e agir em concordância com o estado compatível com esse ponto. Sabe que criou o homem simples e em estado de ignorância, que age de conformidade com a sua evolução, pelo que o juízo da Inteligência Suprema não pode ser outro senão o da tolerância, desde que pretendamos nele: justiça.

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ENFERMIDADES

As enfermidades não têm ação individual regenerativa de qualquer espécie, não tendo, portanto, sentido direto e objetivo. Sendo elas uma consequência natural e transitória, funcionam como um dos concitantes à dinamização do homem em busca de soluções, o que lhe vale como elemento didático no currículo pedagógico da escola terrena.

Os planos reencarnatórios não são de fato um paraíso, mas excelentes escolas (não cárceres) dotadas de todo recurso ativante para que o homem se transforme no desejado paraíso.

Sentimos, pois, que o plano físico em seu todo, comporta-se como material a ser trabalhado e superado pelo homem, cujo resultado levará à ambicionada transformação no tempo.

Da necessidade de amenizar e erradicar a enfermidade, surge a ciência médica, que hoje elabora o preventivo imunizador (vacinas), recomendando, desde os princípios salutares da higiene, até à educação do homem no cultivo do físico.

O “corpo do espírito” funciona em termos de cooperação, para os efeitos de progresso e intelectualização no presente, para que nas reencarnações futuras, possa desfrutar de uma sociedade avançada, em que a dor física não mais prevaleça.

Se não houvesse solicitações para dinamizar o progresso através do corpo, a humanidade permaneceria no estado de inércia improdutiva e ossificante, não havendo meios e nem motivos para o seu desenvolvimento, bem como a busca de se mesmo, o que constitui o prepúcio da evolução eterna. A criação não teria, em suma, razão de existir.

Em termos de evolução, nunca devemos fugir aos fatos que se impõem com irreverência a qualquer regra que a ele contradiga em princípios, meios e fins.

Não aceirando a ideia de resgates porque depõe contra a bondade infinita da Inteligência Superior e, considerando a futura erradicação das enfermidades pela ciência, podemos compreender os objetivos superiores como solicitação para dinamizar o progresso.

Ao acatarmos as “provas e expiações”, damos à medicina o sentido de obstáculo antievolutivo e não cooperante.

Se a medicina cura o doente, logo, teremos nela um anti-fraterno e antievolutivo por excelência, mas em perfeita harmonia com o próprio Mestre ao dizer: “Ide e curai os enfermos”.

Convir com o argumento falso dizendo tratar-se de enfermidade moral que o Mestre teria recomendado curar, entra em choque com os exemplos por Ele mesmo confirmados, quando da cura física de inúmeros enfermos.

Quanto mais avança a ciência médica eliminando as dores e sofrimentos, mais se acentua a inverdade que atribui às enfermidades e deficiências orgânicas ou eventuais, como propulsoras da evolução.

Terá a luta do homem o objetivo de derrotar Deus, distorcendo “suas leis” e, principalmente as de maior importância, como propulsoras do desígnio único, que é a evolução da criatura?

Dizer que a interpretação é terra-a-terra, sem que nos deem uma razão superior fundamentada em quesitos à altura da mente humana, é querer convencionar o inconvencionável ante os fatos.

Todas as concepções humanas de fonte relativa e limitada em si, bem como o campo de ação para as conclusões apresentadas em massudos tratados de “ias”, “sofias”, “logias” e outras disciplinas acadêmicas, não alteram o curso da história e seus efeitos em direção à meta. “Um côvado não é acrescentado” (expressão evangélica).

Não haverá mais coerência em convivermos com os fatos tirando deles ilações de elevado teor construtivo de natureza pedagógica, permitindo a evolução confirmada pela realidade apresentada na esteira da história, e que dá ao Fator Supremo, a seriedade na sua própria obra?

Dizer que quando for erradicado da Terra todo o sofrimento, será a época em que a humanidade já tenha evoluído a tal ponto que não haverá mais necessidade dele, não define de forma clara qual o fator que contribuiu para a referida erradicação: se a beatice virtuosística ou a cultura científica desenvolvida pelo homem.

Se aceitarmos a primeira tese, isto é, a erradicação do sofrimento pela religiosidade exagerada, perguntamos: Para que a ciência? Por mero diletantismo do Criador? Em que contribui a ciência para que seja atingida a meta predita pelo beatismo? A realidade histórica não vem provando o contrário? Será a história simples imaginação ou é uma realidade vivida?

Ao concordarmos com a segunda tese, isto é, a erradicação do sofrimento pela ciência, que se firma na realidade, teremos dado ao Criador a legitimidade como Inteligência Suprema. Compreenderemos a não interferência parcial protecionista, e teremos confirmado o auto-didatismo oferecido pelo pedagógico em seus próprios elementos, dentro das leis biológicas que querem os planos reencarnatórios, em seus aspectos científicos naturais.

Se o processo científico que leva à intelectualização, é o fator de evolução, entendemos logo que, todo virtuosismo será um efeito dessa intelectualização, levada a termo pelo homem, no plano ainda terreno, o que culminará e confirmará o “em espírito e verdade” e “do Oriente e do Ocidente”.

Pretender o virtuosismo sem base na inteligência que desenvolve a ciência, é considerar o efeito como causa, o que é inviável. Virtuosismo é efeito. Ciência desenvolvida pela inteligência é causa.

 

 

(recebido por via mediúnica)